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sexta-feira, 22 novembro, 2024

Só 8% dos eleitos para o Congresso são nomes novos na política

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O resultado das eleições do último dia 2 revelam que o Congresso terá uma renovação efetiva de apenas 8% de suas cadeiras O resultado das urnas mostrou que a maioria dos deputados e senadores eleitos já ocupou mandatos, cargos de alto escalão do governo ou é herdeira de famílias tradicionais da política. Sem contar essas situações, sobram apenas 39 deputados sem vínculo político que tomarão posse em 2023. No Senado, só um  eleito nunca ocupou antes um cargo público.

Em fevereiro, a posse dos deputados provocará a troca de 45% dos assentos na Câmara. Mas essa substituição esconde vínculos que representam a continuidade dos grupos dominantes da política brasileira, como indica levantamento feito pelo Instituto Millenium. As informações são do Estadão.

O estudo leva em consideração a renovação de quem nunca teve mandato. Para os autores, o resultado das urnas não apenas mantém a atual configuração do jogo político em Brasília como dificulta a entrada de novos nomes no Legislativo.

Já entre os eleitos, os que vão assumir sob o peso de dinastias, estão as famílias Arraes e Campos, em Pernambuco. João Campos, filho de Eduardo Campos; e Marília Arraes, neta de Miguel Arraes, que chegou à Câmara em 2018. João foi para a prefeitura do Recife e Marília tenta agora ser governadora, mas o clã não ficará sem representantes no Congresso. Pedro Campos (PSB), 26 anos, irmão de João; e Maria Arraes (Solidariedade), 28, irmã de Marília, estão entre os deputados eleitos.

Dos veteranos, permanecem Eunício na presidência do Senado e dois mandatos anteriores na Câmara. Herdeira da principal família política do Maranhão, Roseana Sarney (MDB) também foi eleita deputada, após ter sido quatro vezes governadora, além de senadora. Antes, Roseana passou pela Câmara, assim como Eunício.

Outros “novatos” não trazem a política no sangue, mas foram apadrinhados após ocupar altos cargos em ministérios ou secretarias, como Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde; e Mario Frias, que foi secretário de Cultura no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). Isso sem falar de deputados estaduais, vereadores e daqueles que já estiveram em outros postos da administração pública.

Candidato a deputado federal com maior votação proporcional do País, Amom Mandel (Cidadania-AM), 21 anos, será o segundo mais jovem da Câmara. Ele foi eleito com 288.555 votos, 14,5% do total de votos válidos do Amazonas. Apesar da idade, Mandel também não se encaixa na renovação efetiva, pois é vereador em Manaus e vem de uma família com cargos no Judiciário do Amazonas.

Domingos Jorge Chalub Pereira, avô do deputado eleito, é desembargador do Tribunal de Justiça do Amazonas e já presidiu a Corte. A mãe, Elza Vitória de Mello, também é juíza no Estado. O padrasto, Mário de Mello, ocupa um cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Amazonas. Mandel disse que sua atuação política, focada na pauta ambiental, não está vinculada à família. “Não tem nova política e velha política. Tem política boa e política ruim, e eu tento fazer a boa. Tenho muitos embates com o meu avô. Não tem essa para mim”, afirmou ele.

Até mesmo na lista dos 39 deputados eleitos que, pelo critério do estudo, representam a efetiva renovação na Câmara, há nomes que já têm histórico político. É o caso de Guilherme Boulos (PSOL), deputado mais votado em São Paulo que foi candidato ao Palácio do Planalto, em 2018; e de Bandeira de Mello (PSB-RJ), ex-presidente do Flamengo com passagens pela Rede e pelo PSB.

Fora desses círculos sobram os influenciadores digitais, que estreiam na política impulsionados por seus seguidores nas redes sociais. É nesse capítulo que entram Delegado da Cunha (PP-SP), famoso por transmitir operações policiais na internet, e Fabio Teruel (MDB-SP), palestrante motivacional e religioso. Entre os novatos “puro sangue” estão, ainda, o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol (Podemos-SP) e o caminhoneiro Zé Trovão (PL-SC), eleito com tornozeleira. Trovão foi punido por desferir ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF).

“Para ser eleito, o deputado precisa acumular pelo menos 70 mil votos em Estados médios e grandes. Então, é muito difícil um novato entrar, a não ser transferindo a popularidade de outro lugar, como celebridade ou influenciador”, disse o cientista político João Feres Junior, coordenador do Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB), órgão vinculado à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). “A maioria dos partidos não tem democracia interna e é controlada por oligarquias. Uma pessoa influente na burocracia partidária é mais beneficiada, embora ser filho de alguém não qualifique nada.”

No Senado, dos 27 candidatos eleitos no último dia 2, 22 não estão na Casa atualmente. A maioria, no entanto, é formada por políticos experientes, como os ex-governadores Flávio Dino (Maranhão), do PSB, e Renan Filho (Alagoas), do MDB, primogênito do senador Renan Calheiros. Apenas um candidato que venceu a disputa nunca ocupou cargo público: trata-se do empresário ruralista Jaime Bagattoli (PL-RO), apoiador de Bolsonaro.

“Há uma tendência de deixar o Congresso menos fragmentado, com nomes estabelecidos. Isso traz uma certa estabilidade para o jogo político, mas o modelo prejudica novos entrantes”, afirmou o cientista político Diogo Costa, um dos autores do estudo, ao lado da jornalista Priscila Chammas e do cientista de dados Wagner Vargas. Para Costa, a baixa renovação se deve à concentração de recursos públicos para financiar quem já faz parte dos círculos políticos. Na lista dos eleitos, os candidatos à reeleição receberam 80% mais recursos do que quem não disputou novo mandato. “O risco é esse modelo ficar engessado e se tornar um padrão”, observou o cientista político. (Fonte: Estadão Conteúdo)

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