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quinta-feira, 28 março, 2024

Especialistas demais

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A chamada grande imprensa tem especialistas para tudo. Basta surgir algo meio fora do comum e lá estão os especialistas dando seus palpites idiotas. Copa do Mundo é temporada dos superentendidos em futebol. Olimpíadas? Também tem gente palpitando. Gente sem noção. Covid? Com a doença apareceram jornalistas travestidos de médicos ou de cientistas. Agora temos especialistas em guerra, em Ucrânia e em Rússia.

Basta ver televisão para medir o nível de imbecilidade. Tem gente tentando explicar o inexplicável. Se o Google se desgastasse com o uso, certamente já teria desaparecido. São os especialistas procurando se informar sobre o que não sabem. Antes, chamávamos de gente de cultura de almanaque.

Dá até saudade de outras guerras. Não as muito antigas. A Guerra das Malvinas, por exemplo, mostrou ao mundo a eficiência dos mísseis Exocet. E não havia especialistas para descrever tais mísseis. Havia jornalistas relatando fatos e informando a existência do míssil, com detalhes fornecidos pelo exército argentino e pelo fabricante francês.

A Guerra dos Seis Dias tornou famoso o avião Mirage, também fabricado pela França e usado pelos israelenses. A do Vietnã deu fama para o Phantom F-4 e para o napalm. A do Afeganistão atestou a eficiência dos fuzis AK-47 fabricados pelos russos. Em nenhuma dessas ocasiões alguém foi à televisão fazer previsões, analisar a eficiência do armamento ou questionar se os motivos para a guerra eram justos ou corriqueiros.

Mas agora está diferente. Em redes sociais há postagens absurdas, algumas verdadeiras pérolas de ignorância. Há gente afirmando que a guerra entre Ucrânia e Rússia é por causa do futebol. Há gente que nem se deu ao trabalho de consultar um mapa, e colocou a Ucrânia num lugar onde ela nunca esteve.

Durante a Segunda Guerra Mundial (calma, eu não vivi essa época, nasci depois) todos sabiam detalhes pelos jornais e pelas emissoras de rádio. A aviação alemã tornou-se famosa, os tanques russos idem, e a eficiência dos americanos também. O avião Zero, do Japão, talvez tenha ficado o mais conhecido. Primeiro pela eficiência, e segundo por ter sido usado por pilotos kamikases.

Na época, esses pilotos que jogavam seus aviões carregados de bombas sobre navios americanos era conhecidos como pilotos suicidas. Mas bastou um especialista, tempos depois, contar a história e dizer que piloto suicida era a tradução de kamikaze. Errou feio. Kamikaze quer dizer sopro divino. Mais um motivo para se dispensar a existência de especialistas.

Se você quiser dormir em paz, segue o conselho: não ouça especialistas. Se ouvi-los, sua cabeça ficará cheia de informações desencontradas, enganosas, errôneas, e você não conseguirá dormir. Aí sim você vai precisar de um especialista. Em sono.

Anselmo Brombal – Jornalista

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