Fala-se muito nos dias atuais sobre preconceito de cor ou religião. Pouco, ou quase nada se fala, sobre outro tipo de preconceito, pior, mais venenoso e mais degradante que o de cor e o de religião somados. É o preconceito contido na pergunta: onde você mora?
Impõe-se, com a pergunta, uma clara divisão de classe social, de ricos e pobres, de gente fina e marginal. Como se morar em determinado bairro conferisse status moral e em outro o status de criminoso, de pária ou de mendigo. É uma teoria de Lombroso disfarçada, maquiada com outras cores e questões.
Dia desses, um sujeito teve crédito recusado numa loja por estar no Morada das Vinhas. Não se conhece o desfecho da história (ainda), mas espera-se que esse sujeito tenha procurado Polícia, Justiça, Procon e tudo o que tiver direito para colocar o atendente do crediário e o dono da loja em seus devidos lugares.
Há muitos anos, morar na Hortolândia era demérito. Era sinônimo de pobreza. Como todos os bairros, o começo da Vila Hortolândia também foi difícil. Teve encrenqueiros famosos (alguns até históricos), marginais perigosos. Mas isso aconteceu em todos os lugares. Com o tempo, há uma espécie de seleção natural, com as famílias de bem se sobrepondo aos poucos encrenqueiros e fora de linha dos bairros.
Morar num bairro distante não quer dizer absolutamente nada. Se o preço do imóvel é mais barato, se o aluguel é mais em conta, foi escolhido por alguém que podia pagar pelo que pediram. Não quer dizer que essa pessoa não tenha caráter.
E morar em bairro distante, na maioria das vezes, é bem melhor que morar em bairros considerados mais de elite. Há liberdade para o churrasco com os amigos; não há competição sobre quem tem o carro do ano; há mais conhecimento entre as pessoas, e consequentemente mais camaradagem.
Em bairros mais humildes e distantes, não há gente de nariz empinado. Há solidariedade. E é nesses bairros que estão as pessoas que prestam serviços em casas e comércio de bairros mais elitizados. Ou alguém acredita que a doméstica que trabalha no Jardim Ana Maria more com sua família no Terras de São Carlos?
Sabemos que é difícil para com essa distinção de classes. É quase uma utopia. Mas um pouco de humildade não faz mal a ninguém. Só ajuda.
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