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sexta-feira, 26 abril, 2024

“Mortal Kombat” ganha nova adaptação cinematográfica barata e esquecível

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Criado pela dupla de programadores (e nerds) Ed Boom e John Tobias (sócios da finada Midway), “Mortal Kombat” (Combate Mortal, em tradução livre) é seguramente uma das franquias de jogos de luta de videogame mais populares de todo o mundo. O logotipo do dragão dentro da elipse é absolutamente inconfundível. Nasceu nos famigerados “árcades” (vulgo fliperamas) em 1992, chegando também aos consoles da época, feito o Super Nintendo. Com uma técnica inovadora para época, utilizando de uma captura de movimentos (primitiva para os dias de hoje) somada à um fotorrealismo digital, isso permitiu que o jogo entregasse justamente o que os fãs e os criadores tanto queriam: violência gráfica absolutamente exagerada. Ou seja, sangue, muito sangue. Envolto em muitas polêmicas (que obviamente catapultaram o game ao estrelato) com a falência da Midway, “Mortal Kombat” teve os seus direitos adquiridos pela gigante do entretenimento, a Warner Bros (que passou inclusive a produzir os jogos).

O primeiro Mortal Kombat, lançado para fliperamas e videogames, em 1992

A ideia de transformar o empolgante game em um filme não demorou a surgir e foi a Threshold Entertainment (com distribuição da New Line Cinema) que trouxe “Mortal Kombat – O Filme” para as telas de cinema em 1995. O primeiro filme, por fim foi dirigido por Paul W. S. Anderson (que alguns anos adiante comandaria os filmes da série “Resident Evil”, outra adaptação de games, que foi duramente criticada por fãs e pela imprensa especializada). O longa que custou US$ 18 milhões de dólares arrecadou os impressionantes (para a época) US$ 122 milhões e agradou bastante a legião de fãs (mesmo tendo uma classificação indicativa mais baixa e assim, amenizando justamente o sangue, marca registrada da franquia). A trilha sonora, embalada pela música-tema “Technno Syndrome”, do grupo The Immortals foi uma verdadeira avalanche nos anos 90. O longa teve uma sequência para o cinema, com outro diretor e outro elenco, em 1997 (Mortal Kombat: A Aniquilação), essa que foi duramente criticada e não trouxe sucesso financeiro ao estúdio. Mortal Kombat passou pelas animações, séries de tv mas por fim, nunca conseguiu ter um desempenho tão bom quanto nos jogos. Sempre se comentou e imaginou que Mortal Kombat poderia novamente ganhar as telas de cinema, com uma roupagem mais moderna e linguagem cinematográfica mais atualizada (afinal, o filme dos anos 90 é bastante datado, tanto em narrativa, quanto em efeitos especiais).

O primeiro longa-metragem de Mortal Kombat, de 1995. Jogo de videogame foi parar no cinema apenas 3 anos após de seu lançamento, tamanho sucesso na época

Finalmente, Mortal Kombat ganha em 2021 uma nova adaptação cinematográfica, pelas mãos da Warner Bros. Dirigido por Simon McQuiod, o filme recebeu a benção do estúdio para produzir um produto audiovisual para maiores (classificação indicativa de 18 anos), mas mediante aos riscos de um possível fracasso ou baixa bilheteria, tanto no cinema quanto nas visualizações pelo streaming (afinal, o longa abrangeria um público menor, deixando crianças e adolescentes de fora), o projeto só saiu do papel sob a condição de ter um corte justamente de orçamento (US$ 55 milhões, bem abaixo da média dos blockbusters hollywoodianos). Outra interferência do estúdio, foi o que o filme fosse protagonizado pelo lutador de MMA batizado Cole Young (vivido pelo desconhecido e pouco carismático Lewis Tan, personagem esse que não existe na franquia de jogos). A idéia dos produtores era justamente que fosse um filme vendável mesmo para os que não são consumidores dos jogos. Mas para mim, é justamente aqui que todos os problemas começam. E olha que não são poucos os problemas.

Na trama, o lutador fracassado Cole Young passa a ser perseguido pelo misterioso ninja Sub-Zero, ao mesmo tempo, que descobre que sua marca de nascença (uma cicatriz que emula o famigerado logotipo do jogo, citado no início do texto) tem relação com seus antepassados, uma história de vingança e um famoso torneio interdimensional que pode ditar as regras e o destino do planeta Terra: o lendário Mortal Kombat, obviamente. O elenco é absolutamente desconhecido do grande público (baixo orçamento, lembram?) com exceção de Hiroyuki Sanada (O Último Samurai) que faz uma “participação de luxo” em duas cenas, Chin Han (O Cavaleiro das Trevas) e Tadanobu Asano (dos filmes do Thor da Marvel Comics). O roteiro bagunçado e de ritmo apressado (logo, pouco desenvolvido) vai tentando ambientar a trama e apresentar personagens sem conseguir construir uma empatia verdadeira principalmente pelo protagonista (pouco carismático, lembra?) e sua família (que precisa de sua proteção). A limitação cênica de boa parte do elenco é completamente nítida e o longa que apostou na censura elevada, joga todas as suas cartas na mesa e faz sua grande aposta no que se diz respeito a violência, esquecendo assim, de praticamente todo o restante que faria algum sentido e traria algum estofo para dentro de um filme que conta a história de um torneio de artes marciais. Aliás, que torneio? Esse que dá título à franquia, acaba sendo empurrado para um próximo filme, apostando que o longa terá de fato outras sequências (o ator que vive Sub-Zero, por exemplo, já fechou contrato para mais 3 filmes).

O novo longa-metragem de Mortal Kombat, lançado simultaneamente nos cinemas dos Estados Unidos, assim como na HBO MAX, streaming da Warner Bros.

O baixo orçamento fica refletido também nos efeitos visuais, cenografia e valor de produção (elementos que deveriam encher os nossos olhos), muito aquém do potencial que teria um filme de um estúdio do porte da Warner Bros. (eu já falei do baixo orçamento, né?). Para mim, fica extremamente evidente a economia dos recursos no que se diz respeito principalmente à computação gráfica (uma cena em particular, com uma criatura toda feita em CGI, utiliza do recurso barato de ocorrer justamente no período da noite, maquiando assim, a falta de acabamento e textura do personagem). Esse filme teria disso bastante interessante e bem mais atrativo, caso tivesse sido lançando em VHS no ano de 2001, mas vale lembrar que estamos em 2021 e a concorrência não está para brincadeira. Nem o público. E nem os fãs, principalmente. As coreografias de luta também não impressionam, assim como os figurinos.


Por fim, Mortal Kombat (que chega aos cinemas brasileiros em 15 de Maio e estreou em 23 de Abril nos Estados Unidos simultaneamente nos cinemas e no HBO MAX) me entregou tudo que já havia me apresentado (com muitos indícios) pelo trailer: Pouca fidelidade ao game original (tirando uma homenagem ou outra), um orçamento baixíssimo para uma adaptação desse porte, roteiro ruim e elenco fraquíssimo. Tenho certeza absoluta que esse projeto (imaginando aqui pelo tamanho gigantesco da “fan base” dos jogos da franquia) merecia ser tratado com muito mais carinho (e muito mais verdinhas) pela dona Warner. Não tenho absolutamente nenhuma expectativa para conferir as possíveis sequencias, se elas assim ocorrerem, mediante o desempenho e retorno do filme. Verdadeiro “game over” na diversão de qualquer final de semana. Confira por sua conta e risco.

Felipe Gonçalves
Apresentador e colunista do Novo Dia Geek

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