A Prefeitura de São Paulo anunciou que vai comprar 650 toneladas de peixe para servir a criançada da merenda escolar. E não é qualquer peixe; é o cação. E cação nada mais é que um tubarão. Depois daquela ideia de jerico do Doria, quando era prefeito da Capital, de servir ração para a criançada, não se esperava uma repetição da idiotice. Mas o atual prefeito paulistano conseguiu.
A indignação é geral. Médicos e cientistas não se cansam de comprovar que o tubarão, que está no topo da cadeia alimentar, tem em seu organismo muitos metais pesados, como mercúrio e chumbo. O consumo de sua carne faz mal aos adultos. E esse mal é potencializado em crianças. Explicando melhor: o adulto tem mais peso, mais resistência e por isso a ingestão dessa carne com metais pesados faz menos mal, uma vez que isso é diluído numa grande massa corpórea. O que não acontece com as crianças.
Até ambientalistas estão condenando essa compra, alegando que retirar 650 toneladas de tubarões dos mares causa desequilíbrio. E, para se ter 650 toneladas de carne, teriam de ser pescadas um milhão e trezentas mil toneladas do peixe, uma vez que não servidos os ossos, pele, cartilagens etc.
A merenda escolar é uma espécie de calcanhar de Aquiles de muitas prefeituras. Há os fornecedores honestos e cônscios de suas responsabilidades. E há aqueles que driblam qualquer exigência pagando propinas e burlando concorrências. E essa compra de tubarão – perdão, oficialmente cação – está cheirando mal. Está cheirando peixe podre.
O autor da ideia não é conhecido, mas a partir do momento que o prefeito autoriza uma idiotice desse tamanho passa a ser responsável por ela. Talvez, diante de tantos protestos, a prefeitura paulistana desista do cação/tubarão. Mas é um risco. Alguém pode ter ideia pior e sugerir comprar baiacu. Ou quem sabe, carne de baleia. É tudo uma questão de falta de encéfalo.
ANSELMO BROMBAL
Jornalista