O fato está sendo visto como a chegada do progresso a Jundiaí. Está marcada para o dia 20 a inauguração da Babel Arena, uma casa de shows e baladas com capacidade para sete mil pessoas. Poder-se-ia também marcar para esse dia a inauguração de uma série de problemas na já problemática avenida Luiz Latorre: a arena fica entre as faculdades Anhanguera e Unip.
A Anhanguera já causa problemas demais no trânsito da região. Não tem estrutura para abrigar os carros de seus alunos. A confusão é diária, e embora todo mundo reclame, nada acontece. Uma casa desse porte na mesma Luiz Latorre vai só piorar a situação. Para quem mora lá por perto. Ou para quem precisar passar pela avenida.
O que se apurou é que a empresa é uma espécie de arena nômade – fica alguns meses numa cidade e se muda para outra. Apurou-se também que vai contratar mão-de-obra temporária, o que de certa forma é bom.
Se vai recolher impostos, se vai pagar o Ecad, se os Bombeiros aprovam a arena são outras histórias. Mas há um cálculo simples: num evento onde são esperadas sete mil pessoas, pelo menos dois mil carros estarão procurando vaga para estacionar em suas proximidades. A Babel afirma que terá estacionamento para mil. Daí a previsão do furdúncio.
A Prefeitura embargou a obra na segunda-feira (9). Faltava o licenciamento, embora os responsáveis pela arena garantam que está tudo em ordem (veja nota nesta página). Não está. Primeiro, que dificilmente a estrutura que foi montada no terreno comportaria sete mil pessoas.
Segundo, que o estacionamento previsto, para mil carros segundo os organizadores, não comporta tanto. A não ser que os carros sejam empilhados. Ou que todo mundo vá com carrinho de autorama.
Os documentos que faltavam incluiam a planta indicando áreas, como estacionamento, recuos, relatório de impacto no trânsito, controle de som e ruídos, além da indicação dos responsáveis técnicos. Na terça, a Prefeitura liberou o negócio.
Na mesma terça-feira (10), faltando dez dias para a anunciada abertura, a situação é a que se vê na foto. Uma armação de aço, que deverá ser coberta, e terra para todos os lados – se chover, para sair de lá só com trator de lagarta.
Se tudo isso for consertado, restam outras questões: teria a Polícia Militar gente suficiente para pelo menos dar uma olhada na multidão? Teria a Unidade de Trânsito pessoal suficiente para ordenar a bagunça a ser formada pelos carros?
Não é demais lembrar que há alguns anos, um show-balada no estacionamento do Maxi Shopping provocou muitos problemas. Não se sabe como tudo começou, mas teve gente pisoteada na confusão. Faltou estrutura.
Empreendimentos desse gênero costumam ter vida curta. Há anos, apareceu em Jundiaí uma casa do tipo, prometendo revolucionar os provincianos costumes. Durou seis meses, apesar de seu inusitado nome – The Jungle. O mesmo tempo pretendido pela Babel.
Babel não tem nada de inusitado em questão de nome. Está numa passagem bíblica, a construção da Torre de Babel, onde ninguém se entendeu e foi só confusão. A esperança é que a história não se repita. Em tempo: a inauguração está marcada para às dez da noite. Sinal que haverá muito barulho e muito lixo no dia seguinte a ser recolhido.
Para organizadores, está tudo certo
A Babel Arena divulgou nota na terça-feira desmentindo tudo o que se fala sobre o empreendimento. Segundo a nota, “está cumprindo todas as exigências da Prefeitura de Jundiaí para instalação do seu espaço de shows na avenida Prefeitu Luiz Latorre, com geração de 250 empregos diretos e 300 indiretos”.
Ainda segundo a nota, “todos os documentos pedidos pelas secretarias envolvidas foram entregues, restando apenas alguns detalhes técnicos, que são padrões quando se abre uma empresa ou cria-se um evento, com a previsão das vistorias necessárias”.
A nota também lamenta o que se diz do empreendimento: “A Arena Babel lamenta profundamente que algumas pessoas tenham agido de má fé, indo contra o lazer da população e dos jovens. Neste momento em que enfrentamos uma das piores crises no Brasil, investimentos como esse deveriam ser aplaudidos e não destruídos”.
Nota da Redação: Não se questiona a intenção do empreendimento, e sim as consequências de aglomeração de carros e público, além do barulho, possam ter numa região. O fato de gerar empregos não exime os organizadores dos problemas. Se gerar empregos servir de desculpas para tudo, logo teremos a subversão da ordem – o tráfico gera mais empregos que centenas de babéis juntas.