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segunda-feira, 13 maio, 2024

O que dizem as últimas pesquisas sobre como educar os filhos na era digital

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Três horas diárias nas redes sociais são associadas a uma incidência mais alta de problemas de saúde mental entre os adolescentes americanos de 12 a 15 anos. Não existe relação nenhuma entre o uso intensivo da tecnologia e doenças como ansiedade e depressão. O primeiro estudo foi publicado recentemente na revista científica JAMA Psychiatry e o segundo, dias depois, na revista Clinical Psychological Science.

Confuso? Bem-vindo à realidade dos pais e mães do século XXI. A tecnologia digital vem se insinuando em nossa vida há pelo menos três décadas, mas nada pode se comparar à transformação ocorrida nos últimos dez anos, com o boom dos smartphones. Não existem certezas sobre o que é uso saudável da tecnologia, e a realidade é que todos os pais são cobaias de um grande experimento da humanidade: criar a primeira geração global que cresce imersa no mundo digital. Poucos temas geram tanta ansiedade como o potencial impacto negativo das telas no desenvolvimento das crianças. E o que tira o sono dos pais não para por aí, é claro: da alimentação saudável ao bullying, da relação com o dinheiro à segurança, a lista das preocupações é longa — alguns dirão que é interminável.

A reportagem conversou com especialistas e consultou estudos acadêmicos para saber quais são as principais tendências no que diz respeito à criação dos filhos em duas das áreas que parecem gerar mais dúvidas hoje em dia: tecnologia e alimentação. Bom senso nunca fez mal a ninguém e orienta as decisões de pais e mães desde que o mundo é mundo. Mas existem ideias e técnicas que podem ajudar a navegar as águas turbulentas da criação dos filhos, de bebês de colo a adolescentes em plena erupção hormonal.

“Cresce nos EUA um movimento que sugere esperar até os 13 anos para dar o primeiro celular – mas não há um grande número de pesquisas sobre esse assunto”.

Os bebês de hoje crescem sob a mira das câmeras de celulares. A familiaridade com bits será essencial na educação e na vida profissional dos filhos. Mas qual é a hora certa para o primeiro contato? Segundo as mais recentes diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), nunca antes do primeiro ano de vida. E, para as crianças de 2 a 4 anos, o tempo de tela — seja na frente da TV, do computador, do tablet ou do celular — deve ser de uma hora por dia, no máximo.

“Não está claro se o uso intensivo das mídias digitais causa depressão ou problemas de saúde mental. Vários estudos sugerem que pode ser o caso, mas são necessários mais estudos para que tenhamos certeza. Porém isso não quer dizer que devemos ficar de braços cruzados”, escreveu num artigo recente Jean Twenge, professora de psicologia na Universidade Estadual de San Diego, na Califórnia, e autora de um livro sobre as crianças hiperconectadas. “Se tivéssemos esperado provas experimentais absolutas de que o cigarro provoca câncer de pulmão, poderíamos ainda estar aguardando para fazer alguma coisa.”

Uma parte da explicação é muito simples: quanto mais tempo as crianças passam sentadas olhando para uma tela, menos tempo estão brincando e se mexendo. Segundo a OMS, hábitos saudáveis de atividade física são estabelecidos desde muito cedo. “A primeira infância é um período de desenvolvimento rápido e uma época em que o estilo de vida da família pode ser adaptado para estimular a saúde”, segundo a OMS. Outra parte tem a ver com o desenvolvimento humano, especialmente nos primeiros anos de vida. “Temos de lembrar que as crianças aprendem brincando”, disse Peg Oliveira, diretora do Gesell Institute of Child Development, um dos centros de estudos sobre desenvolvimento infantil mais respeitados dos Estados Unidos. “Para uma criança na pré-escola, é muito mais importante brincar fora de casa do que ficar dentro de casa lendo.”

E os limites também se aplicam aos pais, especialmente aqueles cujos bebês ainda são pequenos. Nunca antes na história os pais dedicaram tanto tempo aos filhos. Mas nunca antes na história eles tiveram tantas distrações durante essa interação. De acordo com um levantamento do think tank Pew Research Center, quase 30% dos adultos americanos dizem estar on-line “quase o tempo inteiro”. “Os bebês respondem ao que chamamos de interações ‘saque e devolução’”, afirmou Oliveira. Gestos, olhares, sorrisos e abraços ajudam a formar as conexões neurais que sustentarão sua comunicação verbal e suas habilidades sociais.

Ler livros de papel para as crianças pequenas também tem vantagens em comparação com a leitura em tablets ou o uso de formatos multimídia, que contêm sons ou animações, de acordo com uma pesquisa publicada recentemente na revista científica Pediatrics. O uso de eletrônicos, até mesmo aparelhos como o Kindle, “gera menos engajamento das crianças com os pais”, disse Tiffany Munzer, especialista em pediatria comportamental e autora do estudo. Munzer sugere que o padrão de uso de tablets — normalmente individual e pessoal — possa ser uma das explicações. Além disso, os eletrônicos suscitam mais “comentários negativos, como ‘não aperte esse botão’”, afirmou a pesquisadora.

No caso dos pré-adolescentes, não há ciência no mundo capaz de convencer filhos de que seja cedo demais para que eles tenham seus próprios smartphones. E de fato essa é uma área que a ciência ainda não explorou. Não existe uma idade mágica a partir da qual a criança esteja pronta para lidar com os perigos que podem se esconder atrás da tela do celular. Um movimento que vem crescendo nos EUA sugere esperar até os 13 anos — em inglês, “wait until eighth”, ou espere até o oitavo ano, que equivale ao nono ano no Brasil. Carla Naumburg, assistente social e autora de quatro livros sobre os desafios de criar filhos, concorda com essa idade mínima. “Uma alternativa é dar um celular mais simples para que os filhos possam fazer ligações e trocar mensagens de texto”, afirmou Naumburg.

Outro assunto que gera angústia entre os pais — e desde muito antes de os computadores e celulares terem tomado conta de nossa vida — é a alimentação saudável. Os índices de obesidade quase triplicaram nos últimos 45 anos, segundo a OMS. De acordo com os dados mais recentes da organização, de 2016, há 41 milhões de crianças com menos de 5 anos acima do peso ou obesas. Entre as de 5 a 19 anos, o número era de 340 milhões no mundo todo. A formação de hábitos saudáveis para a vida toda começa muito cedo.

A comida tem estímulos sensoriais que vão além do sabor, como textura e temperatura. Uma das recomendações dos especialistas é usar mordedores para ajudar os bebês a se acostumar com esses outros aspectos da alimentação, disse a pediatra Hildy Lipner, do hospital Joseph M. Sanzari, de Nova Jersey. Os mordedores podem ser mergulhados em alguma comida para introduzir novos sabores ao paladar da criança desde os primeiros meses de vida.

Mas o problema inevitavelmente aparece a partir de 1 ano, quando as crianças começam a levar a comida à própria boca e a usar a hora das refeições para exercitar a recém-conquistada autonomia. Insistir, implorar ou forçar o bebê não faz diferença, segundo um estudo recente do Centro para Crescimento e Desenvolvimento Humano da Universidade de Michigan. A pediatra Julie Lumeng, autora do estudo, acompanhou 244 crianças americanas com idade entre 2 e 3 anos, comparando as táticas usadas pelos pais para fazê-las comer “direito”. “A pressão dos pais não tem efeito positivo nem negativo” sobre os hábitos alimentares das crianças, disse a pesquisadora.

Lipner recomenda a exposição repetida a alimentos saudáveis e variados, sempre incluindo algo que você sabe que a criança vai comer. Para as crianças um pouco maiores, a rotina de fazer refeições em família e o envolvimento na escolha dos alimentos no supermercado e na preparação da comida também têm efeitos positivos.

¬Outro ponto ressaltado pelos especialistas é a importância da linguagem. Usar termos negativos para falar de comida e enquadrar o assunto somente do ponto de vista do peso pode aumentar a probabilidade de que as crianças venham a sofrer transtornos alimentares mais tarde, além de causar problemas de autoestima e depressão. Alguns especialistas recomendam até mesmo evitar palavras como “regime” e “emagrecer”, por causa das conotações negativas e da associação exclusiva com a aparência física, não com a saúde.

No mês passado, a empresa Vigilantes do Peso causou furor nas redes sociais com o lançamento de um aplicativo chamado Kurbo, destinado especificamente a crianças e adolescentes. Especialistas e pais responderam com indignação — e 112 mil pessoas assinaram uma petição para que o app fosse abandonado pela companhia. A ideia central do programa é simples e se baseia num sistema de “semáforo”, usado com sucesso desde a década de 1980. Os alimentos são classificados de acordo com o valor nutricional e calórico: os alimentos “sinal verde” podem ser consumidos à vontade; os “sinal vermelho” são limitados.

A obesidade infantil é um problema que não pode ser ignorado e, do ponto de vista da nutrição, o método proposto pelo app é eficaz, como escreveram Elsie Taveras, da Universidade Harvard, e Michelle Cardel, do Florida College of Medicine. Mas esse tipo de aplicativo não deve mirar diretamente as crianças. Qualquer tipo de intervenção na alimentação deve ser sempre acompanhado pelos pais. Mais grave é o uso de fotos dos casos de sucesso. Ao definir êxito como mudança de aparência, e não como uma vida mais equilibrada e saudável, o programa aumentaria o estigma da obesidade e plantaria as sementes dos transtornos alimentares

Os especialistas recomendam paciência e perseverança e enfatizam a importância dos exemplos dos pais. Como disse Naumburg: “Não adianta esperar que os filhos larguem o celular se os pais estão vidrados na tela, assim como não é razoável esperar que eles comam bem se a família não tem hábitos saudáveis”.

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