500 mil contas do serviço de videoconferências Zoom vazadas em abril de 2020. 243 milhões de dados vazados do Ministério da Saúde no final de 2020. Em 2021, 223 milhões de brasileiros (inclusive falecidos) tiveram dados vazados de uma fonte desconhecida. Mais recentemente, 8,4 bilhões de senhas teriam sido supostamente vazadas (a veracidade dos dados e o impacto do vazamento ainda estão sendo apurados).
Esses números representam apenas parte dos vazamentos dos últimos meses, e é bem provável que você, leitor, tenha algum dado inserido nesse bolo de informações digitais à disposição de criminosos.
A responsabilidade pela guarda e proteção desses dados, é daquele que os coleta para alguma finalidade (como empresas, profissionais liberais, órgãos públicos, etc.), e se o vazamento puder ser diretamente atribuído a alguém ou empresa, estes poderão ser civilmente responsabilizados, mesmo que as multas previstas na Lei Geral de Proteção de Dados ainda não estejam sendo aplicadas.
Mas, algumas medidas podem ser tomadas pelo usuário e pelo consumidor para evitar maiores danos decorrentes desses vazamentos.
Cuidado com suas senhas
Hoje, guardamos o mundo em computadores, smartphones, serviços de email, nuvem e redes sociais, e todos esses aparelhos e serviços são protegidos por uma senha pessoal.
Mas de nada adianta uma senha que não é segura.
Procure não repetir a mesma senha em diversos sites (e troque-as com frequência), evite criar senhas com dados pessoais, como datas de nascimento ou nomes de familiares (afinal, os criminosos possivelmente têm acesso a esses dados), nunca salve as senhas no navegador de internet (como o Google Chrome), e sempre utilize uma variação de diversos caracteres (como letras, números e símbolos).
Se você tiver dificuldades em lembrar as senhas, procure por softwares que possam te auxiliar nisso, como os “cofres de senhas”, disponíveis nas lojas de aplicativos de smartphones.
Atenção no uso do WhatsApp
Você já deve ter ouvido falar no método campeão de golpes e fraudes atualmente, que é a clonagem de WhatsApp.
O criminoso, fingindo ser uma determinada pessoa ou empresa, entra em contato com a vítima e confirma alguns dados, como nome, profissão e interesses (tudo obtido através de vazamentos), e diz que vai enviar um código via SMS para alguma finalidade específica (pode alegar ser a confirmação em um evento, o recebimento de um prêmio ou, mais recentemente, o agendamento de vacinas).
Mas tudo não passa de uma fraude e, ao compartilhar esse código com o criminoso, a vítima fornece total acesso à sua conta de WhatsApp, facilitando a vida do golpista.
Para evitar essa situação, nunca compartilhe códigos recebidos via SMS ou confirme dados pessoais se não tiver certeza de quem é que está do outro lado da linha. Além disso, ative a confirmação em duas etapas no WhatsApp, garantindo que só você possa ter acesso à sua conta.
Atualize aplicativos e sistemas (e não use software pirata)
Outro erro comum da vida digital é deixar de atualizar celulares e computadores pelo medo de que os dispositivos fiquem lentos. O que pouca gente se atenta, é que muitas dessas atualizações servem justamente para corrigir falhas de segurança e vulnerabilidades do sistema.
Portanto, mantenha seus aparelhos atualizados e sempre utilize aplicativos e programas originais.
Trate a vida online com mais cuidado do que a vida offline
Da mesma forma que tomamos cuidado ao andar na rua, mantendo bolsas e mochilas junto ao corpo e guardando celulares e carteiras nos bolsos da frente, temos que manter alguns cuidados quando conectados.
Desconfie de ofertas ‘boas demais para serem verdade’ (pois normalmente são mesmo), não clique em links suspeitos (tanto em redes sociais como em e-mails), e não passe informações se não tiver certeza de quem irá receber esses dados.
Com essas medidas, ainda que os criminosos tenham acesso a seus dados, é possível evitar a maioria dos golpes e fraudes decorrentes desses vazamentos.
E se o golpe já ocorreu?
A maioria das denúncias de crimes digitais pode ser realizada através da Delegacia Eletrônica da Polícia Civil (https://www.delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br/), e se o problema envolver também o vazamento de dados, é possível entrar em contato com a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) através do site https://www.gov.br/anpd/pt-br/canais_atendimento.
Fábio Juliate Lopes é advogado criminalista e especialista em Ilícitos Cibernéticos