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quarta-feira, 27 novembro, 2024

Na pandemia da gripe espanhola, revista A.B.C. sugeria censura para não alarmar sociedade

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Artigo publicado na revista A.B.C em 2 de novembro de 1918 sugeria a censura de notícias sobre a gripe espanhola

Acobertura jornalística da pandêmica gripe espanhola em 1918 foi motivo de crítica e censura por parte do governador do Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros. O chefe de polícia da época enviou uma carta a todas as principais redações do estado informando que “ficavam sujeitos à censura policial as publicações referentes à influenza espanhola”. O governo gaúcho justificava por entender que falar da gripe, e da catástrofe por ela provocada, poderia provocar pânico na população.

Os jornais governistas aprovaram a medida. Na ocasião, a federação endossou as medidas do governo, afirmando que a censura era inevitável. “Certa imprensa pouco escrupulosa assumiu uma atitude francamente inconveniente, fazendo-se o veículo de boatos alarmantes e, sobretudo, descomedida e tendenciosa aos atos do governo do Estado”. E assim aplaudia com a sentença: “Rolha – a bem da saúde pública”.A história está embasada na obra Entre sem bater: A vida de Apparicío Torelly O Barão de Itararé, de Cláudio Figueiredo. Foi preciso buscar outros acervos para ajudar a compreender um artigo publicado na revista semanal A.B.C., na edição de 2 de novembro de 1918, com o título “Rolha – a bem da saúde pública”. A revista A.B.C integra o Fundo Astrojildo Pereira, custodiado no Cedem e pode ser consultado on-line e presencialmente.

No artigo, o autor anônimo endossa a censura posta em prática no Rio Grande do Sul, alertando para “[…] a macabra e abundantíssima informação que os grandes órgãos cariocas prodigalizam sobre a marcha da epidemia, sobre o número de mortos, sobre a fisionomia dos mortos, sobre o cheiro dos mortos, sobre os mais dolorosos detalhes da condução de cadáveres […].”

O articulista desaprovava a cobertura jornalística que lhe parecia exagerada. “[…] Mas o que ninguém poderá negar é que essas descrições trágicas são um fator de desmoralização sanitária do país no estrangeiro e, o que é mais grave, do pânico intensíssimo que passa, como uma rajada de destruição e morte, através das cidades e aldeias da República […]”.

O autor da coluna louvava o exemplo dos Estados Unidos, segundo ele, “um país essencialmente democrático e mais liberal do mundo”. Ele cita no artigo “Rolha – a bem da saúde pública,” que um turista de passagem por Nova York não perceberia que o país atravessava “[…] desde o fim de agosto (1918), uma epidemia de gripe pneumônica com uma intensidade assustadora. As estatísticas de mortalidade, ocasionada pela moléstia misteriosa, que dá a volta ao universo, tomaram um vulto extraordinário e mantêm um crescimento alarmante na grande metrópole norte-americana […]”. “[…] E não fossem os mapas demográficos, com as suas centenas de notificação de óbitos pela influenza, publicados diariamente, e o estrangeiro consideraria Nova York livre do flagelo […]”.

E o autor conclui sugerindo que “[…] Nesta hora de amargura, a censura da imprensa nacional deveria fixar a sua vista na conduta da censura ‘ianque’[…]”. A partir do artigo da revista A.B.C. é possível compreender ao menos duas situações. Que a pandemia da gripe espanhola, guardadas as proporções espaciais e temporais da época, foi tão avassaladora quanto está sendo a covid-19.

A revista semanal A.B.C. foi criada em 1915, no Rio de Janeiro, pelo jornalista italiano Ferdinando Borla. Tinha como objetivo analisar o jogo político e as questões sociais ocorridos na semana anterior. Também tratava de literatura e artes em geral. Até a edição 149, de 29 de dezembro de 1917, foi dirigida por Borla. A primeira edição de 1918 já estava sob a responsabilidade dos jornalistas Paulo Hasslocher e Luís Moraes, que também eram os proprietários.

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