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sexta-feira, 22 novembro, 2024

Uma geração perdida de jovens, resultado da pandemia

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Por causa da pandemia, a Organização Internacional do Trabalho estima que um em cada cinco jovens do mundo tenha precisado parar de trabalhar

A crise provocada pela pandemia está afetando principalmente os mais jovens. Quem entrou no mercado de trabalho há pouco tempo, ou que estava prestes a entrar, são as vítimas. O diagnóstico é do economista Stefano Scarpetta, chefe da Divisão de Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). O diagnóstico de Stefano é correto – a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 1 em cada 5 jovens do mundo tenha tido de parar de trabalhar por culpa da pandemia. E os que conseguiram se manter no emprego tiveram redução da jornada de trabalho em 23% na média.

“A pandemia está impondo um choque triplo nos jovens, afirma o relatório da OIT. Não apenas ela está destruindo seus empregos, mas também interrompendo sua educação e treinamento e colocando enormes obstáculos no caminho dos que estão tentando entrar no mercado de trabalho ou trocar de emprego”.

Em entrevista à BBC News, Stefano Scarpetta diz que existe o risco de se criar uma geração perdida de jovens profissionais, cujos efeitos podem ser sentidos ao longo de muitos anos, caso não haja intervenções positivas de governos e empresas. “Para jovens, e vimos isso em crises passadas, choques como este (provocado pela pandemia) são particularmente danosos. Primeiro, porque os que já estão no mercado podem estar mais expostos a empregos precários, temporários”, explica Scarpetta. Na década passada, a taxa de desemprego entre os jovens chegou a ser mais que o dobro da taxa geral nos países mais afetados pela crise.

“Nas pesquisas que fizemos durante a crise prévia (iniciada em 2008), percebemos que os três primeiros anos de entrada no mercado de trabalho são cruciais para as perspectivas futuras profissionais, prossegue Scarpetta. Depois da crise financeira, muitos jovens perderam um, dois ou até três anos de trabalho. Desta vez, a crise pode ser ainda mais longa, então há o risco de perderem alguns anos por causa disso. Muitos sequer se davam ao trabalho de procurar emprego, porque escutavam que não havia vagas para eles, então houve também aumento no número de ‘nem-nem’ – jovens que nem estudavam, nem trabalhavam. Isso deixou uma profunda cicatriz”.

No Brasil, que começava a ensaiar leve recuperação da recessão econômica, os dados obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 1,2 milhão de pessoas adicionais entraram no time dos desempregados nos primeiros três meses de 2020. Entre os jovens de 18 a 24 anos, o desemprego subiu de 23,8% (dado do último trimestre de 2019) para 27,1% — mais do que o dobro da média nacional de desemprego, de 12,2%. No Nordeste, o índice de desemprego entre jovens é maior ainda: mais de um terço da população entre 18 a 24 anos.

“A crise econômica provocada pela covid-19 está atingindo a população mais jovem — especialmente mulheres — mais rápido do que qualquer outro grupo”, afirma em comunicado Guy Ryder, diretor-geral da OIT. “Se não agirmos de modo imediato e significativo para melhorar sua situação, o legado do vírus pode permanecer no mercado de trabalho por décadas. Para Scarpetta, da OCDE, este é um momento crucial para investir em capital humano, porque muitos jovens podem estar tentados a abandonar a escola e entrar no mercado de trabalho para ajudar suas famílias. Mas é crucial tentar mantê-los estudando.

“Vimos isso no Japão nos anos 1990, quando eles tiveram uma década perdida – muitos recém-formados não conseguiram se empregar, acabaram migrando para empregos precários e mesmo quando a economia se recuperou, nos anos 2000, eles não conseguiram encontrar bons empregos, porque as empresas preferiam contratar novos formandos. Gerou-se um estigma contra aquela geração por ter passado muito tempo em empregos precários. Eram considerados de segunda classe”.

Scarpetta afirma que momentos de ruptura como o atual tendem a acelerar mudanças que já estavam em curso no mercado de trabalho, como automação, informalidade, mais rotatividade dos trabalhadores, mais mobilidade de um emprego a outro e, para muitos, a necessidade de conciliar mais de um emprego ao mesmo tempo. No Brasil, segundo o IBGE, a taxa de informalidade da economia chegou a 39,9% no primeiro trimestre de 2020 — na prática, o setor informal emprega 36,8 milhões de pessoas.

Em um relatório prévio, de janeiro, feito com base em uma pesquisa com estudantes de 15 anos do mundo inteiro, a OCDE identificou que a maioria dos jovens sonha com um número limitado de carreiras, bastante parecidas às citadas por jovens entrevistados na mesma pesquisa oito anos antes, em 2000 – entre elas, médico, advogado, policial, psicólogo, professor e arquiteto.

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