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Jundiaí
sexta-feira, 17 maio, 2024

Com toque de recolher, Jundiaí fez o Carnaval dos Horrores

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Com blocos espalhados pela cidade, tumultuando a vida de todos, Jundiaí conseguiu ter o pior Carnaval de sua história
Nunca em sua história Jundiaí teve tanta desorganização e problemas durante o Carnaval. Carnaval não oficial, ou quase oficial, cancelado pelo prefeito, que prometia usar o dinheiro em outras áreas, como o Hospital São Vicente. Como um conto de Pierrot e Colombina, o que se viu no fim de semana passada foi uma mostra de incompetência administrativa, de desmandos e de muita violência.
Aos fatos. No final do ano passado, quando o prefeito era Pedro Bigardi, a Liga Jundiaiense das Escolas de Samba (Lijunes) recebeu parte da verba destinada ao Carnaval – coisa de mais de 300 mil reais. No início do ano, o prefeito do futuro, Luiz Fernando Machado, anunciou que o Carnaval seria cancelado, e que a verba seria destinada ao Hospital São Vicente.
Aos problemas. Com tudo cancelado, a Lijunes não devolveu o dinheiro recebido da Prefeitura. E, além disso, ainda recebeu o que faltava na verba prevista – coisa que chegou aos R$ 800 mil. Eufemisticamente, afirmou-se que a Lijunes se encarregaria da (falta de) estrutura do Carnaval. Decidiu-se que os blocos e escolas fariam praticamente o que bem entendessem.
Aos fatos. Nesse clima de liberou geral, a Arco-Íris promoveu uma batucada em seu barracão – não desfilou. A União da Vila fez um desfile meia-boca na Vila Rio Branco. A Leões da Hortolândia fez um ensaio – ou meio-desfile, como afirmava seu presidente – no próprio bairro. E os blocos dominaram a cena. Sem desfiles, sem estrutura, sem nada, a Lijunes não devolveu um centavo à Prefeitura.
Aos problemas. Sem comando, sem organização e com as proibições impostas pela Polícia Militar sobre horários e itinerários, os blocos foram às ruas. O primeiro a sair, na semana retrasada, foi o Chupa que é de Uva, que teve lá seus problemas mas não chegou a comprometer.
O segundo saiu na sexta passada. O Refogado do Sandi saiu no Centro, debaixo de chuva, e quase se transforma em Afogado do Sandi. Também não comprometeu. Porém no sábado a história começou a mudar.

Na Vila Progresso, onde estava o pessoal do Bloco do Dito Sujo, apareceram as primeiras bombas de gás lacrimogênio, jogadas pela Polícia Militar. Isso aconteceu às quatro da tarde – o bloco estava reunido desde às dez da manhã. Segundo os organizadores, havia autorização para o batuque ir até às oito da noite. Além das bombas de gás, a PM também teria descido a borracha nos foliões mais exaltados.
Disperso o bloco, os foliões foram para a Ponte Torta, onde havia outra concentração com o bloco do mesmo nome. Nessa região, a zona foi total. Horror dos horrores, banheiros químicos estavam colocados em frente a um dos restaurantes mais tradicionais da cidade, o Beira-Rio. Parte da avenida Odil Campos Saes foi interditada pelos foliões, que impediram a passagem de carros. O comércio amargou os prejuízos. A PM, que de longe observava a muvuca, resolveu dispersar os blocos. Foi então que a confusão se espalhou para as ruas próximas.
Em frente ao estádio do Paulista, estava concentrado o bloco Galo Doido, a PM chegou chegando, segundo os foliões. Foram usados spray de pimenta e bomas de gás para dispersão do pessoal, e até alguns tiros – não se sabe saídos de onde – foram ouvidos. Na segunda-feira, mais problemas.
No bar Estrela da Ponte, onde se reúne o bloco Continuamos na Nossa, a PM apareceu para dispersar o pessoal, antes das oito da noite. Muitas pessoas de mais idade, que estavam dentro do bar, sofreram os efeitos do gás lacrimogênio. Ainda na segunda, um pessoal que estava em outro bar, o Haules, na rua Marechal, perto dos Correios, precisou deixar o local a mando da PM, que chegou usando spray de pimenta, sem motivo aparente. Isso às oito da noite.
Pra continuar com os horrores, a Leões da Hortolândia precisou encerrar mais cedo seu meio-desfile quando a Polícia Militar e a Guarda Municipal chegaram distribuindo borrachadas, spray de pimenta e bombas de gás. Pelo menos quatro idosas, que moram perto da Praça Joaquim Soares Lemos (em frente ao Supermercado Boa), passaram mal – elas estavam em suas casas, não participavam de nada, nem tinham condições para tal.
E assim foi o Carnaval do Futuro, que começou com as proibições típicas de coronéis do sertão, passou pelo Carnaval das Borrachadas, pelo dos Cassetetes, pelo das Bombas de Gás, pelo do Spray de Pimenta e terminou com o Carnaval dos Horrores, fruto da incompetência administrativa e da falta de comando político na cidade.
 
Prefeitura fala em direitos constitucionais
Os problemas do Carnaval motivaram uma nota oficial da Prefeitura de Jundiaí. No melhor estilo tucano (de não assumir posições) a nota, assinada pela Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Jundiaí, é a seguinte:
“A organização do Carnaval 2017 de Jundiaí foi estruturada tendo em vista as seguintes premissas: a manifestação cultural, uma vez que as escolas de samba e os blocos têm direito constitucional de promover o evento, e a necessidade de reorganizar o uso do espaço público, com a garantia da segurança e sem prejuízos à população, que participou ou não da festa.
Deste modo, a dispersão das escolas e blocos no horário estabelecido (19h30) foi negociado e acordado com os organizadores em uma série de reuniões. Esse planejamento assegurou a ausência de ocorrências graves nos percursos, ao longo dos oito dias de desfiles.
Houve casos pontuais em que agentes de segurança sofreram tentativas ou foram agredidos por grupos que transgrediram os critérios estipulados de garantia ao ordenamento urbano. Ressalta-se, deste modo, que, nestas situações, a atuação da GM ocorreu, irrestritamente, em obediência aos ditames constitucionais.
O Carnaval 2017 teve a colaboração do poder público, órgãos de segurança e organizadores. Foram dos deveres e das necessidades desses setores que estabeleceu-se todo o planejamento, conciliando os direitos dos foliões e dos moradores”.
 
Guarda afirma que havia excesso de drogas
A Guarda Municipal de Jundiaí distribuiu nota na quarta-feira, assinada por seu comandante, analisando o Carnaval de Jundiaí. Com o título Um pouco do que ocorre nos blocos de carnaval de rua, a GM narra o clima durante os dias de folia:
“Apesar da Administração Municipal, dos organizadores e responsáveis pelos blocos de carnaval e das forças de segurança do Município se unirem para proporcionarem momentos de diversão, alegria e festa em comemoração aos dias de carnaval, infelizmente o que se observou, foi o uso de muitas substancias entorpecentes, consumo de bebidas alcoólicas por toda a faixa etária,  inúmeros casos de furtos e roubos em meio aos foliões e para finalizar o que seria uma festa, tivemos muitos atos de vandalismo, depredação de bens públicos, lojas, sinalização de trânsito e principalmente uma injusta agressão contra os integrantes dos diversos órgãos de segurança envolvidos no evento, o que obrigou a realizarem um proporcional uso da força, para controlar uma situação que poderia tomar outros rumos”.
 
 
PM e prefeito foram “crucificados” nas redes sociais
Em todas as redes sociais (Instagran, Facebook e Twitter), sobraram críticas e comentários desairosos sobre o que aconteceu em Jundiaí durante o Carnaval. “Aparentemente, policiais estão confundindo Carnaval com greve dos professores aqui na Terra da Uva… PSDB sendo autoritário e gastando estoque de gás e bala de borracha nas pessoas que não dispersaram às 19h30. 19h30 é o horário que o prefeito ordenou que todos fossem para casa”, dizia um deles.
Ana Laura Hermann escreveu: “Princípio de que o prefeito manda e ponto final… a Constituição foi rasgada”. Rose Gouvea foi mais além: “Sugiro denunciar as ações de violência da Polícia Militar de Jundiaí à Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da OEA, pois sabemos que denúncias feitas aos órgãos brasileiros não adiantam, até porque vivemos num estado de exceção”.

Debora Timosencho afirmou no Facebook: “Fiquei horrorizada ontem no bloco da Ponte São João. A Polícia chegou jogando bombas de gás e quem estava no Estrela passou mal. Inalamos aquilo, a garganta dói, o nariz arde muito. Fui para me divertir e me deparei com um cenário de guerra”. Maria Cláudia também escreveu: “Prefeito ridículo. A ciade não tem opções de lazer, e no lugar de organizar, manda dispersar na pancada”.
Márcia Tarolho: “Estava num churrasco e jogaram uma bomba de gás lacrimogênio na casa cheia de crianças. Uma colega desmaiou e saiu de lá no Samu. Quando sai na rua vi o horror”. Tom Nando: “Há quem defenda o fim dos blocos pra acabar com os problemas. Mas acredito no diálogo e na orientação tanto para as pessoas mal educadas que não respeitam casas quanto para autoridades que não sabem lidar com aglomerações”.
 
Segundo a PM, houve poucos tumultos
De acordo com o capitão Robinson Pomilio, do planejamento operacional do 11º BPM-I, os poucos tumultos que aconteceram durante a festa de Carnaval foram motivados pelo desrespeito por alguns não-foliões quanto ao horário estipulado para a realização do evento.
As ações foram tomadas nas regiões em que moradores prestaram queixa quanto a perturbação do sossego. Em todas foram feitas tentativas de diálogo inicial. O capitão não soube explicar o que houve na noite de segunda-feira (27) no bar Haules, na rua Marechal Deodoro da Fonseca.

Ele também afirmou que o papel da Polícia Militar durante o Carnaval era apenas o de desobstruir as vias após às 20h, como combinado previamente com a organização dos blocos, e ações como o da Lei Seca. A segurança dos foliões durante a festa era responsabilidade da GM e agentes da Prefeitura.
Pomilio também chama a atenção para o grande número de foliões desse ano, quando houve aumento significativo de pessoas nas ruas.
 
Lijunes afirma que recebeu R$ 388.780
Apesar do cancelamento do carnaval de rua neste ano, a Liga Jundiaiense das Escolas de Samba (Lijunes) afirma que recebeu R$ 388.780 da atual gestão. Mas não cita o dinheiro recebido no final do ano passado, mais de R$ 300 mil.
Segunda a Prefeitura, a Lijunes foi responsável pelo planejamento de toda a estrutura necessária para realização da festa dos blocos de Carnaval, como locação dos trios elétricos e dos 410 banheiros químicos distribuídos nos locais de desfiles.
A Unidade de Gestão da Cultura – antiga Secretaria de Cultura – ficou responsável por coordenar o alinhamento das parcerias entre as escolas de samba, blocos, unidade de trânsito, Conselho Tutelar, Juizado de Menores, Guarda Municipal e Polícia Militar, além dos ajustes de contrato com a Lijunes.
De acordo com Anderson “Lixão” Araújo, presidente da liga, foram gastos aproximadamente R$ 70 mil com a contratação de banheiros químicos. Valor bem distante do total repassado. Não foi informado se haverá devolução da verba não usada.
O presidente da liga ainda confirmou o desfile de rua de 2018 e disse que para os próximos dias já está marcada uma reunião de avaliação e planejamento com as escolas de samba, blocos carnavalescos e a Unidade de Gestão da Cultura.
 
Cultura confirma repasse à Lijunes
Conforme divulgado desde as tratativas iniciais para a organização do Carnaval 2017 em Jundiaí, o valor repassado à Liga Jundiaiense das Escolas de Samba (Lijunes) neste ano foi de R$ 388.780, 00. Caso tivesse sido realizado nos moldes tradicionais, o custo do Carnaval seria de R$ 2,3 milhões, afirma nota oficial da Prefeitura.
A liga foi responsável pela entrega de 410 banheiros químicos instalados nos locais de desfiles, conforme a demanda estipulada pelos organizadores, bem como a locação dos carros de som com toda a estrutura necessária.
A primeira ação para o Carnaval 2018 será uma avaliação com as escolas de samba e os blocos carnavalescos, o que deverá ocorrer nos próximos dias.

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