Após o termo “cabeça de Ozempic” se tornar viral nas redes sociais, supostos novos efeitos colaterais do medicamento para diabetes têm ganhado popularidade nas últimas semanas, sendo denominados de “seios e bumbum de Ozempic”. Relatos nas redes sugerem uma redução no tamanho das nádegas e das mamas após o uso do remédio. Contudo, é válido questionar: esses efeitos são verídicos? E o que eles têm em comum?
Segundo o cirurgião plástico Thiago Morais, mudanças no contorno corporal e na mama têm sido observadas em pacientes que experimentaram um emagrecimento rápido devido ao uso do medicamento. Isso ocorre porque a semaglutida, o principal componente do Ozempic, auxilia na desaceleração do esvaziamento gástrico, prolongando a sensação de saciedade e, consequentemente, levando à perda de peso.
“O tecido mamário é composto por glândulas, mas também possui uma proporção significativa de tecido adiposo”, explica o especialista. “Algumas mulheres têm uma maior proporção de gordura do que de tecido glandular nas mamas. Portanto, quando elas utilizam o Ozempic, experimentam restrição alimentar e perdem peso rapidamente, resultando no esvaziamento desse compartimento de gordura mamária, o que leva à flacidez. É um efeito semelhante ao observado após cirurgia bariátrica”, completa.
O mesmo fenômeno pode ocorrer com o bumbum. “Os glúteos são compostos por músculos e células adiposas, que proporcionam sua sustentação. Quando as pessoas emagrecem rapidamente, ocorre uma perda de massa muscular e de volume das células de gordura nos glúteos. Isso significa que elas perdem duas formas de sustentação: a gordura e o músculo. Isso resulta em uma flacidez significativa”, explica a endocrinologista Elaine Dias J. K., PhD em endocrinologia pela USP e metabologista.
É esse mesmo emagrecimento acelerado que pode levar ao fenômeno conhecido popularmente como “cabeça de Ozempic”, caracterizado pela desproporção da cabeça em relação ao resto do corpo. Ricardo Barroso, endocrinologista e diretor da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional São Paulo), explica que isso está relacionado à perda de massa muscular causada pelo rápido emagrecimento.
“Essa questão da desproporcionalidade entre rosto e corpo ocorre devido à perda de massa muscular causada pelo rápido emagrecimento. Isso cria a sensação de que o resto do corpo está mais magro do que a cabeça. Portanto, tudo está relacionado à falta de massa muscular e à estrutura da composição corporal”, afirma o endocrinologista. Além disso, a rápida perda de peso também pode resultar em flacidez no rosto, uma condição apelidada de “rosto de Ozempic”.
Após emagrecimento, fiquei flácida. E agora?
Conforme explicado pela endocrinologista, em qualquer processo de emagrecimento – seja através do uso de medicamentos à base de semaglutida, dieta ou cirurgia bariátrica – é crucial preservar a massa muscular. “O ideal é emagrecer de forma gradual, garantindo uma ingestão adequada de proteínas e água, além da prática regular de atividade física. Em resumo, manter hábitos saudáveis é essencial”, orienta J.K.
Para isso, o acompanhamento de profissionais especializados, como nutricionistas, nutrólogos ou endocrinologistas, é fundamental para garantir um emagrecimento saudável. “O endocrinologista auxiliará no cálculo da dosagem da semaglutida para evitar uma perda de peso excessivamente rápida. É importante que essa perda de peso ocorra de forma gradual para minimizar os impactos na mama e no bumbum”, acrescenta Morais. “Nos casos em que os efeitos colaterais causam desconforto significativo ao paciente, cirurgias estéticas na mama e nos glúteos podem ser consideradas”, completa.
O resultado rápido do Ozempic
O Ozempic, um medicamento desenvolvido pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, é composto pela semaglutida, um análogo do hormônio GLP-1. Sua principal função é estimular a secreção de insulina pelo pâncreas, desempenhando um papel crucial na regulação dos níveis de glicose no sangue. No entanto, a semaglutida também tem a capacidade de aumentar a sensação de saciedade, o que pode contribuir para o processo de emagrecimento.
Além do Ozempic, existe outro medicamento à base de semaglutida indicado para o tratamento da obesidade, chamado Wegovy, que foi aprovado pela Anvisa em janeiro de 2023.
“Ambos os medicamentos são seguros para a perda de peso. A única diferença está na dosagem disponível. A caneta do Ozempic administra até 1 mg, enquanto a do Wegovy vai até 2,4 mg. Isso se deve ao fato de que estudos demonstraram que a semaglutida em doses mais elevadas é mais eficaz na perda de peso do que em doses de até 1 mg, como é o caso do Ozempic”, explica J.K.
A semaglutida atua diretamente estimulando a secreção de insulina pelo pâncreas, o que é benéfico para o tratamento do diabetes tipo 2. No contexto do emagrecimento, essa molécula retarda o esvaziamento gástrico, prolongando a sensação de saciedade. Além disso, o análogo do GLP-1 também exerce efeitos sobre o sistema nervoso central, atuando nas vias de regulação do apetite.
Efeitos colaterais
Em comunicado anterior à reportagem, a Novo Nordisk declarou que não apoia a divulgação de informações sobre seus medicamentos que vão além das orientações contidas na bula, tampouco a prática da automedicação.
A empresa enfatiza que os efeitos adversos são resultados diretos do uso do medicamento e não necessariamente indicam gravidade ou são considerados prejudiciais. De acordo com a Novo Nordisk, distúrbios gastrointestinais, como náuseas, foram os efeitos adversos mais comuns relatados, sendo a maioria de intensidade leve e não levando à interrupção do tratamento.
A empresa também destaca a importância de os pacientes buscarem acompanhamento médico para lidar com os efeitos colaterais. Recomendações como consumir porções menores, parar de comer quando sentir-se satisfeito, evitar alimentos fritos e gordurosos, manter-se hidratado e evitar o consumo de álcool podem ajudar a minimizar essas reações, segundo a Novo Nordisk.
