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sexta-feira, 22 novembro, 2024

Bruxismo é comum em indivíduos com transtorno de estresse pós-traumático

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Segundo uma pesquisa divulgada na revista Clinical Oral Investigations, indivíduos que lidam com o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) frequentemente relatam uma tendência a apertar ou ranger os dentes de forma persistente durante o dia, um comportamento conhecido como bruxismo de vigília. O estudo, que envolveu a análise clínica de cerca de 80 pacientes, entre casos e controle, destaca a importância da colaboração entre dentistas e psiquiatras para um diagnóstico mais preciso desses dois problemas de saúde.

Originado nos Estados Unidos, o conceito de transtorno de estresse pós-traumático surgiu inicialmente a partir do comportamento observado em veteranos de guerra, mas ao longo do tempo passou a englobar também vítimas de violência urbana. Estima-se que cerca de 4% das pessoas expostas a eventos violentos ou acidentais, como combate, tortura, ameaça de morte, balas perdidas, desastres naturais, lesões graves, violência física ou sexual e sequestros-relâmpagos, sejam afetadas por essa condição.

“Considerando que, na Região Metropolitana de São Paulo, mais de 50% dos habitantes já foram expostos a algum tipo de trauma urbano, número comparável a áreas de conflito civil, é de grande importância entender as possíveis manifestações psicológicas e físicas do TEPT, que podem perdurar por anos após o trauma”, afirma Yuan-Pang Wang, pesquisador do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-FM-USP) e coautor do estudo.

Entre esses sintomas estão a lembrança angustiante, involuntária e recorrente do evento, estado emocional negativo, comportamento autodestrutivo, alterações no padrão de sono e reação dissociativa (alterações em consciência, memória, identidade, emoção, percepção do ambiente e controle de comportamento), entre outros. Poucos trabalhos, no entanto, estudaram a relação do estresse pós-traumático com a dor orofacial e o bruxismo, que é definido como a atividade repetitiva do músculo da mastigação. Sua prevalência na população geral varia entre 8% e 30%.

Neste estudo, apoiado pela Fapesp, pacientes diagnosticados com TEPT no Ambulatório de Trauma do Instituto de Psiquiatria da FM-USP foram encaminhados a um exame clínico que tinha como objetivo analisar sua saúde oral.

Segundo os pesquisadores, além de relatarem bruxismo, os pacientes também demonstraram uma redução no limiar de dor após o exame clínico.

“Foi observado que a higiene bucal não estava correlacionada com o problema”, relata Ana Cristina de Oliveira Solis, primeira autora do estudo. “A avaliação periodontal, que incluiu a mensuração do nível de placa bacteriana e sangramento gengival, revelou que pacientes com estresse pós-traumático apresentaram níveis de higiene bucal semelhantes aos dos controles. No entanto, os pacientes relataram sentir mais dor após a sondagem.”

Multidisciplinar

Segundo os pesquisadores, o bruxismo não é mais considerado apenas um sintoma isolado, mas sim um indicativo de um problema mais amplo. “Nosso estudo mostra que pode haver uma manifestação do transtorno de estresse pós-traumático na cavidade oral, evidenciada pelo bruxismo e pela maior sensibilidade à dor após o exame clínico odontológico. Isso destaca a importância da colaboração entre psiquiatras, psicólogos e dentistas, o que pode facilitar o rastreamento e o tratamento de ambas as condições de saúde”, afirma Solis.

Para isso, a pesquisadora sugere que, durante o exame clínico, os dentistas estejam atentos aos relatos de dor dos pacientes e considerem a possibilidade de estarem lidando com pessoas com problemas psiquiátricos não diagnosticados.

“Os pacientes que passaram por eventos traumáticos podem sentir dificuldade em falar sobre o assunto e buscar ajuda especializada; no entanto, é muito mais comum e frequente procurarem atendimento odontológico”, observa Solis. “Portanto, seria benéfico que os dentistas incorporassem em suas práticas rotineiras instrumentos de rastreamento para transtornos mentais e os aplicassem nesses pacientes. Além disso, é essencial orientar o paciente a buscar ajuda especializada.”

Por sua vez, os psiquiatras podem indagar os pacientes com TEPT sobre sintomas bucais, como bruxismo, dor muscular e da articulação temporomandibular (ATM). Em caso positivo, devem encaminhá-los ao dentista para que o tratamento multidisciplinar seja realizado e a qualidade de vida desses pacientes seja melhorada.

O artigo “Self-reported bruxism in patients with post-traumatic stress disorder” pode ser acessado em: link.

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