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sexta-feira, 26 abril, 2024

Por que mulheres têm sobrenome do marido?

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Não importa se Silva, se Souza, se Rodrigues – maioria das mulheres adota o sobrenome do marido quando casam. Seria uma tradição inofensiva ao feminismo

É de praxe. Mulher, quando casa, precisa trocar de carteira de identidade (RG). Apresenta a certidão de casamento do cartório, e pronto – lá está um Silva, um Souza acrescentado ao seu nome de solteira. Mesmo numa época em que há independência, em que o feminismo anda em alta, a tradição continua firme e forte. Não só no Brasil, mas quase em todo o mundo.

NOs Estados Unidos, segundo uma pesquisa recente, 70% das mulheres acrescentam o sobrenome do marido em suas identidades. Na Inglaterra, chega a 90%. Antes era 100%, quase uma obrigação. Nos Estados Unidos, 68% das mulheres com menos de 30 anos se acham feministas. Na Inglaterra, pouco menos – 60%.

“É surpreendente tantas mulheres adotarem o nome de homem, já que isso que vem da história patriarcal, da idéia de que uma mulher, com o casamento, passou a ser um bem do homem”, afirma Simon Duncan, professor da Universidade de Bradford, na Inglaterra, que estuda vida familiar e tem pesquisado especificamente a adoção de sobrenomes dos homens. Ele descreve a tradição como arraigada na maioria dos países de língua inglesa, embora o conceito de possuir esposas tenha sido abandonado há mais de um século na Inglaterra. Atualmente, tampouco há uma exigência legal para a incorporação do nome de um homem.

Boa parte da Europa também segue o mesmo padrão — exceções incluem a Espanha e Islândia, onde as mulheres tendem a manter seus nomes de nascimento quando se casam, e a Grécia, que tornou em 1983 uma exigência legal que as mulheres mantenham seus nomes por toda a vida. Na Noruega, classificada como um dos países com maior igualdade de gênero e que tem tradição menos patriarcal, a maioria das mulheres casadas ainda usa o nome do marido. Lá, no entanto, metade daquelas que incorporam o nome do marido mantêm o nome de solteira no meio, que funciona como um sobrenome secundário.

Existem vários motivos particulares pelos quais uma mulher pode querer deixar seu nome de solteira, desde não gostar de como ele soa até querer se dissociar de membros ausentes ou abusivos da família. Mas, por meio de uma revisão dos estudos já feitos e de entrevistas detalhadas com casais recém-casados e noivos na Inglaterra e na Noruega, a equipe de Duncan identificou duas motivações principais que impulsionam a tradição.

A primeira foi a persistência do poder patriarcal, fosse isso óbvio para os casais ou não. A segunda, o ideal da boa família — como se ter o mesmo nome do parceiro simbolizasse compromisso e unisse o casal e filhos em potencial como uma coisa só. Alguns casais simplesmente incorporaram a prática sem pensar muito sobre o assunto, simplesmente porque é convencional, enquanto outros abraçaram ativamente a idéia de transmitir os sobrenomes deles.

A pesquisa da equipe sugere que a mudança de sobrenome das mulheres está, sem surpresa, ligada à sobrevivência de outras tradições patriarcais, como pais dando permissão a noivas e homens sendo mais propensos a pedir em casamento. Esses elementos passaram a fazer parte do pacote de casamento ideal para muitos casais. A segunda tendência central é mais sobre as percepções sociais. Eles concluíram que assumir o nome de um parceiro continua sendo visto como uma forma de mostrar seu compromisso e união para os outros. Isso quer dizer que as mulheres continuam a ser influenciadas por esses tipos de mensagens, apesar de perspectivas feministas também estarem ganhando seu espaço.

Outro argumento é que o feminismo trata basicamente de dar às mulheres liberdade de escolha. Isso significa que, desde que eles possam decidir por si mesmas, sem pressões externas, o nome que querem, não deve importar se isso está de acordo ou vai contra as normas patriarcais. Outros pesquisadores apontam para a influência da comunidade LGBTQIA, onde já tende a haver mais flexibilidade na troca de nomes.

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A Editora Urbem faz parte do Grupo Novo Dia e edita livros de diversos assuntos e também a Urbem Magazine, uma revista periódica 100% digital.
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