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sexta-feira, 18 outubro, 2024

Pela primeira vez, o ciclo da água no planeta está desregulado

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Relatório histórico revela que a humanidade desestabilizou o ciclo global da água pela primeira vez, gerando uma crise hídrica que afetará economias e a produção de alimentos.

Décadas de exploração insustentável da terra e má gestão dos recursos hídricos se uniram à crise climática provocada pelo ser humano, gerando um “estresse sem precedentes” no ciclo global da água, segundo um relatório divulgado na quarta-feira (16) pela Comissão Global sobre a Economia da Água, composta por líderes e especialistas internacionais.

O ciclo da água é um sistema complexo que descreve como a água se movimenta pelo planeta. A água evapora de superfícies como lagos, rios e vegetação, subindo para a atmosfera, onde se forma em grandes correntes de vapor que podem percorrer longas distâncias. Depois, essas correntes esfriam, se condensam e retornam ao solo como precipitação, seja na forma de chuva ou neve.

As mudanças no ciclo da água já estão gerando sérias consequências. Quase 3 bilhões de pessoas enfrentam a escassez hídrica. As plantações estão se deteriorando e as cidades estão afundando à medida que os lençóis freáticos secam.

As consequências se tornarão ainda mais devastadoras se não houver uma ação urgente. A crise hídrica ameaça mais de 50% da produção global de alimentos e pode levar a uma redução média de 8% no PIB dos países até 2050. Para países de baixa renda, as perdas podem ser ainda mais significativas, chegando a 15%, conforme apontado no relatório.

“Pela primeira vez na história da humanidade, estamos levando o ciclo global da água a um estado de desequilíbrio”, afirmou Johan Rockström, co-presidente da Comissão Global sobre a Economia da Água e autor do relatório. “A precipitação, que é a fonte de toda água doce, não pode mais ser considerada uma certeza.”

O relatório faz uma distinção entre “água azul”, que se refere à água líquida encontrada em lagos, rios e aquíferos, e “água verde”, que é a umidade armazenada em solos e plantas.

Apesar de o fornecimento de água verde ter sido frequentemente ignorado, o relatório enfatiza que ela é tão essencial para o ciclo da água quanto a água azul. Isso porque a água verde retorna à atmosfera quando as plantas liberam vapor, gerando cerca de metade da precipitação que cai sobre a terra.

As perturbações no ciclo da água estão “profundamente interligadas” às mudanças climáticas, conforme constatado no relatório.

Um suprimento consistente de água verde é crucial para sustentar a vegetação que armazena carbono e, assim, ajuda a mitigar o aquecimento global. Entretanto, a destruição de ecossistemas, como áreas úmidas e florestas, está reduzindo esses sumidouros de carbono e acelerando as mudanças climáticas. Por sua vez, o aumento das temperaturas devido às mudanças climáticas está secando paisagens, diminuindo a umidade e elevando o risco de incêndios.

A crise da água se torna ainda mais premente diante da crescente demanda. O relatório estima que, em média, cada pessoa necessita de cerca de 4.000 litros de água por dia para viver de forma digna — um número significativamente superior aos 50 a 100 litros considerados necessários pelas Nações Unidas para atender às necessidades básicas, e mais do que a maioria das regiões consegue fornecer a partir de fontes locais.

Richard Allan, professor de ciência do clima na Universidade de Reading, na Inglaterra, comentou que o relatório “retrata um cenário preocupante da perturbação causada pela atividade humana no ciclo global da água, o recurso natural mais vital para a nossa sobrevivência”.

As ações humanas “estão alterando a estrutura da terra e a atmosfera, contribuindo para o aquecimento do clima, intensificando tanto os extremos de chuva quanto os de seca, e desorganizando os padrões de vento e precipitação”, acrescentou Allan, que não participou do relatório.

Ele destacou que a solução para essa crise depende de uma gestão mais eficiente dos recursos naturais e de cortes significativos na poluição que contribui para o aquecimento global.

Os autores do relatório afirmam que os governos mundiais devem reconhecer o ciclo da água como um “bem comum” e tratá-lo de maneira colaborativa. Isso se deve ao fato de que os países estão interconectados, não apenas por meio de lagos e rios que cruzam fronteiras, mas também devido à água na atmosfera, que pode se deslocar por grandes distâncias — ou seja, as decisões tomadas em um país podem impactar a precipitação em outro.

O relatório sugere uma “mudança fundamental” na forma como a água é integrada às economias, incluindo uma melhor precificação para desencorajar o desperdício e o cultivo de culturas que consomem muita água, como centros de dados, em regiões onde há escassez hídrica.

“A crise global da água representa uma tragédia, mas também é uma oportunidade para transformar a economia da água”, declarou Ngozi Okonjo-Iweala, diretora-geral da Organização Mundial do Comércio e co-presidente da comissão que elaborou o relatório. Ela ressaltou que valorizar adequadamente a água é crucial “para reconhecer sua escassez e os diversos benefícios que ela proporciona”.

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