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sábado, 25 maio, 2024

Prorrogar campanha e adiar eleições é fortalecer a democracia

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Quanto menos recursos e menos tempo de campanha, menos debate político. Quanto menos debate político, menor a representatividade. Onde não há construção orgânica de representatividade social, os fluxos da esperança cidadã estão interrompidos. Quanto menor a representatividade, menos democracia.

Representatividade débil produz democracia tíbia. Democracia fraca produz projetos de ditaduras que se coletivizam como fogo em palha seca via redes sociais. Corações populares secos de esperança e representatividade são campo fértil para a revolta.

Por conta das frustrações recentes na vida pública nacional, talvez tenhamos nos esquecido que campanhas eleitorais são momentos de debates e de celebração da democracia e da representatividade… De canalização e catalisação de demandas e necessidades.

Com certeza, o TSE terá o espírito garantidor desse direito fundamental do cidadão que é o acesso à democracia. Penso que o tribunal tomará, em breve, a decisão de adiar o 1º turno das eleições municipais para novembro, o que ofereceria aos candidatos a possibilidade de cultuarem a democracia por meio da campanha eleitoral plena a que tem direito.

Hoje em dia, como única forma de contato com o eleitor nas pré-campanhas das eleições municipais, a campanha on-line é a mediatização completa e absoluta das relações candidatos e eleitores. Será que essa “tele-relação”, essa comunhão à distância, é o suficiente para atar os laços de compromisso de que necessita o cidadão para sensibilizar o ente político de suas necessidades e energizá-lo para sua consecução quando do exercício do mandato? Será que esse novo modelo não fere de morte a qualidade da representação pelo evidente distanciamento que se estabelece entre as partes promotoras da democracia representativa? Não estaríamos assassinando esperanças neste frio processo que estamos por estabelecer?

As respostas são óbvias. Hoje, sabemos que os comícios, as panfletagens, as reuniões de bairros, os carros de som, os bandeiraços, as passeatas, o corpo a corpo, o pé no barro, as visitas domésticas, os abraços e os apertos de mão na praça são a própria pulsação do processo democrático nas eleições municipais e, porque não, nas legislativas estaduais e federais. Deixar estas campanhas eleitorais perderem a pulsação das ruas pode custar muito caro à nossa democracia. Depois não adianta reclamar do surgimento de camadas sociais clamando por ditadura, já que o povo vem sendo afastado da festa democrática e do contato com os candidatos.

Desaproximar o político da população é infectar a democracia do “coronavício” do distanciamento, do desinteresse, da desimportância. Quando as populações não se interessarem mais pela política, o espaço público terá acabado e a comunhão social será substituída definitivamente pelos radicalismos e pelas bolhas epistêmicas de causas identitárias opostas.

A responsabilidade da justiça eleitoral em um primeiro momento, e do Congresso Nacional em segundo, é muito grande. Será que estão enxergando a anemia profunda em que se encontra nossa democracia e como as eleições municipais são importantes para revertermos esse processo?

Eleições municipais são as pernas do corpo equilibrista da nossa democracia. São as raízes do tronco da liberdade. Não deixemos que morra esturricada pela falta d’água da atenção das instituições e dos poderes constituídos na federação. Candidatos a vereadores e prefeitos são a encarnação das esperanças próximas do cidadão e, além da decisão sobre a postergação, paira ainda sobre eles a imensa dúvida sobre se os recursos do fundo eleitoral dos partidos vão chegar aos rincões.

É certo que valorizar as eleições municipais é oxigenar a democracia. Uma eventual desatenção do judiciário e do legislativo federal com as eleições municipais desse ano e dos próximos, pode custar muito caro em um futuro não muito distante. Como certa vez disse um bom político: “as pessoas não vivem no país e nos estados, as pessoas vivem nas cidades”.

Para quem ama a democracia, vale realçar o que nos mostrou o poeta: todo artista tem de ir aonde o povo está. Se foi assim, assim será: na estrada de terra, na boleia do caminhão.

JOÃO MIRAS
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