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segunda-feira, 13 maio, 2024

Uma doença pode fazer as bananas desaparecerem do mundo

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A doença é conhecida como “Mal do Panamá”. Tecnicamente ela se chama Tropical Race (TR4) e afeta as banandeiras. A doença aparece do nada, e quando é descoberta, é tarde demais. Não há ainda produto químico ou farmacêutico para curar as bananas. A doença é causada por um fundo, o Fusarium Oxysporum, e está atacando as bananeiras há trinta anos.

Parecia, há alguns anos, ser algo não tão grave; mas nos últimos dez anos a doença se expandiu muito rapidamente – está na Ásia, na Austrália, no Oriente Mèdio e na América Latina. Já está em mais de 20 países, e isso está provocando temores de uma pandemia nos bananais. E se a doença aumentar a dose de infecção, logo vai faltar banana – hoje a fruta mais consumida no mundo.

Os cientistas já trabalham com isso há algum tempo. Parte deles procura desenvolver a criação de bananas geneticamente modificadas; outra parte, na descoberta de alguma vacina. E não é a primeira vez que as bananas são ameaçadas. Em 1950, aconteceu uma das maiores pandemias nas bananas, quando o Mal do Panamá apareceu pela primeira vez.

A doença surgiu na Ásia, onde evoluiu com as bananas antes de se espalhar para as plantações da América Central. A razão pela qual foi tão devastadora é que as bananas eram todas de apenas uma variedade, a Gros Michel ou Big Mike. Essa variedade havia sido escolhida pelos produtores porque produz frutos grandes e saborosos que podem ser cortados da árvore ainda verdes, possibilitando o transporte de alimentos altamente perecíveis por longas distâncias, enquanto continuam amadurecendo. Cada planta era um clone de aproximadamente mesmo tamanho e formato, produzido a partir de rebentos laterais que se desenvolvem a partir do caule das raízes, facilitando a produção em massa.

Isso significa que cada bananeira é geneticamente quase idêntica, produzindo frutas consistentemente, sem imprevistos. Do ponto de vista comercial era excelente, mas, do ponto de vista epidemiológico, era um surto à espera de acontecer. O sistema de produção de bananas se baseou fragilmente na diversidade genética limitada de uma variedade, tornando-as suscetíveis a doenças.

Procurou-se então uma variedade que pudesse substituir a Gros Michel, mas que pudesse ser resistente ao Mal do Panamá. Nos anos 1960 optou-se pela variedade3 Cavendish, aqui chamada banana nanica. Ela também podia (e ainda pode) ser colhida verde e transportada para lugares distantes. Mas não tem o mesmo sabor da Gros Michel.

A banana nanica fez sucesso em poucos anos. Tornou-se até referência para os bananeiros. Mas enquanto quem plantava comemorava, os cientistas estavam de olho nos bananais, e para eles, era só uma questão de tempo aparecer outro surto do Mal do Panamá. Na década de 1990 uma nova cepa do Nal do Panamá, conhecida como TR4, surgiu, novamente na Ásia, que era fatal para as bananas Cavendish. Com a globalização – mercadorias, frutas e gente circulando no mundo todo, a doença se espalhou rapidamente.

Moçambique, na África, já registrou a doença. Uma planta doente ficará saudável por até um ano antes de mostrar os sintomas da doença: manchas amarelas e folhas murchas. Em outras palavras, quando a TR4 é identificada, já é tarde demais e ela terá se espalhado por esporos no solo em botas, plantas, máquinas ou animais. A razão pela qual o TR4 é tão mortal é porque, assim como a covid-19, ela se espalha por transmissão furtiva, embora em diferentes escalas de tempo.

Em 2019 a doença apareceu na Colômbia. Como não há cura, tudo o que pode ser feito é colocar as fazendas infectadas em quarentena e aplicar medidas de biossegurança, como desinfetar botas e impedir o movimento de plantas entre fazendas. Em outras palavras, fazer o equivalente a lavar as mãos e manter o distanciamento social. O problema é tão grande que até a fundação de Bill Gates está financiando pesquisas, como na Austrália, onde cientistas desenvolveram a Cavendish geneticamente modificada.

A ONG Banana Link, que faz campanhas sobre o assunto, culpa os supermercados por forçar preços cada vez mais baixos, comprometendo o meio ambiente, a saúde dos trabalhadores e, por fim, a vitalidade da safra de banana. Só uma coisa é certa: se não descobrirem um jeito de acabar com o Mal do Panamá, logo não comeremos mais bananas.

Urbem
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A Editora Urbem faz parte do Grupo Novo Dia e edita livros de diversos assuntos e também a Urbem Magazine, uma revista periódica 100% digital.
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