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sexta-feira, 26 abril, 2024

Otacílio pé-de-mesa

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Seu nome era pouco comum, e o apelido menos ainda. Apelido dado por uma das quengas da zona de sua cidade, assustada com o tamanho do membro do rapaz. Tinha muitos amigos, mas a mulherada evitava como podia ir pra cama com ele – dizia-se que após o ato, era ou farmácia ou hospital. Quengas mais velhas nada falavam às recém-chegadas; elas que tivessem sua própria experiência (dolorosa) com aquele jumento.

E assim, entre joguinhos de sinuca no Bar do Mané e generosas doses de cachaça, Otacílio ia vivendo. Ia à zona só pra farrear; quase impossível arrumar uma corajosa para enfrentar seu instrumento. Até que um dia, chegou Maria Aparecida, que na zona passou a se chamar Rosana. Vinha de MInas, com a fama de ser uma dadeira e tanto. Em sua mala, trouxe calcinhas e camisolas que as demais putas não tinham acesso por serem caras. Otacílio e Rosana se encontraram numa noite qualquer, tomaram umas cervejas e foram para o quarto.

A casa inteira na expectativa. Será que Rosana iria aguentar o tranco? E depois daquilo, seria levada para um hospital ou o seu Florindo, o farmacêutico, poderia dar um jeito. O tempo passou, e nada de Rosana dar seu berro de agonia. Nem gemidos se ouvia – e os poucos que eram ouvidos eram de satisfação, gemidos por Otacílio.

Quando a porta se abriu, decepção. Otacílio e Rosana estavam sorrindo, quase enamorados. Ela o levou até a porta, abraçou-o e deu-lhe um tremendo beijo de despedida. E curiosidade mata. Tão logo se recompôs, Rosana aquietou-se no balcão da casa e pediu uma cerveja. Não mostrava nenhum arrependimento de ter se deitado com o Pé-de-Mesa. Ao contrário, disse às quengas curiosas que ele voltaria daí a dois dias. As mais maldosas comentaram que ela estava arrombada.

Mas foi Mariana, sua companheira de quarto, a primeira a saber do segredo de Rosana. Passava das três da manhã, não havia mais clientes, e Albertina – a dona Tina – cafetina e dona do puteiro, deu o expediente por encerrado. Aos cochichos, cada uma em sua cama, Rosana e Mariana tiveram uma longa conversa. Rosana se queixou da maldades das amigas de putaria, do fato delas falarem que ela estava arrombada, de ter ficado com uma generosa caixinha dada por Otacílio.

Com todo o cuidado do mundo, Mariana foi lhe fazendo perguntas (todas respondidas) até chegar no tal segredo: Como você conseguiu transar com um jumento daqueles? Rosana riu e passou a explicar seus truques para Mariana.

“Dentro do quarto – disse ela – quem tem o controle da situação é a mulher. O homem faz o que a gente manda. Precisa ter jeitinho e levar a situação para onde interessa. Quando vi o Otacílio pelado, com aquela mangueira pendurada entre as pernas, confesso que fiquei assustada. Assustada e brava, porque essas filhas da puta poderiam ter me avisado. Mas elas apostaram que eu ia me foder. Dei uma alisada na coisa, e comecei a falar pra ele que seria um desperdício ele tentar me comer – nós dois nos machucaríamos, pois eu era apertada pra aguentar tudo aquilo. Parti prum boquete suave, junto com as mãos, e fiz ele gozar desse jeito. Ele gostou muito. E até confessou que sempre que arrombava alguma mulher saía todo esfolado, que levava tempo para se curar. Gostou tanto que vai voltar depois de amanhã”.

Otacílio voltou na noite combinada e cumpriu o ritual – uma cerveja no balcão com Rosana e depois quarto. Ninguém entendia nada, o silêncio e os parcos gemidos de Otacílio. Só Mariana sabia – e imaginava – o que estava se passando. Novamente os dois saíram do quarto, sorrindo, foram até a porta e outro beijo de despedida. Nesse meio tempo, outro cliente, um fazendeiro pouco dotado, mas louco por sexo anal, procurou Mariana. Ela levou-o para o quarto e contou a mesma história, de se machucar, de se esfolar, do tempo de recuperação, e propôs o boquete. O fazendeiro adorou.

Mariana então resolveu contar a história para todo o puteiro. E todas entenderam que era mais prático e rápido uma escovada nos dentes depois do programa do que ir para o chuveiro. A fama das quengas se espalhou, e meses depois dona Tina precisou mudar a placa em frente a casa, que ficou conhecida como o Paraíso do Boquete. Graças à Rosana e Otacílio, cuja lembrança está numa fotografia atrás do balcão. Literalmente, a propaganda boca-a-boca ainda é a melhor.

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