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domingo, 19 maio, 2024

A hipocrisia da solidariedade

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Dois fatos: tornados atingiram a cidade de Xanxerê, em Santa Catarina, deixando milhares de desabrigados e destruindo centenas de casas; um terremoto atingiu o Nepal e matou milhares de pessoas. Mal chegaram as notícias e já começaram os movimentos de solidariedade, que querem doações para as vítimas dessas duas catástrofes.
Pouca gente deve saber onde fica Xanxerê, e muitos dos que sabem só ficaram sabendo após repetitivas reportagens na TV – isso quando seus editores fazem o favor de colocar um mapa para ilustrar. Menos gente ainda deve saber onde fica o Nepal.
Mas há muita gente querendo arrecadar alimentos, roupas, e os mais espertinhos, dinheiro. Tudo em nome da solidariedade. Uma solidariedade meio hipócrita. Por partes: a obrigação de ajudar é do governo, no caso de Xanxerê – coisa que nunca aconteceu, seja qual fosse o presidente da hora, o ministro, o governador e sabe-se mais quem. Independentemente do partido.
O maior problema é que boa parte dessas doações nunca chega ao seu destino. É desviada, roubada, sem que nada aconteça. A tragédia nas cidades serranas do Rio de Janeiro, ocorrida em janeiro de 2011, é um bom exemplo – as vítimas não receberam as doações, e precisaram se contentar com alguns colchões velhos, roupas amarrotadas e garrafas de água mineral.
Sempre foi assim. Houve uma campanha, na época da construção de Brasília, que as pessoas eram convocadas a doar alianças, anéis e outras joias. Em troca, recebiam um anel tosco, sem qualquer valor, com a inscrição “Dei ouro para o bem do Brasil”. Muitos enriqueceram com essa história, e como sempre, ninguém foi punido pelo desvio.
A solidariedade, a caridade, o fazer bem ao próximo são mais que necessários. Mas é preciso também seriedade. É preciso controlar e fiscalizar quem arrecada e o que se faz com tanta doação. É um campo fértil – muita gente tem dor na consciência pelas bobagens que faz, e encontra na caridade uma forma de redimir seus pecados.
E é bom fiscalizar tudo. Há algum tempo, alguns bazares ditos beneficentes expunham para venda o que sobrava das doações – o filé mignon já tinha sido levado pelos caridosos promotores. Felizmente isso acabou. Ou pelo menos parece que acabou. O que não acabou, e dificilmente vai acabar, é a hipocrisia.

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