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domingo, 28 abril, 2024

Obrigação de dar tudo

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Há cinquenta ou sessenta anos – e até mais – crianças iam à escola para estudar. O uniforme, o material escolar, o calçado, e o lanchinho do intervalo eram comprados pelos pais. E nem se falava em intervalo – era a hora do recreio. Professores tinham todo o respeito. Tirar nota baixa era vergonha, num tempo em que elas eram de zero a cem. Nota noventa já era meio vergonhoso. E havia nota de comportamento.

As escolas eram divididas em primário, ginásio e depois colegial ou científico. Lápis tinha de ser apontado, e caneta esferográfica proibida – só caneta tinteiro. Cadernos tinham de estar impecáveis, assim como sapatos e uniformes. Páginas dos livros sem as “orelhas”. E sem rabiscos. Ensinava-se, no primário, Português, Aritmética, História do Brasil e Geografia. E ai de quem não soubesse a tabuada, ensinada e aprendida aos poucos. Meninos numa classe, meninas em outra – raríssimas as classes mistas. Ou como se dizia, misturadas.

E com o tempo tudo foi mudando. Para pior. Aritmética deixou de assim se chamar. Agora é Matemática. Língua Portuguesa é um luxo. Até o Ministério da Educação editou uma cartilha, anos atrás, afirmando que o importante é entender, e não escrever ou falar direito. Em algumas redes de ensino – uma delas considerada exemplar graças à publicidade, e não ao mérito – professores estão proibidos de ensinar tabuada. Dizem que a criança conclui sozinha os resultados.

E o governo tem obrigação de dar tudo. Uniforme escolar, calçado (agora é tênis, e não sapatos), material escolar e merenda. O governo dá? O governo não dá nada. Quem dá tudo isso somos nós, com os impostos que nos são extorquidos a fórceps. E com toda essa comodidade, toda essa facilidade, temos visto surgir gerações de analfabetos. Ou semi. Gente ignorante, gente que não pensa. E nem tem vontade de aprender. O Google está aí para isso.

Atribui-se às prefeituras a obrigação de dar creches. Supõe-se que há mães que trabalham e não têm onde deixar seus filhos. Há, mas há também aquelas que passam bem longe do trabalho. As que aproveitam suas tardes, principalmente, para piscina, passear em shopping e algumas até para aventuras com seus amantes. Creche se tornou depósito de crianças.

Respeito a professores é coisa do passado. Muitos, além de ouvirem desaforos, ainda são agredidos por alunos mais exaltados. Esforço é algo que não existe, pois em alguns estados existe a aprovação automática. Ou seja, o aluno passa de ano sem precisar estudar. Transforma-se num jumento exemplar. E até os mal educados pais vão à escola. Para brigar com o professor ou diretor.

Assim, chegamos ao que temos nos dias atuais. Jornalistas mal formados que não informam. Uma repórter da Globonews, por exemplo, noticiou a morte de uma pessoa devido à Covid. E afirmou: Ela havia tomado as três doses da vacina, mas se não tivesse tomado poderia ter sido pior. Será que há algo pior do que a morte? Engenheiros constroem prédios que caem, médicos não conseguem diagnosticar nada se não tiver um exame de laboratório e por aí vai.

A tendência é piorar. Nâo é preciso pensar. O computador “pensa” por nós. Não é preciso saber escrever. Os programas de computador e dos celulares têm corretor ortográfico. Não é preciso saber fazer contas – as calculadoras estão em tudo. Não é necessário saber História. O Google tem tudo. Nem é preciso estudar outras línguas. O Google tem tradutor.

Só uma coisa é certa: no dia em que pintarem a grama de azul muita gente vai morrer de fome.

Anselmo Brombal – Jornalista

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