Emissoras de TV, portais e jornais não estão se cansando – ainda – de falar da Semana da Arte Moderna, que aconteceu em São Paulo em 1922.Segundo alguns portais e alguns jornalistas, foi a semana que marcou nossa independência artística e literária. Foi uma reunião de artistas e literatos brasileiros, que aconteceu no Teatro Municipal, na Capital, de 13 a 18 de fevereiro daquele ano.
Teve importância? Teve, e muita. O que nos estranha é o fato que neste ano comemoramos algo muito mais importante para o nosso país. Semana de Arte Moderna = 100 anos. A Independência chega aos 200 anos. E quase ninguém cita o fato. Exceção à TV Bandeirantes, que produziu um documentário sobre esses 200 anos, interessante por sinal.
Mas não nos afobemos nem nos apressemos. Quem sabe, após o dia 18 de fevereiro, nossos queridos coleguinhas jornalistas se lembrem da Independência e seus 200 anos. Para quem está alfabetizado, aconselho a leitura dos livros de Laurentino Gomes. Jornalista, escreveu 1808 (Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil). O livro narra a chegada da corte portuguesa ao Brasil.
Laurentino também escreveu 1822 e 1889, além de uma trilogia sobre Escravidão que tem o lançamento do seu terceiro volume previsto para este ano. Laurentino conta as histórias tais como aconteceram, baseado em relatos e documentos de cada época. Até a desinteria de Dom Pedro I, nas proximidades do riacho do Ipiranga, está contada. E nada de cavalo bonito. Dom Pedro montava uma mula. E estava em São Paulo por causa da Marquesa de Santos.
Talvez seja por isso que o país esteja assim, nessa zona. O motivo da proclamação da Independência não foi assunto de Estado. Foi uma quase prostituta, a amante do imperador. Deixando essas divagações de lado: por que não se dá ênfase a uma data tão importante? A inversão de valores é esperada em tudo o que se passa por aqui. Mas uma data assim não poderia passar por isso.
Laurentino Gomes precisa ser lido e levado a sério.Em 2008, o livro 1808 recebeu o prêmio de melhor ensaio da Academia Brasileira de Letras e da 53ª edição do Prêmio Jabuti de Literatura na categoria de livro-reportagem e de livro do ano da categoria de não-ficção. Em 2008, a revista Época elegeu Laurentino uma das 100 pessoas mais influentes do ano, pelo mérito de conseguir vender mais de meio milhão de exemplares de livro de História do Brasil.
Mas é preciso entendermos nossa história. Já tivemos e ainda temos outros escritores injustiçados. Euclides da Cunha é um deles. De nada adiantou escrever o primor Os Sertões. Continua lembrado por poucos que se dão ao trabalho de estudar alguns fenômenos e guerras havidas em nossas terras. Espera-se que Laurentino sobreviva à avalanche de modernismo. Os 200 são muito mais que 100. O dobro.
Anselmo Brombal – Jornalista