A Espanha era uma monarquia. Com um golpe, após a Guerra Civil, o general Francisco Franco tomou o poder, mas poupou a família real. Não mandou prender nem matar ninguém. O rei continuou sendo rei e Franco passou a ser generalíssimo durante décadas. Até que um dia a Espanha foi devolvido à família real, em 1975, com a morte de Franco. Só que pouco antes de morrer, Franco restaurou a monarquia e deixou Juan Carlos I como seu sucessor. E Juan Carlos foi rei até 2014, quando abdicou em favor de seu filho, coroado como Felipe VI. E aí começaram as suspeitas de corrupção.
Juan Carlos teria uma fortuna e tanto depositada em outros países, principalmente na Suiça. No mês passado, o rei aposentado comunicou ao filho sua decisão de sair da Espanha. O barulho sobre suas contas no exterior estava grande. Diz ele, em carta ao filho, que queria contribuir para a a tranquilidade e calma para seu filho exercer seu papel de chefe de estado. Até aí tudo bem. Só que Juan Carlos abandonou o palácio e virou pó. Há quem diga que ele esteja na República Dominicana. E há quem diga que está escondido em Dubai. Seu advogado, Javier Sánchez-Junco, divulgou um comunicado, afirmando que Juan está à disposição das autoridades que o investigam. Igual ao Brasil – o sujeito está à disposição, mas se ameaçam prender ele some.
O rei não perderá seu título, mas isso não implica nos privilégios. Os problemas de Juan Carlos I começaram em 2018, quando agentes da Polícia Judiciária suíça começaram a revistar a gestora de fundos de Arturo Fasana. Nessa investigação, Bertossa encontrou duas fundações com contas em bancos suíços. A fundação de Liechtenstein Zagatka, de Álvaro de Orleans, primo distante do rei emérito, que pagou vôos particulares de Juan Carlos I e de Corinna Larsen, e a fundação panamenha Lucum, cujo primeiro beneficiário era Juan Carlos I e o segundo, Felipe VI.
Ele poderia ser um rei brasileiro. Está envolvido num escândalo da concorrência pública quando a Espanha quis construir seus trens de alta velocidade. Hà suspeitas ainda sobre favorecimento a banqueiros e influência na escolha de construtoras em obras públicas. Por fim, o rei tem foro privilegiado, e só pode ser julgado por um tribunal equivalente ao nosso STF. O filho, o atual rei Felipe VI, tirou o seu da reta – cortou a mesada do pai de 200 mil euros anuais (equivalente a 1,25 bilhão de reais) e renunciou a qualquer herança que o pai possa lhe deixar no exterior.