O prejuízo passa do bilhão de reais. Por causa da pandemia, produtores de flores estão transformando rosas, antúrios e cravos em adubo. Ou lixo
Desde que a pandemia chegou ao Brasil, os produtores de flores estão amargando um senhor prejuízo. Havia uma tênue esperança no Dia das Mães. Havia. Apareceu outra, no Dia dos Namorados, e nada. Além dos presentes de filhos e maridos às mães, e de casais apaixonados, o cancelamento de eventos obrigou produtores a descartar 80% da produção. E descarte significa duas coisas – ou vai pro lixo ou vira adubo. O prejuízo dos produtores passa de um bilhão de reais, segundo o Instituto Brasileiro de Flores (Ibraflor).
O faturamento da cooperativa Veiling Holambra, um dos principais centros comerciais de flores do país, caiu 90%. A previsão de arrecadar R$ 900 milhões no ano foi recalculada para R$ 750 milhões até agora. Estima-se que aproxidamente 80% da produção tenha sido descartada devido ao menor número de clientes por causa do decreto da quarentena. “Vínhamos de um crescimento médio de 11% por ano. De uma semana para a outra o mercado não existe mais, afirma o diretor-geral da Veiling, André van Kruissen. Sem festas e eventos, todo mundo está tendo de se reinventar”. Os eventos são o maior consumidor das chamadas flores de corte, como rosas e orquídeas, que são mais perecíveis. Com esse nicho do mercado parado, a produção não consegue ser absorvida, e se desfazer delas é o que resta.
A Veiling, que reúne 400 associados, está sediada em Holambra, perto de Campinas. A cidade também abriga a cooperativa Cooperflora e é considerada a capital nacional das flores. O estado é responsável por mais da metade da produção nacional em área de 9.360 hectares dos 15.600 usados para cultivo no país.
Se os grandes produtores, que têm melhor organização, sentiram o baque, aqueles com poucas conexões ficaram à míngua. O desemprego no setor já está em 20%, segundo o Ibraflor, e a tendência é aumentar. As estimativas para falência são de, no mínimo 15%. “Mais do que pequenos, médios ou grandes produtores, a crise está afetando aqueles que não estão organizados em torno de alguma associação, cooperativa ou mercado conjunto. Aquele produtor que comercializa separadamente sua produção é mais atingido. Naturalmente, os pequenos têm menos estrutura, conhecimento, contatos com clientes. Então acabam sendo mais prejudicados”, explica o diretor do Ibraflor, Renato Opitz. De acordo com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio de Janeiro (Emater-RJ), o descarte de flores no estado excedeu 90%, o que acarretou prejuízo mensal de R$ 7 milhões ao setor.