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segunda-feira, 13 maio, 2024

Pesca e crueldade

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A televisão mostra e incentiva a chamada pesca esportiva. Há programas dedicados a ensinar os possíveis pescadores a não levar o peixe para casa, para consumo. Há canais dedicados somente à pesca, e sempre “pesca esportiva”. Canais e programas patrocinados por fabricantes de artigos para a prática, como anzóis, carretilhas, alicates, linhas, varas e agências que promovem a pesca nos mais distantes pontos do país.

Nessa “pesca esportiva”, o sujeito fisga o peixe, tira fotografia na maioria das vezes, e devolve o bichinho à água. Intrigado com o assunto, acabei verificando que há muitos pesqueiros em nossa região que oferecem essa opção aos seus frequentadores. O interessado paga X para pescar e devolver o animal ao lago, ou paga Y por quilo para levá-lo para casa.

Muitos dos animais – incluindo os peixes – fazem parte da alimentação humana há milênios. Até a Bíblia cita a pesca e os pescadores. Empresas enormes se dedicam à pesca no mar, trazendo para nosso forno ou frigideira peixes dos mais variados tipos. Assim como as granjas nos fornecem frangos, ou os frigoríficos que entregam a carne bovina e seus derivados. Isso é a cadeia alimentar.

Mas pesca esportiva foge de tudo isso. Não passa de uma crueldade. Depois de apanhado o peixe, o pescador precisa retirar o anzol de sua boca para devolvê-lo à água. Dá para imaginar a dor que o animal deve sentir. Primeiro ao ter a boca penetrada pelo anzol, e segundo, a retirada de anzol, feita na maioria das vezes com grandes alicates.

Uma vez devolvido ao seu habitat, é bem possível que esse peixe volte a ser apanhado por outro pescador. Seu instinto é para se alimentar, e certamente não vai resistir à isca que vai enganá-lo. Novo sofrimento, novas dores.

Esse tipo de pescador deveria se colocar no lugar do peixe. Imaginar como seria abocanhar um belo pedaço de picanha e encontrar o anzol a perfurar-lhe os lábios ou o palato, ou as bochechas. Depois, retirar esse anzol, e seguir a vida como se nada tivesse acontecido. Nada? Nós, humanos, passaríamos meses fazendo curativos, cirurgias reparadoras, tomando injeções e comprimidos.

A tal “pesca esportiva” pode ser comparada a um abatedouro ou frigorífico faz-de-conta. Coloca-se o boi para tomar a martelada mortal, mas de forma mais suave para não matá-lo. Depois que ele estiver atordoado, devolve-se ao pasto, para dias depois repetir a “brincadeira”. Ou fazer de conta que vai matar o frango, e depois de quase matá-lo, devolvê-lo à granja. E repetir a mesma “brincadeira” dias depois.

Peixe, se for para consumo, para alimentação, ótimo. Mas se for para tortura, nunca. E o mais engraçado é que muitas sociedades protetoras de animais se incomodaram, e ainda se incomodam, com o rodeio. No rodeio, pelo menos o animal sai vivo. Mas ninguém ainda se incomodou com os peixes. E talvez até perguntem: e eu com o peixe?

ANSELMO BROMBAL – jornalista

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