Se você está em casa, cumprindo as recomendações do Ministério da Saúde, o tal isolamento social, vai notar algumas coisas. Uma delas é o aumento nas contas. É só uma consequência. Vamos às reflexões.
1 – O gasto da empresa não é só o seu salário e as obrigações sociais, como PIS, Fundo de Garantia e INSS. Na empresa, você tem à disposição a água, o papel higiênico, o copo descartável, o cafezinho. Trabalhando em casa, tudo isso passa a ser por sua conta. Ou seja – você vai pagar pela eletricidade, pela água, pelo café, pelo papel higiênico… E como você não pode ir a restaurantes, a conta do gás também vai aumentar.
2 – É chato ficar em casa. Mas nesses dias você já descobriu coisas que antes não notava. Conversar com os filhos, brincar com eles, participar da vida escolar são algumas delas. Tem gente detestando fazer isso. Mães revoltadas porque a escola está fechada e reclamando que os pimpolhos visitam a geladeira constantemente. Quem sabe, quando tudo isso passar, você tenha aprendido a viver em família.
3 – Não faltam recomendações do Ministério da Saúde na TV, nos jornais, nas revistas. Principalmente a recomendação de lavar as mãos. Pode parecer redundante, mas será que antes você tinha tantos cuidados assim com suas mãos? Será que sua casa – donde você saía de manhã e voltava só à noite – era um ambiente ventilado? Agora você está percebendo que janelas abertas trazem ares melhores para dentro da casa, não é mesmo?
4 – Talvez você conheça casos de violência doméstica. Casais que brigam e se agridem por causa da convivência forçada. Mas seria essa convivência forçada a causa de brigas? Não. A convivência forçada só está expondo problemas que até outro dia estavam escondidos, camuflados. A mulher louca para se livrar do marido, o marido louco para se livrar da mulher. Ninguém havia tomado atitude por conveniência ou comodismo. A previsão é que depois da quarentena o número de divórcio vá às alturas.
5 – Amantes caíram na real. A outra descobriu que é somente a outra, o outro ídem. Sem desculpas para churrasco, futebol com amigos, chá de panela com as amigas, compras no shopping, amantes se distanciaram. E agora? Será que passada a quarentena a aventura continua? Certamente poucos e poucas deverão manter seus casos.
6 – Ainda sobre escolas. Elas estão fechadas, e tem muitas mães reclamando que não aguentam mais as travessuras de seus filhos. Se estão fazendo travessuras, é porque não foram tão bem educados quanto deveriam. Escolas ensinam. Pais devem educar. Agora, imagina o perrengue de professoras suportando não um ou dois filhos dos outros, mas trinta ou quarenta numa sala de aula. Imagina o que é ficar quatro horas numa sala de aula com trinta ou quarenta crianças mal educadas. Crianças que usam e abusam do celular durante as aulas, que não fazem o dever de casa, o trabalho, que respondem, que não obedecem.
7 – Se você acredita em tudo que padres e pastores dizem, hora de pensar. Sem ir à igreja – seja ela qual for – você deve ter descoberto que é possível rezar em casa. E sem pagar dízimo. Sem ter de decorar capítulos e versículos da Bíblia. Talvez tenha descoberto também que Deus não é surdo, e de que nada adiantava o berreiro dentro da igreja.
8 – Se estiver desempregado, aposentado ou afastado da empresa, na falta do que fazer resolveu arrumar seus armários e guarda-roupas? Descobriu quanta coisa inútil você guarda em sua casa? Um rapa na inutilidade vai ajudar. E muito.
9 – Se passou a Páscoa sozinho (a), só com a família, não reclame. Pensa que em anos anteriores você se enfiou na cozinha, passou horas preparando a bacalhoada. E depois descobriu que aqueles cunhados e cunhadas chatos criticaram sua comida. Ou a marca da cerveja. E ainda se esparramaram no seu sofá após almoçar. Melhor todas as festas sem eles.
10 – Por fim, a pergunta que não quer calar: como será a vida depois da quarentena? Será que vamos aprender a conviver novamente? Das duas uma – ou o mundo será bem melhor, ou arrebenta de vez. Pelo menos resolve. Quem sobreviver que o diga.
