Talvez pela época, como o fato de ser um ano de eleições, o que não está faltando é teoria conspiratória. Além de não faltar, sobra. Velhos casos são relembrados, e para todos sempre alguém encontra um desfecho. Os mais misteriosos, aqueles que nem a Polícia Federal conseguiu resolver, são solucionados num passe de mágica pelos Hercule Poirot das redes sociais.
Rotuladas costumeiramente como fake news (não deixam de ser), essas teorias beiram o absurdo. Algumas: O avião da cantora Marília Mendonça foi sabotado; o avião do então candidato à presidência Eduardo Campos foi sabotado em 2014; quem não tiver biometria não vai poder votar em outubro; e a melhor – foi o próprio Bolsonaro quem contratou Adélio Bispo para lhe dar uma facada em 2018.
Os fatos reais são bem diferentes. Muito diferentes. A queda do avião de Marília Mendonça ainda está sendo investigada pelo Cenipa. A causa provável (note-se bem, provável) é de algum fio de alta tensão ter se chocado com o trem de pouso do King Air. As torres de alta tensão da Cemig estão no alto de um morro, na rota de aproximação de um aeroporto. Mas falta o relatório oficial do Cenipa, que é o Centro Nacional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos.
O caso de Eduardo Campos já foi estudado e concluído pelo Cenipa. Ninguém colocou bomba no jatinho, ninguém cortou fio do painel, ninguém drogou o piloto. A conclusão é que o piloto sofreu desorientação espacial, algo não tão incomum, após uma série de erros na aproximação de Santos. É como alguém estar dirigindo numa estrada sem ter noção de onde está e dar de frente com um caminhão.
O caso da facada em Bolsonaro é um pouco mais complexo. O autor da espetada se passa por débil mental, mas parece que agora a investigação foi reaberta e vai ser pra valer. Há muitos indícios que haja mandante – ou mandantes. Quando preso, Adélio estava com bastante dinheiro, alguns aparelhos de celular e do nada apareceram advogados caríssimos para defendê-lo. E Adélio era só um desempregado.
A votação em outubro será normal, como sempre foi. Quem tiver biometria coloca o dedo no aparelho, quem não tem precisará mostrar o Título de Eleitor e documento de identidade. Mas todos vão poder votar, sem restrições.
As nossas teorias de conspiração carecem de imaginação. Os americanos são muito melhores nisso. Discute-se, por lá, se o homem de fato foi à Lua. Discute-se ainda, quase 60 depois, se Lee Harvey Osvald agiu a mando da KGB para matar o então presidente Kennedy. E depois de muita discussão, americanos chegaram à conclusão que o hamburguer do McDonalds não é feito de minhoca.
Nós, brasileiros, precisamos melhor até nisso.
Anselmo Brombal – Jornalista
