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sexta-feira, 26 abril, 2024

Gonorréia coletiva

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Há muito tempo a rapaziada andava de olho em Camilinha. Moçoila bonita, de vinte e poucos anos, chamava a atenção pelo tamanho e beleza da bunda. Não era uma bunda qualquer – era a bunda. Pouco se sabia sobre ela, e esse pouco corria na boca de todo mundo: ela trabalhava em São Paulo, tinha estudado até o terceiro colegial e havia sido namorada do Renato, um sujeito bem de vida, filho de pais abastados. Mas Renato havia morrido num acidente, e foi então que Camilinha foi trabalhar na Capital.

Nos fins de semana, quando ela visitava a família em sua cidade, Camilinha era o assunto do dia. Ou melhor, da noite, entre a rapaziada que andava na secura. Faltava mulher naquela cidade, e era um tempo em que havia mulher pra namorar e casar, mulher pra tirar um sarro e mulher pra comer. As últimas andavam em falta.

Até que um dia o Jorge, o mais velho da turma, foi à Capital a serviço. Terminou tudo bem cedo e resolveu aproveitar uma das casas de massagem da época, no oitavo andar de um prédio na avenida Paulista. Casa de massagem era fachada – na realidade, um puteiro de luxo. Achou a casa em classificado de jornal e para lá foi. E lá viu Camilinha trabalhando. Como se conheciam, a trepada foi na base do amor, sem cobrança do michê, com a promessa de manter segredo.

Voltando para sua cidade, a primeira coisa que Jorge fez foi telefonar para os amigos e contar o que havia acontecido naquela tarde. Camilinha… quem diria? Jorge contou os detalhes, deixou a rapaziada ouriçada e resolveram propor à ela, no fim de semana, uma trepada coletiva. Jorge foi o porta-voz da turma. Falou com ela na sexta à noite e marcaram para o sábado. Coletiva tudo bem, mas um de cada vez.

No sábado esperaram o pai de Otero dormir embriagado. Era uma rotina – o velho enchia a cara a tarde inteira, e lá pelas seis aterrava, desmaiava na cama e só acordava na manhã seguinte. Jorge ajudou Otero tirar o carro do pai da garagem, e a uns cinquenta metros da casa ligaram o motor. Passaram pelo bar do Chico e apanharam os demais aventureiros, Odilon e João Paulo. Depois os quatro foram para a praça, em frente a igreja, apanhar Camilinha, como havia sido combinado. Otero dirigia, e como tal, tinha direito a ser o primeiro a comer a moçoila. Jorge, que havia arranjado tudo, foi o segundo. Odilon e João Paulo disputaram a vez no palitinho – João Paulo ganhou, e seria o terceiro.

Com Camilinha no banco de trás do Oldsmobile, foram para um eucaliptal que todos conheciam. Era o abatedouro da rapaziada. Otero estacionou o carro, e pra não deixar marcas, combinaram que a farra seria feita fora do carro. Desceram Otero e Camilinha, andaram uns metros e se enfiaram entre as árvores. Seria em pé mesmo. Otero voltou satisfeito para o carro 15 minutos depois e avisou que era a vez do Jorge, que foi correndo em direção a Camilinha. Estava em ponto de bala, só de lembrar daquela tarde no puteiro da Capital. Não demorou dez minutos.

Então foi a vez de João Paulo. Calmamente se dirigiu às árvores onde Camilinha, pelada, já o esperava. João Paulo demorou quase meia hora para se dar por satisfeito. Do carro os demais ouviam seus urros e gemidos. Até que ele voltou. Nessa hora, Camilinha saiu das árvores e colocou-se em frente ao carro. Queria se limpar um pouco sob a luz da lanterna do farol do carro. Lá dentro, Odilon viu a cena e ficou enojado vendo tudo aquilo escorrendo pelas pernas de Camilinha. Foi então que avisou que não iria comer a moçoila, embora já tivesse dado sua parte para pagar a aventura. Melhor perder, pensou ele.

Camilinha foi deixada na praça e os quatro foram para o bar do Chico tomar a saideira. Odilon foi chamado de broxa, de pato, de impotente por ter negado fogo. A gozação continuou durante a semana, e sua história passou para outros grupos. Zoeira total. Começaram a chamá-lo de Odilon Pau Mole. Até que na sexta-feira os amigos não apareceram no bar do Chico. Odilon tomou sua cerveja sozinho. No sábado, descobriu o porquê da ausência dos amigos.

Conversando com o farmacêutico, Odilon ficou sabendo que os três estavam tomando injeção de Benzetacil e tomando Tetrex. Os três estavam com gonorréia, curada após o tratamento recomendando pelo farmacêutico. Nas semanas seguintes, Odilon passou de Pau Mole a Previdente, Prudente, Visionário. Dos quatro, o único que não pegou gonorréia. Gonorréia coletiva, diga-se de passagem. E até hoje a história é lembrada quando os quatro se encontram. Camilinha morreu dois anos depois por causa de uma facada dada por um cliente insatisfeito. Nenhum dos quatro foi ao enterro.

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