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sábado, 18 maio, 2024

Loteamento na divisa, o pomo da discórdia

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Jarinu é uma cidade considerada pacata. Tem quase 28 mil moradores, segundo o iBGE, mas poderá dobrar de população caso se concretize um projeto imobiliário na Fazenda Campo Verde, na divisa com Jundiaí. Teoricamente, serão mais dez mil moradores de saída, e isso pode comprometer a qualidade das águas da bacia do Rio Jundiaí-Mirim, que abastece da represa da DAE em Jundiaí.
A encrenca é grande. Na quarta (4), estava marcada uma audiência pública em Jarinu para se discutir a questão. A audiência foi convocada pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado. Antes disso, entidades ambientais andaram se mexendo para barrar o projeto. A Prefeitura de Jundiaí, por exemplo, enviou ofício ao Ministério Público manifestando sua posição – é contra.
Não é um loteamento pequeno. A área a ser ocupada é de quase quatro milhões de metros uadrados. O condomínio terá – segundo o projeto – 1.553 lotes residenciais, com implantação prevista em cinco fases durante dez anos. A média de cada família é de quatro pessoas, o que aumentaria a população em mais seis mil habitantes. Mas cada família trará consigo empregada doméstica, babá, jardineiro, motorista… e aí tudo fica fora de controle.
Quem entende de meio ambiente também é contra. Conta não, totalmente contra. Antonio César de Toledo, presidente do Centro de Orientação Ambiental Terra Integrada (Coati), uma Ong de respeito, é taxativo. ”Nossa equipe técnica estudou o local e percebeu que o impacto na Bacia do Jundiaí-Mirim será desastroso, pois muitas nascentes de água vão desaparecer”, diz ele.
A razão é simples – a qualidade da água de Jundiaí deve-se às nascentes que estão justamente na região do empreendimento. E muitas delas podem desaparecer, o que coloca em risco o abastecimento de Jundiaí em qualquer estiagem, além de tornar mais caro o tratamento da água.
A empresa que pretende lotear a área dá garantias de que o projeto preserva o meio ambiente. Alega que o loteamento é ocupação pequena e apresenta alguns números: 33% da área serão destinados às construções e 31% reservados à preservação de áreas verdes. Mas nessa conta faltam 36% da área, que ninguém explica como serão usados.
E a questão da água? Como de praxe, a explicação é dúbia. Segundo o diretor do empreendimento, Arthur Matarazzo, o loteamento terá “soluções inovadoras de drenagem”. Explica que dentro do condomínio haverá estrutura própria, como tratamento de água e esgoto independente e mini-cisternas.
A empresa afirma ainda que tem condições de retirar água do subsolo, não retirando dos mananciais. Algo meio difícil. Ao se tirar água do subsolo, consequentemente se afeta o manancial próximo. Segundo a Secretaria do Meio Ambiente do Estado, o loteamento não tem nenhum tipo de licença. Ainda. Mas o projeto já foi apresentado ao Comitê de Bacias do Piracicaba-Jundiaí-Capivari (PCJ), ao Condema de Jundiaí e ao Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental.
A Sabesp, que cuida do abastecimento em Jarinu, emitiu nota que mais parece piada. Num trecho afirma que “não tem conhecimento de detalhes técnicos do projeto”. Noutro, afirma que já deu aos empreendedores “carta de viabilidade de atendimento com abastecimento de água, coleta, afastamento e tratamento de esgoto”. Em suma, a Sabesp assumiu uma responsabilidade sem conhecer o projeto.
Além da água, há outra preocupação dos moradores do entorno. A estrada é estreita e perigosa, propensa a acidentes. Com mais mil e quinhentos moradores, certamente haverá mais mil e quinhentos carros diariamente circulando por aquelas bandas. Prevê-se ainda o surgimento de mercearias e outros tipos de comércio nas proximidades, atraídos pela dinheirama que se supõe terem os donos das novas casas.
Como tudo está começando, os empreendedores sabem que têm um longo calvário pela frente. Vão precisar de outras licenças, e os ambientalistas prometem não dar trégua. Sabem que cobra se mata quando é pequena – depois que cresce, quem mata é a cobra.

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