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segunda-feira, 8 julho, 2024

Estudo revela que mulheres negras têm o dobro do risco de mortalidade no pós-parto

Um estudo publicado em junho na Revista de Saúde Pública revela que mulheres negras enfrentam quase o dobro do risco de mortalidade durante o parto ou no período pós-parto, em comparação com mulheres pardas e brancas. Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) destacam que essa vulnerabilidade pode ter impactos significativos na saúde materna do grupo.

Os pesquisadores afirmam que os resultados do estudo evidenciam o impacto do racismo na mortalidade materna. Segundo eles, o aumento nas taxas de mortalidade entre mulheres negras é uma consequência de construções sociais que prejudicam seus resultados de saúde, sem relação com fatores genéticos ou biológicos, conforme destacado pelos autores no artigo.

Além disso, eles destacam que fatores socioeconômicos, como falta de acesso a cuidados de qualidade, educação e renda mais baixa, explicam em parte as disparidades raciais. Mesmo após ajustes para essas variáveis, os pesquisadores encontraram que a cor da pele negra continuou associada a um aumento do risco de hipertensão durante a gravidez, o que amplia os riscos de mortalidade materna.

Registros

A pesquisa analisou a taxa de mortalidade materna entre 2017 e 2022, segundo a cor da pele, comparando mulheres negras, pardas e brancas. Além do aspecto racial, o estudo considerou a região onde ocorreram os óbitos, faixa etária e se as mortes ocorreram antes ou durante a pandemia de Covid-19. Os dados foram obtidos do DataSUS, do Ministério da Saúde, utilizando as categorias de raça conforme a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A taxa de mortalidade materna, que compreende as mortes decorrentes da gravidez, parto ou pós-parto, foi analisada no período de 2017 a 2022, revelando uma média de 67 mortes por 100 mil nascidos vivos. Entre as mulheres negras, esse índice foi significativamente mais alto, alcançando 125,8 mortes por 100 mil nascidos vivos, em comparação com 64 mortes entre mulheres brancas e pardas. Essa disparidade persistiu mesmo durante a pandemia.

Em todas as regiões do Brasil, a taxa de mortalidade materna foi mais elevada entre mulheres negras, atingindo 186 mortes por 100 mil nascidos vivos no Norte. A maior diferença entre mulheres negras e brancas foi observada no Sudeste, com 115,5 mortes por 100 mil nascidos vivos entre mulheres negras, contra 60,8 mortes entre as brancas.

“O achado mais surpreendente foi que as mulheres negras apresentaram maior risco de mortalidade em comparação até mesmo com as mulheres pardas”, destacou José Paulo Siqueira Guida, coautor do estudo pela Unicamp. Apenas na região Norte não foram identificadas diferenças significativas nas taxas de mortalidade entre mulheres negras e pardas.

“Fica evidente que, mesmo dentro de grupos vulneráveis, algumas mulheres estão mais expostas a riscos adicionais”, complementou Fernanda Surita, também da Unicamp e coautora do estudo.

Os pesquisadores enfatizam a importância do estudo para compreender a vulnerabilidade das mulheres negras, especialmente expostas ao risco de morte durante e após o parto. O próximo passo do grupo de pesquisa envolve a análise de bases de dados nacionais sobre mortalidade materna para identificar as características de saúde das mulheres que faleceram nessas circunstâncias. O objetivo é gerar evidências científicas que orientem intervenções e políticas públicas eficazes na prevenção dessas mortes.

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