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domingo, 5 maio, 2024

Assim como chegam, uma hora elas se vão

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Na história recente nunca houve uma pandemia como a atual. Mas no passado, outras doenças colocaram o mundo de cabeça para baixo. E algumas ainda estão entre nós

Estamos em meio a uma pandemia como nenhuma outra na história recente. Embora as pessoas depositem suas esperanças em uma vacina para dar fim a tudo isso, o fato é que a maioria das doenças infecciosas enfrentadas por nossos antepassados ainda estão entre nós. Algumas epidemias foram mais letais e conhecidas, como a peste bubônica, causada por uma bactéria e transmitida por pulgas que vivem em ratos e por gotículas respiratórias de pessoas infectadas.

O primeiro grande surto da peste aconteceu em 541 AC, e em dois mil anos matou centenas de milhões de pessoas. O surto de peste negra, de 1346 a 1353 é considerado mais mortal de todos. Ainda há gente morrendo disso, mas pouca gente.

Os números assustam. Mas é preciso entender que a população do mundo cresceu muito, o que leva a crer que o impacto de doenças no passado tenha sido muito maior quando a população era menor. Acredita-se que a doença, que causa inchaço e infecções nos nódulos linfáticos, foi finalmente controlada com uma quarentena rígida e melhorias das condições sanitárias, entre outras medidas.

Mas nada disso poderia ter ocorrido sem uma compreensão de como a doença é transmitida, diz Steven Riley, professor de dinâmica de doenças infecciosas no Imperial College London, na Inglaterra. Isso ainda é válido hoje em dia. “Uma vez que você tem o conhecimento e o compartilha, você é capaz de tomar medidas para conter a transmissão”, diz Riley. Mesmo assim, casos da peste ainda ocorrem, como, por exemplo, na Mongólia em julho do ano passado. No entanto, o número de casos permanece baixo, e a doença pode ser hoje tratada com sucesso com antibióticos.

Há a varíola, cujo primeiro surto aconteceu em 1520, e que vez ou outra reaparece. A doença, causada pelo vírus varíola minor, é uma das mais mortais conhecidas pelo homem. Ela causa pústulas repletas de fluido em todo o corpo e, no seu auge, chegou a matar três de cada dez pessoas infectadas. Pode ser transmitida por gotículas expelidas pelo nariz ou boca de uma pessoa infectada ou por meio de suas feridas. O vírus varíola minor não tem hospedeiros animais. Assim como a peste, a varíola matou centenas de milhões de pessoas, 300 milhões só no século 20.

Mas, graças à vacina desenvolvida pelo médico inglês Edward Jenner em 1796 e aos esforços da comunidade científica, a doença foi erradicada, ainda que se tenha levado quase dois séculos para isso. A varíola ainda é a única doença humana que foi erradicada dessa forma. Riley diz que isso foi um dos maiores feitos da humanidade, rivalizando com os pousos na Lua. Foi o maior retorno de investimento da história”, diz ele, em referência ao que o mundo economizou com a erradicação da doença.

A cólera é outra doença endêmica em países mais pobres. Vez ou outra aparecem surtos, mas a primeira grande pandemia de cólera aconteceu em 1817. A doença, causada por comida e água contaminada, matou milhões de pessoas em sete pandemias, segundo a Organização Mundial da Saúde. A bactéria Vibrio cholerae pode ser encontrada em alimentos e água contaminada.

Mas, embora a melhoria da higiene e do saneamento no Ocidente tenha eliminado a ameaça da doença, ela continua endêmica (ou comum) em muitos países de baixa renda e mata entre 100 mil e 140 mil pessoas todos os anos, de acordo com a OMS.

Pandemias de gripe foram mais frequentes. A maior aconteceu em 1918. A pandemia de influenza de 1918, também conhecida como pandemia de gripe espanhola, foi o surto mais grave da história recente, matando de 50 milhões a 100 milhões de pessoas no mundo. Assim como o novo coronavírus hoje, medidas de isolamento e quarentena contiveram a transmissão.

O vírus H1N1 causou a pandemia de gripe espanhola. Após duas ondas, entre 1918 e 1920, essa cepa específica do H1N1 tornou-se mais benigna e circula ainda hoje, com ciclos anuais.

A gripe de Hong Kong de 1968 matou 1 milhão de pessoas e ainda circula sazonalmente. Assim como a gripe suína, uma versão do vírus H1N1 que infectou 21% da população mundial em 2009. A gripe continua a ser uma ameaça pandêmica, diz Riley.

Nos anos 1980 surgiu a Aids, que chegou a ser considerada uma epidemia global pela Organização Mundial de Saúde. O vírus da imunodeficiência humana (HIV), transmitido por fluidos corporais, matou mais de 32 milhões de pessoas no mundo até agora.

O HIV ataca o sistema imunológico. O HIV pode ser considerado um vírus do pior cenário possível, diz Riley, devido ao tempo que uma pessoa infectada leva para desenvolver os sintomas e sua alta taxa de mortalidade. Ele se espalha rápido, porque as pessoas não sabem necessariamente que o têm.

No entanto, avanços nas técnicas de diagnóstico e campanhas globais de saúde pública, que mudaram o comportamento sexual e aumentaram a disponibilidade de seringas seguras para usuários de drogas, ajudaram a desacelerar o crescimento do número de infecções. Apesar disso, estima-se que 690 mil pessoas morreram de Aids em 2019, segundo a OMS.
Nos anos 2000 surgiram Sars e Mers, os coronavírus mais fáceis de serem contidos. A Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, ma sigla em inglês) foi a primeira epidemia mortal causada por um coronavírus e matou mais de 800 pessoas entre 2002 e 2003, segundo a OMS. O coronavírus da Sars, conhecido como Sars-Cov, foi identificado em 2003. Mas, já no fim de 2003, nenhum novo caso foi registrado, e a OMS declarou que o surto havia chegado ao fim.

Um pouco depois, veio a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers, na sigla em inglês), também causada por um coronavírus e que matou 912 pessoas. A maioria dos casos ocorreu na Península Arábica. Apesar do risco de contrair o vírus, conhecido como Mers-CoV, na maioria dos países seja muito baixo, esse risco ainda é elevado no Oriente Médio, onde humanos costumam ser infectados por camelos.

E agora é a vez da Covid-19, causada por um tipo de coronavírus. O Sars-Cov-2, como é conhecido esse vírus, é uma versão evoluída do vírus da Sars de 2003 e é considerado por especialistas em doenças como único, graças à sua gama de sintomas, que variam de inexistentes a mortais, e altos níveis de transmissão por pessoas sem sintomas ou antes de desenvolvê-los. “Por causa disso, muitos países não têm sido capazes de controlá-lo”, diz Riley. Mais de 1 milhão de pessoas já morreram até agora, mas o total será provavelmente muito maior.

A crise gerada pelo novo coronavírus é apenas a mais recente de uma longa série de pandemias causadas por patógenos emergentes, como vírus ou bactérias. E é bom lembrar que a maioria dos patógenos que as sociedades do passado enfrentaram ainda estão entre nós. As crises chegaram ao fim, mas os vírus e as bactérias que as causaram continuam circulando.

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