Bem que nos esforçamos para levar nossos governantes a sério. Mas eles insistem em nos entregar a piada já pronta. A última é uma notícia, divulgada pela Secretaria da Fazenda do Estado, que afirma que o Estado vai usar “ciência comportamental aplicada” para cobrar dívidas do ICMS. Dívida é dívida, e cobrança é cobrança. Mas essa ciência…
Segundo a notícia, a secretaria está usando o método Nudge, que em inglês significa empurrãozinho). E que a cobrança usa uma série de dados de outras bases para localizar quem deve. Resumindo: a secretaria fuça em tudo para infernizar a vida do devedor. Ainda segundo a notícia, “A Sefaz-SP tem empenhado esforços em novas tecnologias e uso de iniciativas avançadas que possam melhorar a cobrança e a mineração de dados de contribuintes com perfis de inadimplência”.
Pagar os impostos é dever de todos, mas governar com consciência é o mínimo que se espera de um estado do tamanho de São Paulo. Supõe-se que o dinheiro dos impostos seja usado para produzir algum benefício para quem paga. Não é bem assim. A Polícia paulista tem o menor salário entre as polícias do Brasil. As estradas sob cuidados do DER (Departamento Estadual de Rodagem) estão um lixo – mal conservadas e mal sinalizadas.
Talvez parte do calote nos impostos seja uma forma de protesto contra o desleixo governamental. Mas, em vez da secretaria usar a tal “ciência comportamental aplicada”, não seria melhor convencer quem governa de aplicar comportamento de governante? De levar a sério seus deveres? De parar com suas picuinhas?
O Estado é voraz nas cobranças, mas omisso em seus deveres. Basta ver como estão também algumas escolas estaduais. E quem acha tudo isso falácia, que dê uma volta na rodovia Tancredo Neves, a estrada velha de São Paulo – estava toda esburacada, e contratou-se empresa para consertar os buracos. Servicinho porco – os buracos sumiram, e em seus lugares ficaram saliências. E a sinalização não foi refeita, inclusive a das lombadas. O que seria isso? Conserto comportamental não aplicado?
Anselmo Brombal – Jornalista
