Editorial: O crime compensa, e muito

Está na hora de esquecermos Ruy Barbosa pregando honestidade. Melhor mesmo é ser bandido. Bandido de qualquer ramo. Vale tudo – colarinho branco, estelionato, assalto, apropriação indébita, peculato… O importante é passear pelo Código Penal e encontrar alguma coisa que se ajuste à necessidade.
Além de ser complacente com a bandidagem, a Justiça agora quer privilegiar mais um pouco os fora-da-lei. Há razões de sobra para mudarmos de lado. Comecemos com os adolescentes. Menores de 16 anos são proibidos de trabalhar. Solução: se tornar aviãozinho do tráfico e assaltar. Impunidade garantida por conta de um caduco e imbecil  Estatuto da Criança e do Adolescente.
Trabalhador não pode ter arma para defender a família. Se tiver, é preso e jogado numa masmorra qualquer por porte ilegal de arma. Cabe ao Estado defender o trabalhador. Mas o Estado não defende ninguém. O Estado sucateou a Polícia há muito tempo. Bandido pode ter arma, e da boa. Sendo bandidos, nem precisaremos nos preocupar com os enferrujados revólveres 38 ou com as pistolas da Taurus que engasgam toda hora.
Teremos AR-15 e AK-47 à vontade. Com tais armas, poderemos assaltar bancos e carros blindados. Não precisaremos nos preocupar com o IPVA, pois roubaremos carros para assaltos e passeios. Formaremos um bando bem organizado, aos moldes da Máfia, para traficar drogas.
Se formos presos, teremos direitos mais que garantidos. Teremos vísita íntima de nossas mulheres, amantes ou namoradas sem precisar bancar apartamento para encontros, sem pagar motel, e sem risco de sermos assaltados num motel. A cadeia é lugar seguro garantirão nossos parceiros de bandidagem.
Se a comida não for boa, se o colchão não for o ideal, melhor ainda. Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou, assinou, tornou lei o seguinte: todo o sujeito que estiver preso, e que a cadeia não tenha boas condições, precisará ser indenizado pelo governo. Olha só a vantagem: ser indenizado, como foram as famílias dos bandidos mortos nas recentes rebeliões. Sai mais barato do que pagar seguro de vida.
Se alguns de nós não tiver inclinação para a violência, podem ser da turma do colarinho branco. Os mais audaciosos poderão se eleger deputados e desfrutar das mordomias típicas de um paxá. Os mais talentosos poderão criar esquemas para desviar dinheiro público. Nada vai acontecer. No máximo, uns 15 ou 20 dias em Curitiba, por conta do Sérgio Moro, e depois a doce vida de milionários.
Vamos acordar de vez. Não dá para ser sério e honesto numa republiqueta de bananas como a nossa. Não dá para ser honesto num lugar onde pessoas morrem nas filas de hospitais, morrem por falta de médico ou remédios porque não há dinheiro para isso. Ou melhor, havia, mas foi roubado.
Não dá para levar a sério os dignos e excelentíssimos ministros do STF que mandam indenizar presos por não viverem em “condições dignas”. E as favelas, são condições dignas? A superlotação de hospitais é condição digna? O transporte público sucateado pela ganância de empresários com a conivência dos políticos, é condição digna?
Ser extorquido pelo governo, que só pensa em mais impostos, mais dinheiro (para roubá-lo depois) é caminho para uma condição digna? Melhor mesmo ser bandido. Sem pagar um centavo de imposto e ainda tirando dinheiro sem precisar trabalhar. Acreditemos: o crime compensa.
Você pode até não concordar com tudo isso. É seu direito. Mas dá uma olhadinha no noticiário: o deputado Jair Bolsonaro, que é bem radical, bem de direita, está bem cotado nas pesquisas para a Presidência da República. Está na frente de figurões como Aécio Neves, Marina Silva e Geraldo Alckmin. Só perde para o ex-presidente Lula. No caso, para um bandido.