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quinta-feira, 16 maio, 2024

Coronavírus expõe racha entre evangélicos no Brasil

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Cultos religiosos, que costumam receber centenas ou até milhares de pessoas, podem se transformar em local de transmissão em massa – assim como jogos esportivos, protestos e festas. O teólogo Kenner Terra, do Espírito Santo, teve de lidar com uma enxurrada de críticas e comentários agressivos de outros evangélicos quando publicou um texto defendendo o isolamento social para combater o coronavírus.

Coordenador do Fórum Evangelho e Justiça no Espírito Santo, Terra é pastor de uma igreja batista que está entre as que defendem as medidas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde para evitar a disseminação da covid-19.

Em contraste com líderes evangélicos conhecidos que vieram a público criticar o isolamento e defender a abertura das igrejas, diversos pastores das mais diferentes denominações defendem a suspensão de cultos presenciais e estão promovendo cultos online, enviando cartas e promovendo eventos e debates na internet sobre a importância dos cuidados diante da pandemia.

As igrejas estão divididas. De um lado líderes que defendem o fim do isolamento, a manutenção dos templos abertos e os cultos presenciais — destes, alguns até entraram em disputa com o Ministério Público do Rio de Janeiro pelo direito de manter as igrejas abertas. Do outro lado, líderes que fecharam os templos, fazem cultos online e pedem que os fiéis orem em casa.

Para teólogos e sociólogos evangélicos, essa divergência sobre o coronavírus expõe uma divisão nesse grupo religioso que se acentuou durante os últimos anos, à medida que o presidente do país, Jair Bolsonaro, assumia, cada vez mais, uma aura de autoridade religiosa.

Eles dizem que, do lado dos que minimizam a ameaça da crise, estão, em geral, grupos que se alinham com o projeto bolsonarista e o acompanham na forma de lidar com a pandemia; de outro, estão grupos que não aderiram ao que Kenner Terra chama de bolsorreligiosidade.

Mas a situação embaralhou as divisões clássicas que normalmente se fazem dos evangélicos — entre os grupos de heranças protestantes mais tradicionais (como metodistas, batistas e presbiterianos) e os neopentecostais e pentecostais (igrejas como a Assembléia de Deus e a Universal). Ou seja, não é possível separar a postura por tradição religiosa — dentro desses segmentos há uma divisão. Na igreja metodista, por exemplo, que em geral têm defendido o isolamento, há líderes divergentes.

A pesquisadora metodista Magali Cunha, do grupo Comunicação e Religião da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), explica que são esses líderes mais midiáticos — nomes como Silas Malafaia (da Assembleia de Deus Vitória em Cristo) e Edir Macedo (Igreja Universal do Reino de Deus) — que têm sido os mais vocais na crítica às medidas de isolamento e mais negacionistas em relação à ameaça representadas pelo coronavírus.

Macedo compartilhou um vídeo em que dizia que o coronavírus não era uma grande ameaça. “Meu amigo e minha amiga, não se preocupe com o coronavírus. Porque essa é a tática, ou mais uma tática, de Satanás” dizia ele.

A Frente Parlamentar Evangélica também defendeu que as igrejas fiquem abertas. “É fundamental que os templos, guardadas as devidas medidas de prevenção, estejam de portas abertas para receber os abatidos e acolher os desesperados”, disse o grupo em nota emitida há algumas semanas. “A fé ajuda a superar angústias e é fator de equilíbrio psicoemocional”, afirma a bancada.

A Igreja Universal disse em nota que serviços religiosos foram considerados essenciais por decreto presidencial e que está tomando medidas de cautela sanitária, como oferecer álcool em gel e pedir para que os fiéis sentem longe uns dos outros nos locais onde os cultos ainda estão sendo realizados — eles foram suspensos em alguns estados.

Segundo os analistas, há um setor, que inclui esses líderes, para quem a questão econômica é uma das motivações para a hesitação diante das medidas de isolamento. “Há um medo das igrejas, porque a entrada financeira acontece principalmente nos cultos presenciais, há o risco da entrada ser menor, e há uma série de compromissos financeiros, aluguel dos templos, salários dos pastores, etc”, afirma Kenner Terra.

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