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sexta-feira, 3 maio, 2024

Cirque du Soleil, quem diria, está por um fio. Culpa da pandemia

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Crise sanitária agrava a frágil situação financeira do circo canadense. Estudada durante anos como modelo de gestão, a companhia está envolvida em uma dívida bilionária

Em 8 de março deste ano, poucos dias antes da decretação das medidas de exceção na Espanha por causa do coronavírus, o comediante catalão Mateo Amieva estava voltando a Barcelona num vôo procedente de Doha, onde havia atuado no espetáculo Messi 10, uma das produções do Cirque du Soleil. Não sabia então que aquelas apresentações seriam as últimas em muito tempo. Uma semana depois, todos os teatros e tendas do mundo foram interditados pela pandemia e a paralisação afetou com mais força a companhia, que, teoricamente, teria mais reservas para confrontá-la, como maior produtora de espetáculos do mundo, com um capital inimaginável para qualquer outra empresa do setor.

Uma combinação de fatores passados e presentes se conjurou para desatar uma tempestade perfeita que desembocou numa ameaça de falência que chocou: como é possível que um império que não parou de crescer desde sua fundação, em 1984, tenha desmoronado em apenas três meses?

A culpa não é só do coronavírus. A pandemia veio para dar a estocada final numa organização que há cinco anos arrasta uma dívida equivalente a 815 milhões de euros (4,7 bilhões de reais na cotação atual) e protagoniza uma novela empresarial que envolve o cofundador e ex-proprietário Guy Laliberté, o conglomerado midiático canadense Quebecor e as três empresas de investimentos internacionais que dividem a propriedade do grupo.

Laliberté declarou que estava disposto a recomprar a companhia para tirá-la do buraco, e o Quebecor também manifestou seu desejo de injetar capital, embora por enquanto não tenha condições, segundo seus executivos, porque os atuais responsáveis do Cirque du Soleil se negam a revelar as verdadeiras contas. Esses, por sua vez, acusam o grupo Quebecor de estar pressionando para desvalorizar as ações e assumir a marca a preço de banana.

Mas o único que por enquanto pôs dinheiro de verdade no negócio foi o governo do Québec, que aprovou um crédito de 182 milhões de euros (um bilhão de reais) para evitar o desastre de um dos maiores orgulhos da região, além de uma fonte de dinheiro importante para a província.

O Cirque du Soleil nasceu e tem sua sede em Montreal, onde empregava quase cinco mil pessoas. A empresa demitiu temporariamente 95% de seus funcionários – incluindo artistas e técnicos dos 20 espetáculos que estão em turnê ― aproximadamente uma centena por produção. Com o dinheiro recebido do Estado, mais outros 45 milhões de euros (260 milhões de reais) que os proprietários injetaram no começo de maio, a companhia mal alcança os 150 milhões de euros (870 milhões de reais) que necessita para reembolsar os ingressos das apresentações canceladas.

Os trabalhadores mantêm a calma. O site da empresa mantém a venda de ingressos para os 20 espetáculos em pauta. Já se sabe inclusive qual será o primeiro a voltar à cena na era pós-pandemia, e já está logo ali: The Land Of Fantasy retomará suas funções na cidade chinesa de Cantão. Aparentemente, tudo continua funcionando no plano artístico.

Mas no terreno financeiro o futuro é sombrio. Pouco resta da poderosa empresa que era estudada como modelo de gestão criativa e inovadora. A crescente necessidade de capital empurrou Laliberté a fazer sociedade em 2015 com três grandes empresas de investimentos ― o fundo norte-americano TPG, o chinês Fosun e a financeira Caisse du Dépôt et Placement do Québec ― que dividiram 90% das ações entre si.

O fundador embolsou na época 1,4 bilhões de euros e ainda ficou com 10% da empresa, da qual acabou também se desfazendo dois anos depois. Essa operação fez o estilo de gestão passar a um modelo mais arriscado, mas que prometia grandes dividendos: tratava-se de aguentar a dívida de 815 milhões de euros gerada pela compra, enquanto se melhorava a rentabilidade em curto prazo, potencializando a marca para vender a empresa em cinco ou seis anos. Poderia ter dado muito certo, mas a pandemia quebrou essa estratégia.

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A Editora Urbem faz parte do Grupo Novo Dia e edita livros de diversos assuntos e também a Urbem Magazine, uma revista periódica 100% digital.
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