Uma mesa redonda na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), realizada nesta quinta-feira (17), gerou controvérsia após uma das palestrantes, a historiadora da arte e cantora piauiense Tertuliana Lustosa, realizar uma performance de teor erótico. O evento, intitulado “Dissidências de gênero e sexualidades”, foi organizado pelo Grupo de Pesquisa Epistemologia da Antropologia, Etnologia e Política (Gaep).
Tertuliana, que é travesti, foi convidada para falar sobre questões relacionadas a gênero e sexualidade, mas surpreendeu a plateia ao incorporar elementos de dança e expressão corporal em sua apresentação, provocando reações diversas entre os participantes.
O vídeo da performance de Tertuliana, que também é mestranda em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia e vocalista da banda “A Travestis”, foi compartilhado em suas redes sociais e mostra a artista cantando e dançando um brega funk intitulado “Educando com o C*” na mesa dos palestrantes. Durante a apresentação, Tertuliana exibe os glúteos para o público, sendo aplaudida ao final.
Nas redes sociais, a performance gerou críticas, com diversos internautas classificando a apresentação como “vergonhosa” por ter ocorrido em um ambiente acadêmico, questionando a adequação do teor da performance para uma palestra universitária.
A música “Educando com o C*”, apresentada por Tertuliana na UFMA, também é o título de um artigo acadêmico da historiadora, intitulado “Educando com o c*: traveco-terrorismo e descolonialidade de gênero na arte”. No trabalho, ela busca discutir as implicações do prazer e do corpo como formas de potência pedagógica e artística.
Após a repercussão do vídeo, Tertuliana comentou que essa não é a primeira vez que a abordagem causa polêmica, mencionando que o estudo já foi apresentado em outras universidades brasileiras. “Desde o primeiro evento ‘Educando com o C*’, houve reações negativas, com pessoas criticando a universidade, chamando-a de balbúrdia. Mas o que falta é entendimento sobre a produção de conhecimento”, afirmou.
Nas redes sociais, a historiadora defendeu sua proposta pedagógica, explicando que “educar com o c*” é uma forma de confrontar preconceitos e desafiar normas tradicionais. Ela se autodenomina uma “trava das peste” e declara que continuará a usar sua identidade de travesti nordestina para questionar o sistema. “Onde quer que eu vá, levarei minha travestilidade nordestina para desafiar o status quo”, acrescentou.
A Universidade Federal do Maranhão, por meio de nota, informou que está apurando o caso e tomará as medidas necessárias após ouvir todos os envolvidos, reafirmando seu compromisso com a manutenção de um ambiente acadêmico inclusivo, respeitoso e transparente.
Nota
“Nesta quinta-feira, 17, a historiadora Tertuliana Lustosa, na condição de palestrante convidada pelo Grupo de Pesquisa Epistemologia da Antropologia, Etnologia e Política – GAEP, apresentou a sua pesquisa durante a Mesa-Redonda “Dissidências de gênero e sexualidades”, em que reproduziu e performou uma de suas canções, considerada inapropriada para o momento e a construção do debate acadêmico-científico em que se encontrava.
Como sabido, a Universidade é um espaço plural e de diálogos, dedicado ao conhecimento, à diversidade de ideias e ao respeito mútuo. Por isso entendemos que a liberdade de expressão é um pilar fundamental da academia, mas também ressaltamos a importância de se manter um ambiente harmônico e respeitoso para todos os membros da nossa comunidade.
Por ser um lugar de múltiplas formas de conhecimento, os cursos, de graduação e de pós-graduação, possuem autonomia para discutir os variados temas que permeiam a nossa sociedade e que se apresentam com base em diversas teorias científicas. Ressalta-se. contudo, que a UFMA não compactua com quaisquer tipos de ações que possam desrespeitar os valores e princípios basilares da instituição.
Nesse sentido, a UFMA informa que está averiguando o ocorrido e tomará as providências cabíveis, após o comprometimento de ouvir todas as vozes, reafirmando seu compromisso com um ambiente acadêmico inclusivo, respeitoso e transparente.
Reafirma-se, por fim, que todos os esforços da Universidade buscam a melhoria de uma sociedade mais justa, inclusiva e comprometida com a pluralidade de vozes e saberes em defesa do ensino público, gratuito e de qualidade.”