No mundo dos animais o esforço é maior. O leão mata para ter seu harém; sapos passam semanas coaxanedo em busca de parceiras; o vaga-lume passa noite piscando sua luz para atrair companheira; pássaros dançam em galhos de árvores em busca da atenção de fêmeas. No mundo dos racionais, embora com menor intensidade, há esforço, tempo e investimento para se conseguir sexo.
“A energia que indivíduos de diferentes espécies animais investem na reprodução sexual é estabelecida em vários níveis. Em primeiro lugar, devemos tornar a genitalidade atraente para o sexo oposto. A esse plano inicial de atração anatômica juntam-se os invisíveis, mas irresistíveis recursos fisiológicos, liderados pelos feromônios, que atordoam quem não enxerga muito bem ou a quem a quimiorrecepção estimula mais”, afirma Victoria.
E ela continua: “E se essa exibição de encantos ainda não for suficiente, alguns táxons, como pássaros e mamíferos, levaram o acasalamento e os namoros nupciais a um ponto de sublimação absoluta. O resultado é que não há indivíduo na maioria das espécies que pode resistir à combinação fatal de anatomia avassaladora, fisiologia envolvente e etologia elaborada e sofisticada (como as valsas do escorpião, às quais a dança dos sete véus não chegam aos pés). Se somarmos a tudo isso a variável tempo investido no acasalamento e, portanto, na fecundação dos óvulos e na obtenção de uma nova geração para a espécie, confirmamos nossa hipótese inicial. Ou seja, a quantidade de moléculas de ATP (trifosfato de adenosina, a moeda energética da vida) que é investida nos variados mecanismos de reprodução sexual dos animais é extraordinariamente alta”.
Mas o sexo tem outros custos, como explica Victoria: “Além de estruturas reprodutivas complexas e longas atividades de corte (alguns até as classificariam como cansativas), os organismos que se reproduzem sexualmente o fazem por meio de óvulos e espermatozoides. Ambas, vamos lembrar, são células haplóides, ou seja, com uma única dotação cromossômica, ao contrário do resto das células do corpo (células somáticas) que são duplamente dotadas de cromossomos. Em outras palavras, os organismos cortam seu potencial genético pela metade quando se reproduzem sexualmente”.