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sexta-feira, 26 abril, 2024

Compostos de alga marinha vermelha podem combater a esquistossomose

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Uma pesquisa do Instituto Butantan publicada na revista Marine Drugs identificou três compostos
presentes em algas marinhas vermelhas da espécie Laurencia dendroidea que podem ser novos aliados no tratamento da esquistossomose. Elatol, rogiolol e obtusol demonstraram atividade significativa contra o parasita causador da doença, o Schistosoma mansoni, inibindo completamente a sua reprodução e a liberação dos ovos. A hipótese é que os compostos poderiam ser usados tanto no desenvolvimento de novos medicamentos quanto de pesticidas para controle ambiental da doença, que é transmitida para humanos por meio de caramujos infectados.

Segundo a diretora do Laboratório de Parasitologia do Butantan, Eliana Nakano, coordenadora do
estudo, essas substâncias são metabólitos secundários produzidos pelas algas e fazem parte de seu mecanismo de defesa. “As algas marinhas produzem metabólitos que têm halogênios na molécula, como cloro e bromo, elementos altamente reativos que conferem uma ação muito diferenciada. Após analisarmos mais de 40 espécies de algas em uma etapa anterior, vimos que a Laurencia dendroidea tem compostos com alta atividade antiparasitária”, explica.

No atual estudo, os compostos foram testados diretamente nos vermes adultos e todos induziram 100% de separação dos casais e inibiram totalmente a oviposição. O rogiolol foi o mais efetivo, matando 90% dos vermes expostos após 72 horas e 100% ao final da exposição de 96 horas. Já nas larvas do parasita que infectam o homem, os três compostos induziram 100% de mortalidade.

Os cientistas também testaram as substâncias em embriões de caramujo, hospedeiro intermediário da doença, resultando em total mortalidade. “O controle da esquistossomose pode ser feito tratando o indivíduo com o medicamento ou tratando o ambiente, usando moluscicidas para eliminar focos de caramujos infectados. Em geral, as duas medidas são recomendadas e usadas para controle”, diz Eliana.

Segundo a pesquisadora, após selecionar os compostos com melhor desempenho, o próximo passo é fazer alterações na estrutura química das moléculas para identificar quais são os grupos funcionais envolvidos na atividade antiparasitária, e assim sintetizar novas moléculas análogas com maior especificidade ao alvo.

Além dessa pesquisa, o Butantan faz outros estudos relacionados ao combate à esquistossomose,
inclusive sobre o possível desenvolvimento de uma vacina. Recentemente, um estudo mostrou que os macacos rhesus (Macaca mulata) são capazes de gerar anticorpos poderosos contra o parasita, ficando protegidos ao sofrerem uma segunda infecção.

Produtos naturais contra parasitas resistentes
A busca por medicamentos e pesticidas de origem natural têm sido cada vez mais explorada na ciência; além de serem, em geral, mais seguros, biodegradáveis e amplamente disponíveis na natureza, são uma fonte rica e diversificada de compostos potencialmente ativos. No caso da esquistossomose, é importante procurar alternativas para o tratamento, porque só existe um fármaco contra a doença, o que facilita o aparecimento de linhagens resistentes do parasita. “O praziquantel é usado há mais de 40 anos e já foi e tem sido administrado em milhões de pessoas. Além disso, o medicamento é aplicado não só no tratamento da doença humana, mas também em veterinária, aumentando o risco de surgirem parasitas resistentes”, aponta a cientista Eliana Nakano.

Sobre a esquistossomose

A esquistossomose, popularmente conhecida como “barriga d’água”, é uma doença parasitária causada pelo verme Schistosoma mansoni. A transmissão ocorre quando o indivíduo tem contato com água doce onde há caramujos infectados. As larvas penetram a pele, se desenvolvem para a fase adulta após cerca de 30 dias e começam a colocar os ovos, que causam a doença em si.

A fêmea pode colocar de 300 a 400 ovos por dia, porém menos da metade dos ovos é liberada pelas fezes – o restante fica retido nos tecidos do corpo, podendo causar uma série de problemas.
Inicialmente, podem aparecer alguns sintomas inespecíficos, como febre, dor abdominal e diarreia. Já na fase avançada da doença, podem ocorrer sangramentos, aumento do tamanho do baço, maior acúmulo de líquido no abdômen (chamado de “barriga d’água”) e veias dilatadas no esôfago.

Apesar de haver tratamento para a esquistossomose, não existe vacina, e cerca de 1,5 milhão de
pessoas vivem em áreas com risco de contrair a doença. Algumas regiões brasileiras são endêmicas por falta de saneamento básico, incluindo os estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe, Espírito Santo e Minas Gerais.

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