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domingo, 24 novembro, 2024

‘A vacina é verdadeira, mas a mão que me aplicou não é’

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“A vacina é verdadeira, mas a mão que me aplicou não é. Essa sensação foi muito forte para mim. De estar recebendo uma vacina pela mão de um representante do governo que não fala bem da vacina, que não defende a máscara, que não defende o distanciamento social. Soa muito falso.”

O desabafo é da escritora Conceição Campos, a primeira imunizada da campanha PaqueTá Vacinada, neste domingo (20). A ação de vacinação em massa dos adultos do bairro Paquetá, no Rio de Janeiro, levou o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, à ilha — e coube a ele aplicar a dose em Conceição.

A escritora contou que chegou a manifestar a Queiroga o mal-estar que sentia por ter sido por ele imunizada.

“Depois de ser vacinada por ele e ouvi-lo, no discurso, dizendo algo como ‘Eu salvava vidas com cateter, agora salvo com vacinas’, eu levantei para ir embora. Ele se aproximou, tocando no meu ombro, e perguntou: ‘Você está feliz?’ Eu dei um passo para trás e respondi: ‘Estou feliz pela vacina, mas não queria ter sido vacinada por você. Preferia ter sido vacinada por ela’ — e apontei para a Dra. Margareth Dalcomo, que estava ali junto e vacinou a outra moradora. E fui embora”, narrou.

Conceição disse ter tido “a febre mais feliz da vida” como reação após tomar a primeira dose da vacina — o que é normal. “E dor de cabeça, mas já está passando”, emendou. Todos os moradores de Paquetá tomaram a AstraZeneca.

A moradora da ilha disse ainda que o filho mais velho, Januário, de 19 anos, também foi imunizado neste domingo. Pela calendário da prefeitura sem o estudo com a vacinação em massa na ilha, essa dose só chegaria a ele no fim de agosto.

“E o meu mais novo, de 17, provavelmente será imunizado em breve também. A pesquisa está prevendo essa possibilidade”, emendou.

“Ainda estamos em estado de graça! Os números da vacinação, somados com os da coleta de sangue e da testagem rápida para crianças e jovens, deixaram os pesquisadores muito contentes, e nós mais ainda”, destacou.

Conceição faz parte da diretoria da Morena, associação de moradores da Ilha de Paquetá. Segundo ela, iniciativas como a pesquisa ajudam a aflorar o espírito de solidariedade dos moradores da ilha, que aderiram em massa ao projeto. Ela também se solidarizou com as famílias das 500 mil vítimas da Covid no Brasil.

“Eu acho que Paquetá é um bairro especial porque tem um sentimento de ilha. [O] sentimento de solidariedade é muito forte. Você precisa do seu vizinho. Quando você instala em Paquetá um projeto desses, a sensação de solidariedade explode. Então as pessoas foram para a coleta de sangue, foram para ajudar. Uma sensação muito forte de estar ajudando o outro”, disse Conceição.

A solidariedade citada por ela é refletida nos números. De acordo com o secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, houve a adesão de 70% dos paquetaenses aos testes sorológicos e à vacinação.

No evento em que Conceição foi vacinada, o ministro Marcelo Queiroga voltou a prometer a imunização de todos os brasileiros com mais de 18 anos com as duas doses até o fim do ano. Ele destacou que a vacinação é a esperança para acabar com a pandemia. Ele também lamentou as mortes pela doença e se solidarizou com quem está em tratamento. Para ele, o problema não é apenas brasileiro, mas uma emergência global.

“O programa nacional de imunização brasileiro é um dos mais respeitados do mundo. Temos a capacidade de vacinar 2,4 milhões de brasileiros por dia”, disse o ministro.

A campanha da vacinação em massa em Paquetá foi uma parceria entre a Prefeitura do Rio de Janeiro e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 1,6 mil moradores com mais de 18 anos da Ilha de Paquetá foram vacinados.

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