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sexta-feira, 22 novembro, 2024

O amor acabou

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Chico Malvadeza
Sou o que você quiser

Magda estava casada há mais de dez anos. Submissa ao marido, o Fernandão, não perguntava os motivos dos constantes atrasos. Desconfiava, mas ficava quietinha em seu canto. Não reclamava de passar suas camisas, nem lavar suas cuecas. Sempre que encontrava dinheiro esquecido nos bolsos de calças ou paletós, guardava. E guardava junto ao dinheiro que furtava constantemente do marido.
O casal não tinha filhos, mas Magda resolveu que precisava ir à igreja.

Pelo menos isso foi o que ela disse a Fernandão – um sujeito forte, grande, com fama de violento e pouco chegado à religião, fosse ela qual fosse. Com sua fé de araque, Magda passou a sair no começo de noite. Deixava o carro (abastecido e mantido pelo marido) no estacionamento de um centro de lazer onde havia de tudo – bares, lanchonetes e até banca de revistas. Dizia ao marido que frequentava cursos noturnos na igreja. Ele acreditou. E já que ela fazia um curso noturno, ele resolveu fazer um também. A conversa entre o casal não teve entreveros.Os dois concordaram que estudar era bom.

Mas o “curso” de Magda era diferente. Bem diferente. Uma vez estacionado o carro, era só ela aguardar a chegada de Chiquinho, um rapaz de seus vinte e poucos anos, saradão e bom de cama. Magda passava para o carro dele e juntos iam a motéis. Passavam horas farreando, e lá pelas dez voltavam ao estacionamento. Ali ela pegava seu carro e ia para casa. A farra durou anos. E quem bancava o motel, as camisas, o tênis de Chiquinho era ela.

Numa noite, Fernandão não teve aula. Com amigas do seu curso de gestão em alguma coisa, sugeriu uma comemoração, uma bebedeira. E foram, ele e duas amigas, para o mesmo lugar onde Magda deixava seu carro para praticar suas aventuras.

Nessa mesma noite, que ela estava até com lingerie mais caprichada, Magda foi para o estacionamento de costume, e lá chegando viu o carro do marido. Pegou seu celular e avisou Chiquinho para não vir, pois havia risco. E ela, com sua mente diabólica, ainda estava pensando em dominar Fernandão. Dar um troco às reclamações dele. Devolver um pouco das humilhações em público. E, calmamente, ela fechou seu carro e foi para dentro desse centro de lazer.

Não precisou andar muito para surpreender Fernandão e suas amigas num bate papo animado, até meio íntimo, num dos bares do lugar. Se fez de furiosa e foi à mesa tomar satisfações. Disse que estava sendo traída por ele, que homem é tudo igual, e que a família iria saber de tudo. As amigas, prudentemente – e tavez temendo as unhadas e puxões de cabelos – trataram de sair de fininho. Sobraram Magda e Fernandão. Ela gritando, fazendo escândalo sobre a traição que não existia. Ele tentando justificar.

Ela se fez de calma, e disse que a conversa continuaria em casa. E continuou. Ela disse que ele estava perdoado. Ele implorou para que ela ficasse. Ficou. Foi dormir em quarto separado, pois dizia sentir o perfume da outra. Na semana seguinte a vida continuou como antes. Magda continuou com seu curso – Chiquinho professor. Aulas em motéis, desde que não pedissem documento na portaria. E Fernandão feliz da vida por ter consigo alguém que lhe cozinhava e passava suas roupas. Chiquinho não tem mais onde guardar camisas.

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