Causa estranheza para muita gente quando nós, acima dos 50 anos, aparecemos animados em lugares tidos como animados. Isso não seria coisa para nós. Muitos nos querem em casa, sem participar de nada. Nosso tempo já passou, é hora de dar vez aos mais novos – e até concordamos que sim. Mas não aceitamos que nos coloquem um pijama e um par de chinelos.
Se dançarmos, somos assanhados. Se tivermos uma namorada (ou namorado) somos tarados. Se for uma namorada mais nova, jocosamente nos chamam de pedófilos. Se tiver um namorado mais novo, é papa-anjo. Se bebemos nossa sacrossanta cerveja, somos desavergonhados, damos mau exemplo à juventude. Se fumamos, somos aconselhados a parar enquanto é tempo.
Não é o que essa gente espera de nós. O ideal para essa gente é que fiquemos em casa, de pijama e chinelos, e passemos o dia em frente a televisão. Homens devem ver futebol e filmes, mulheres, novelas e outros dramalhões. Dizem que formamos a terceira idade. Talvez tenham razão. Idade da sabedoria, da experiência, do conhecimento.
Pregam e insistem que mulheres acima dessa idade devem ser recatadas senhorinhas. Nada de uma roupa mais ousada, nada de cabelo arrumado, nada de maquiagem. Querem que homens nessa faixa de idade discutam assuntos como valor da aposentadoria, reumatismo e tratamentos para males que surgem com a idade. E todos nós, homens e mulheres cinquentões, sessentões, devemos ser proibidos de discutir assuntos mais polêmicos. Somos os tiozões e as tiazonas. Mas é melhor ser assim do que pertencer à essa geração de merda.
Mas podemos orgulhosamente afirmar que estamos bem melhor que a molecada atual. Muitas empresas chamaram e continuam chamando pessoas já aposentadas para ocupar cargos de responsabilidade. Por um motivo simples – não há gente mais nova capacitada para isso. Essas empresas aprenderam que os mais velhos são responsáveis, não faltam ao trabalho, não correm atrás de um atestado médico para faltar. No dia em que não pode trabalhar, avisa que não vai e pronto.
Bons exemplos estão na mídia em geral. Jornalistas mais respeitados são os mais velhos, os mais experientes. O que Alexandre Garcia ou Boris Casoy fala é mais aceito e mais crível do que as bobagens dos felipes netos da vida. E para surpresa dessa molecada, nós, que nos acostumamos à máquina de escrever, à caneta tinteiro, à tabuada, nos adaptamos à modernidade dos computadores e dos celulares. E essa molecada fica surpresa quando vê cinquentonas, sessentonas, tirando fotos com celular e postando seus assuntos em redes sociais.
Muitos de nós viajam. E até nisso nos discriminam. Excursão para a terceira idade. Quando tomamos outro rumo, somos censurados – isso é coisa para os mais novos. Não é. Não somos mais enganados. Não estamos de pijama nem de chinelos. Chegamos à terceira idade; a idade da experiência, do conhecimento, e principalmente, a idade de ligar o foda-se.
Anselmo Brombal – Jornalista