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terça-feira, 21 maio, 2024

Exame de sangue pode antecipar possibilidade de apneia obstrutiva do sono

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Medir os níveis sanguíneos de um aminoácido conhecido como homocisteína pode ser um indicador antecipado do risco de uma pessoa desenvolver apneia obstrutiva do sono – uma condição marcada por interrupções frequentes na respiração devido ao relaxamento dos músculos da garganta durante o sono. Além disso, este exame simples pode auxiliar os médicos na previsão do agravamento do distúrbio em pacientes já diagnosticados com formas leves ou moderadas da condição.

Os resultados provêm de uma pesquisa realizada por cientistas do Instituto do Sono e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com respaldo da FAPESP. Os achados foram publicados em abril no European Archives of Oto-Rhino-Laryngology.

“Ainda não determinamos se é a apneia que ocasiona o aumento da homocisteína no sangue ou se é o elevado nível desse aminoácido que agrava a apneia. Nossa suposição é que exista uma correlação bidirecional”, explica Monica Levy Andersen, docente da Unifesp e líder da pesquisa.

“Seria benéfico que mais profissionais da medicina, de todas as especialidades, considerassem a inclusão deste exame no check-up de pacientes com mais de 40 anos. É uma medida simples que não sobrecarrega o SUS [Sistema Único de Saúde]. Os resultados poderiam, no mínimo, fornecer mais insights sobre essa correlação”, argumenta a pesquisadora.

A homocisteína tem sido uma preocupação entre os cardiologistas há bastante tempo, visto que há evidências sólidas de que níveis elevados da substância – acima de 15 micromol por litro de sangue (µmol/l) – podem provocar alterações na parede dos vasos sanguíneos, aumentando o risco de doença coronariana, trombose, infarto e até acidente vascular encefálico (AVE), também conhecido como AVC (acidente vascular cerebral).

“A carência de vitaminas do complexo B – especialmente B6, B9 e B12 – pode predispor a um quadro de hiper-homocisteinemia. Consumir alimentos ricos nesses nutrientes ou até mesmo recorrer à suplementação pode ser uma estratégia para regular os níveis desse aminoácido no sangue”, explica Vanessa Cavalcante-Silva, pós-doutoranda na Unifesp e principal autora do estudo.

Epidemiologia do sono

Sob a liderança do professor da Unifesp Sergio Tufik, está em curso há mais de 15 anos o Estudo Epidemiológico do Sono (Episono), cujo propósito é avaliar a qualidade do sono e o impacto dos distúrbios do sono na saúde de uma amostra representativa da população de São Paulo. Conforme os dados do Episono 2007, divulgados anteriormente pelo grupo em outro estudo, 42% dos residentes na cidade de São Paulo relataram roncar três vezes por semana ou mais, enquanto quase 33% foram diagnosticados com apneia do sono.

Além das possíveis repercussões familiares causadas pelo ruído durante o sono e dos problemas de concentração e memória associados à privação de sono, a apneia pode acelerar o envelhecimento celular e aumentar o risco de várias doenças, incluindo hipertensão, diabetes e insuficiência cardíaca (leia mais em: agencia.fapesp.br/41898).

Para investigar a possível correlação entre esse distúrbio e os níveis sanguíneos de homocisteína, a equipe liderada por Andersen selecionou uma amostra de voluntários do Episono submetidos à avaliação do índice de apneia e hipopneia (IAH). Medido por meio do exame de polissonografia, esse índice representa o número de eventos respiratórios (obstrução parcial ou total da respiração) registrados por hora e é um dos parâmetros utilizados para determinar a gravidade da doença.

“Considera-se normal até cinco eventos por hora. De cinco a 15, é considerada apneia leve; de 15 a 30, apneia moderada; e acima de 30, apneia grave”, explica Cavalcante-Silva.

Inicialmente, a equipe analisou o IAH de 854 voluntários que participaram do Episono em 2007. Destes, 54,4% não apresentavam apneia, 24,4% tinham um quadro leve, 12,4% moderado e 8,8% grave. Esses participantes também foram categorizados com base nos níveis de homocisteína no sangue, com valores considerados normais até 10 µmol/l, moderados de 10 a 15 µmol/l e elevados acima de 15 µmol/l.

“Ao cruzar os dados, observamos que os voluntários com níveis elevados de homocisteína também apresentavam um IAH mais alto. Aqueles com valores acima de 15 µmol/l apresentaram um aumento médio de 7,43 no IAH em comparação com aqueles com níveis abaixo de 10 µmol/l”, revela a pós-doutoranda. A influência de fatores como peso, sexo biológico e idade foi ajustada por meio de métodos estatísticos.

Num segundo momento, foram analisados dados de uma reavaliação realizada em 2015 com os mesmos voluntários. Como parte do grupo não pôde participar dessa nova fase do Episono, a amostra dessa segunda fase abrangeu 561 pessoas. O índice daqueles sem apneia havia caído para 29,8%. A proporção de participantes com quadro leve aumentou para 31,2%, enquanto a de moderados passou para 19,4% e outros 19,6% foram diagnosticados com apneia grave.

“Nesse caso, o objetivo foi determinar se a homocisteína seria um fator de risco para o desenvolvimento de apneia. Para isso, excluímos os participantes que já tinham a doença em 2007 e analisamos os dados daqueles que na época apresentavam sono normal. Nesse subgrupo, observamos que um aumento unitário (1 µmol/l) nas concentrações de homocisteína em 2007 representou um aumento de 0,98% no risco de diagnóstico de apneia em 2015”, explica Cavalcante-Silva.

“É um risco relativamente baixo, mas existe. O fato é que apresentamos um fator novo, simples de medir e com implicações clínicas e práticas”, comenta Andersen. “Seria interessante agora realizar um estudo com um formato diferente, no qual os participantes sejam avaliados anualmente, para obtermos dados mais abrangentes.”

O artigo “Homocysteine as a predictor of apnea-hypopnea index in obstructive sleep apnea: a longitudinal epidemiological study (Episono)” pode ser acessado em: https://link.springer.com/article/10.1007/s00405-024-08614-z.

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