Uma pesquisa realizada pela Vidalink, empresa especializada em bem-estar corporativo, revelou que 31% dos trabalhadores brasileiros não adotam nenhuma medida para cuidar da saúde mental. Esse índice representa um aumento em relação ao ano passado, quando o percentual era de 29%, conforme a primeira edição do estudo. O levantamento foi feito no primeiro semestre de 2024.
Esta é a segunda edição da pesquisa “Check-up de Bem-Estar”, que contou com a participação de 10.300 colaboradores de 220 empresas. O estudo revelou uma disparidade no cuidado com a saúde mental, especialmente entre os diferentes grupos raciais. Enquanto 36% dos trabalhadores pretos e pardos afirmam não tomar nenhuma atitude para cuidar da saúde mental, o índice é de 26% entre os brancos e 24% entre pessoas de outras etnias.
Entre as mulheres que não tomam nenhuma medida para cuidar da saúde mental, o percentual de pretas e pardas chega a 46%, enquanto entre as brancas esse número é de 33%.
Atividade física, terapia e medicamento
O levantamento também revelou as diferenças nas abordagens para o cuidado com a saúde mental entre as gerações. Na geração Z (18 a 27 anos), 23% das mulheres afirmam fazer terapia, enquanto entre os homens esse percentual é de 10%. Na geração X (44 a 59 anos), 29% das mulheres praticam exercícios físicos, contra 49% dos homens.
Na geração “baby boomer” (60 a 78 anos), 28% das mulheres utilizam medicamentos para a saúde mental, enquanto o percentual entre os homens é de 27%.
Para González, o tratamento da saúde mental deve ser abordado de maneira holística. “A prática de atividades físicas é fundamental, mas deve ser complementada com acompanhamento psicológico e, quando necessário, medicação. Além disso, pausas para atividades terapêuticas que aliviem a pressão do dia a dia também são essenciais”, enfatiza.
Consequências
A psicóloga Gisele Caleffi explica que a falta de cuidados com a saúde mental está relacionada a fatores como a pressão no trabalho, agendas sobrecarregadas e a falta de recursos financeiros.
“A hiperprodutividade, a falta de apoio e os receios relacionados ao processo de autoconhecimento são desafios reais. ‘Não fazer nada’ pode ser um forte indicador de adoecimento futuro ou refletir um sofrimento já existente, que muitos ainda têm dificuldade em reconhecer”, explica.
Entre os fatores que podem contribuir para o adoecimento mental dos trabalhadores, segundo Caleffi, estão:
- Hipervalorização da produtividade: a cultura do “cansaço” desencoraja o descanso e aumenta os casos de burnout;
- Falta de segurança psicológica: a ausência de um ambiente seguro para discutir questões como sobrecarga de trabalho e preconceito agrava o adoecimento;
- Estigma e preconceito: mesmo com maior visibilidade, ainda há desinformação e preconceito sobre saúde mental, dificultando o acesso a apoio;
- Liderança e relações tóxicas: líderes negativos e relações abusivas afetam diretamente o bem-estar dos colaboradores no dia a dia de trabalho;
- Dificuldade financeira: a dificuldade financeira ainda é o principal entrave para o bem-estar. Os gastos com medicamentos, por exemplo, representam em média cerca de 46% do total de despesas de saúde dos brasileiros, de acordo com estudo do Banco Mundial.
Além desses aspectos, a segurança psicológica é outro fator crucial e um desafio para promover a saúde mental no ambiente de trabalho, especialmente entre grupos socialmente minorizados.
De acordo com um levantamento da startup Lupa, 79% dos trabalhadores se sentiram desmotivados profissionalmente por não se sentirem pertencentes ao ambiente de trabalho. Além disso, 80% afirmam já ter sido vítimas ou testemunhas de situações de discriminação, preconceito ou assédio. Mais da metade (54%) dos entrevistados indicam que sua saúde mental piorou após começar a trabalhar em empresas com essas condições.
Para González, as empresas precisarão revisar suas abordagens sobre saúde mental. “Embora o tema tenha ganhado mais visibilidade, ele ainda não é tratado com a profundidade necessária. As empresas precisam garantir que seus colaboradores tenham acesso aos benefícios adequados e criar ambientes de trabalho onde se sintam seguros para discutir suas dificuldades”, afirma.