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quinta-feira, 2 maio, 2024

São Vicente, um hospital, dois mundos diferentes

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Fábio Alves e Francisco Claro de Oliveira, administradores do hospital | CM

Com 113 anos feitos em dezembro, o Hospital São Vicente, em Jundiaí, abriga uma multidão de pacientes e funcionários
O velho “Vicentão” é o alvo preferido por onze de cada dez pessoas que gostam de criticar um prefeito, seja ele qual for. Em época de eleição, o HSVP é uma vidraça perfeita, sujeita a todo tipo de estilingada. Mas sua realidade é outra – num mesmo quarteirão existem dois mundos, milhares de dramas e muita gente disposta a resolver os problemas com o governo, sem o governo e apesar do governo.
O hospital atende a média de 24 mil pacientes por mês. Para cuidar dessa gente, há 1800 funcionários mais 60 médicos de empresas terceirizadas. Tecnicamente, é um hospital regional de atendimento terciário (alta complexidade) para cardiologia, ortopedia, oncologia, neurocirurgia etc.
Tecnicamente, também é um hospital para atender pacientes do Aglomerado Urbano de Jundiaí – sim, do aglomerado, uma vez que o Hospital Regional nada mais é que um inútil elefante branco, mal gerido e altamente seletivo. O Regional ainda tem o condão de atrair mais gente para Jundiaí – e essa gente vai parar no São Vicente porque o Regional não a atende.
O dinheiro para fazer o São Vicente funcionar vem da Prefeitura de Jundiaí (70%) e do Ministério da Saúde, via SUS (30%). Dinheiro insuficiente – R$ 14 milhões por mês, que deixam um prejuízo de 4 milhões todos os meses. O Governo do Estado, que criou o programa Santa Casa Sustentável, não colabora em nada – dos 17 hospitais estruturais, que podem receber R$ 2,5 milhões por mês, o São Vicente é o único que não recebe.
“É problema político”, afirma o superintendente do hospital, Francisco Claro de Oliveira. Só para constar: o São Vicente espera por esse dinheiro há um ano e meio. E o problema político quer dizer que o governador é de um partido, o prefeito de outro – dane-se a população.
“Temos 230 leitos credenciados junto ao SUS, explica Fábio Alves, diretor administrativo. Mas temos na realidade 350 leitos – a diferença é bancada pelo hospital”. No caso da UTI, são 60 os leitos credenciados. E as macas nos corredores?
“Esse problema acabou, garante o superintendente Francisco. Só estão nos corredores quando precisamos esvaziar alguns espaços para atendimentos mais urgentes. Mas é questão de minutos”. Parte desse problema originava no Pronto Atendimento – o tempo de permanência de um paciente era em média oito horas. Com algumas modificações, foi diminuído para duas horas.
E isso gerou outro problema – antes o atendimento era de 300 pessoas por dia, hoje é de 500, em média. “Nosso mal é prestar bom serviço. Na área de Saúde, onde existe bom serviço logo haverá o caos”, explica Fábio Alvez. “O São Vicente tem muita procura porque oferece bom atendimento, e se fosse ruim, ficaria vazio”.
Para ficar mais rápido, o São Vicente criou projetos e comitês. O atendimento inicial, antes, obrigava o paciente a uma via sacra: sala de espera para o consultório, volta à sala de espera: ida à sala de medicação, volta à sala de espera, ida ao consultório, volta… Hoje há um fluxo de trabalho, e ninguém mais fica nesse vai-e-volta.
Até as imagens do Raio-X deixaram de ser colocadas em filmes, que demoravam para ser revelados e custam muito dinheiro – hoje a imagem é digitalizada e colocada em rede interna; do consultório o médico acessa essa imagem e analisa na tela do computador. E agora o hospital trabalha para humanizar o atendimento.
Logo as visitas deixarão de ter horários – a família poderá passar o dia todo com o paciente. E o paciente, que antes era de um só médico, agora é de uma equipa multidisciplinar. Com todo esse esforço, o São Vicente ainda continua sendo vítima de outros fatores.
“O que existe é um mau gerenciamento do Estado, que não coordena as vagas da região como deveria, diz Francisco. A média de ocupação de leitos nos hospitais da região é de 30%, e há resistência quando tentamos encaminhar um paciente”. Resumindo o que acontece:
O sujeito vem de determinada cidade com um quadro grave, e é internado no São Vicente. Quando sua situação é estável e não corre nenhum tipo de risco, é enviado de volta à cidade, mas essa cidade resiste à internação porque há custos, principalmente com medicamentos. “Teve casos que demos o medicamento, e nem assim quiseram”, conta Fábio.
Há ainda a questão das fraudes. São inúmeros os casos de pessoas que moram em Jundiaí e trazem parentes e amigos de outros estados para cirurgias aqui. Para isso, o interessado declara que mora com o parente (que ajuda mentir), é internado e passa por cirurgia. Há gente de Minas que já passou por cirurgia de remoção de cataratas no São Vicente – aqui é de graça, lá eles cobram.
Ideia surgiu em 1899. Com a fundação da Sociedade São Vicente de Paulo em 1897, com finalidade de ajudar pobres, logo se constatou a necessidade de se construir um hospital. Em agosto de 1899 a ideia ganhou forma. A princípio foi alugada uma casa, e em 1902 o Hospital São Vicente começou a funcionar oficialmente, inaugurado no dia 20 de dezembro daquele ano.Foi tocado durante muitas décadas somente por vicentinos – as freiras faziam papel de enfermeiras e ajudantes – até que se firmou convênio com a Prefeitura.

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