Nesta quarta-feira (15), a Petrobras registrou uma perda de quase R$ 50 bilhões em seu valor de mercado, seguindo o anúncio da saída do CEO da companhia, Jean Paul Prates. As ações preferenciais caíram mais de 8% no momento mais crítico, enquanto as ordinárias despencaram quase 10% nos primeiros negócios.
O Ministério de Minas e Energia indicou Magda Chambriard, ex-diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), como substituta. Fontes afirmaram à Reuters que a diretora de Assuntos Corporativos da estatal, Clarice Coppetti, é a mais cotada para assumir interinamente.
Por volta das 11h55, as ações preferenciais (PN) da Petrobras registravam queda de 5,97%, cotadas a R$ 38,43, enquanto as ordinárias (ON) perdiam 7,1%, a R$ 39,88, sendo as maiores quedas do Ibovespa, que cedia 0,69%. Investidores expressaram preocupação com uma possível maior ingerência política na empresa após a mudança, o que poderia impactar seus dividendos.
Na mínima, as ações preferenciais atingiram R$ 37,50, enquanto as ordinárias chegaram a R$ 38,82, representando uma perda de R$ 49,5 bilhões em valor de mercado.
Os analistas do Goldman Sachs consideram a notícia negativa.
“Com base em nossas conversas com investidores, acreditamos que o mercado viu o Sr. Prates como um bom conciliador entre os interesses dos investidores e do governo. Além disso, acreditamos que o anúncio poderá reacender preocupações sobre uma potencial intervenção política nas operações da empresa”, afirmaram Bruno Amorim e equipe.
Em relatório aos clientes, eles citaram que o comando da Petrobras mudou várias vezes no passado após desentendimentos entre a administração da empresa e o governo, levando a quedas nas ações nos dias seguintes aos eventos.
No entanto, observaram que as cotações se recuperaram, com fundamentos sólidos e uma melhor governança como resultado das mudanças iniciadas em 2016.
“Finalmente, acreditamos que será importante que os investidores monitorem se algum aspecto da governança será alterado após o anúncio. As leis atuais e os estatutos da Petrobras em vigor tornariam um desafio para uma nova administração alterar significativamente a alocação de capital e as políticas de preços de combustíveis”.
O anúncio da mudança no comando da Petrobras aconteceu um dia após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre da empresa, cujo lucro caiu 38% em relação ao ano anterior, para R$ 23,7 bilhões. Antes disso, no entanto, já havia descontentamento no governo com os rumos da companhia e com a gestão de Prates.
Os analistas Conrado Vegner e Vinícius Andrade, do Safra, citaram em relatório aos clientes que a reação negativa do mercado decorre principalmente da maior percepção de risco de possível interferência política nas decisões da empresa, em vez de uma opinião negativa sobre Chambriard.
“Este anúncio foi inesperado e ocorre em um contexto de elevada pressão política”, reforçaram os analistas da XP Regis Cardoso e Helena Kelm, em relatório enviado aos clientes.
“Na nossa visão, a mudança na gestão adiciona incerteza ao caso de investimento e aumenta a percepção de risco dos investidores. Este contexto provavelmente levantará preocupações dos investidores minoritários sobre o possível risco de interferência do acionista majoritário — ou seja, o governo — na gestão da empresa”.
Eles disseram ainda que Chambriard deve assumir o comando da Petrobras em um contexto desafiador de significativas pressões externas. Por outro lado, destacaram que ela encontrará a empresa com uma forte geração de fluxo de caixa livre, um balanço patrimonial desalavancado e um portfólio de investimentos sólido.
A XP explicou que, segundo o estatuto da empresa, o novo CEO da Petrobras precisa primeiro ser eleito como membro do conselho de administração da empresa. O nome deve ser aprovado pelo Comitê de Pessoas do conselho, para cumprimento de várias regras de elegibilidade, antes de ser submetido a uma votação pelo colegiado.
“O caminho mais rápido para a nomeação é a renúncia de um dos membros do conselho atual, para que o novo nomeado possa ser designado como substituto no conselho e subsequentemente eleito CEO — o que acreditamos que acontecerá neste caso”, afirmaram os analistas.
A Petrobras informou que recebeu na terça-feira solicitação de Prates para que o conselho de administração da estatal se reunisse para apreciar o encerramento antecipado de seu mandato como CEO. A reunião, que pode aprovar sua saída, está marcada para esta quarta-feira.
Em mensagem a amigos obtida pela Reuters, Prates afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu seu cargo, acrescentando que deveria “nomear Magda”. Ele citou ainda que os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa, estavam satisfeitos com sua saída.