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sexta-feira, 3 maio, 2024

Cleide, apaixonada pela aviação

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Há mais ou menos 21 anos, Cleide Bazanelli iniciou a operação do Hangar 1 em Jundiaí. A homologação foi em novembro de 1999. Desde aquela época ela acreditava que Jundiaí ganharia importância no mundo da aviação executiva, o que acabou se tornando realidade. Hoje o Hangar 1 é referência em manutenção de aeronaves e o modo como Cleide montou o negócio – tem até lareira – fez outros empresários da área mudar seus conceitos.

Nascida em Rio das Pedras, interior paulista, viveu até os 19 anos em Piracicaba, quando então se mudou para a Capital. É primogênita (tem quatro irmãos homens) do casal Neide Soave e Mauro Bazanelli.

Divorciada, tem um filho que mora nos Estados Unidos, casada com uma italiana, que a presenteou-a no final de junho com uma neta “linda e encantadora”, como diz. Determinada e corajosa (“sou ariana”, diz ela) não tem medo de desafios. Um deles aconteceu em 1985 – fez o vôo São Paulo-Miami-São Paulo a bordo de um monomotor, cujo prefixo ainda está em suas lembranças: PT-RRI (“uma experiência maravilhosa e inesquecível”, afirma).

Em 1999 entrou pra valer no negócio que tinha algum conhecimento, a Aviação Executiva. Até então ela era uma usuária; a partir daí se tornou profissional. Em novembro daquela ano homologou a empresa Hangar 1 Manutenção de Aeronaves no Aeroporto de Jundiaí, no segmento de manutenção. Começou com manutenção em aeronaves Lear Jet das séries 20 e 30 e em seguida com o Astra G-100. Em 2012 o hangar foi ampliado (é um dos maiores de Jundiaí, com 11 mil metros quadrados) e deixou a manutenção, dedicando-se à hangaragem e FBO (Fixed Base Operator – que oferece aos pilotos e passageiros o suporte em terra, autorização para pouso, hangaragem, traslado para hotel ou outro lugar e cuida ainda da manutenção da aeronave em solo, abastecimento, limpeza, catering etc. Para isso, conta com espaços distintos para passageiros e tripulantes, pois estes últimos costumam ficar por mais horas no mesmo lugar, o que exige maior suporte de descanso e de comunicação). Cleide faz parte da Associação dos Arrendatários e Usuários do Aeroporto de Jundiaí desde que chegou à cidade, trabalhando nos interesses da comunidade do aeroporto. Nesta semana, ela falou à Urbem Magazine:

Quando surgiu o interesse pela aviação?

Sempre foi uma paixão, mas se intensificou quando conheci meu ex-marido, piloto e proprietário de aeronave.

Num meio dominado por homens, é difícil trabalhar em condições iguais?

Nem sempre foi fácil. Na época – 1999 – um mundo praticamente masculino, num aeroporto do interior, que contava com cinco hangares, e um aeroclube, e mais nada. E aí, chega uma mulher e loira…..para realizar inspeções e manutenção de aeronaves a jato??!!. Não foi fácil.

Porém, aos poucos, fui me estabelecendo com profissionalismo, e contando com a colaboração de uma equipe nota mil nesse desafio, e juntos alcançamos o reconhecimento e respeito.

Quando você se apresenta como a responsável por um hangar, as pessoas estranham ou aceitam naturalmente?

Sim, hoje aceitam naturalmente, e tenho o respeito e carinho de todos. O Hangar 1 é referência de modelo, e atendimento. O Hangar 1, chegou para ser diferente, e é. Temos uma área de 11.000m², sendo de pátio de manobra 5.000m², com balizamento noturno. Temos salas vip com lareira (única no Brasil), e uma arquitetura que fugiu da mesmice de hangares, o que fez os colegas da área rever o conceito de construção, e outros a melhorar suas estruturas. Tenho uma equipe fantástica, bem treinada, certificada, integrada, que faz a diferença no atendimento.

Já participou de reuniões com autoridades de órgãos como a Anac ou Daesp? Havia mais mulheres responsáveis por hangares?

Já. Muitas vezes, Daesp, Anac, Voa-SP, Prefeitura, Governo….Até pouco tempo atrás, eu era a loira do Hangar 1, como mulher nessas reuniões, hoje temos outras mulheres maravilhosas e competentíssimas, atuando fortemente na area de aviação executiva ou comercial, seja em hangaragens, na manutenção, na venda de aeronaves, comandantes, e por ai vai.

Desde quando está no Hangar 1? A empresa tem outros hangares em outros aeroportos?

Desde os primeiros passos para iniciar a Empresa. Cuidei pessoalmente da homologação da empresa.

Quando o Hangar 1 se instalou em Jundiaí?

O Hangar 1 nasceu em 1.999, com sede em Jundiai. Não temos outras unidades.

Qual a principal atividade da empresa – manutenção, taxi aéreo, venda de aeronaves?

Hoje, trabalhamos nos atendimentos aeroportuários, hangaragem, limpeza interna e externa, FBO, e assessoria na compra e venda de aeronaves. E recentemente, estamos contando com uma Empresa de Taxi Aéreo e Aeromédico nas instalações do Hangar 1. Faltava esse serviço em Jundiai. E a AllJet, veio para completar as atividades no nosso aeroporto.

Qual a frota da empresa – e quais aeronaves?

O Hangar 1 não tem aeronaves, mas contamos com aproximadamente 14 aeronaves privadas no hangar, mais os atendimentos avulsos.

A privatização do aeroporto de Jundiaí foi benéfica? Melhorou a operação?

A este ponto creio já estar provado que a administração privada tem sido muitíssimo melhor do que a do estado. Por anos sofremos com problemas básicos de conservação do aeroporto, que chegou a nos levar a interdição da operação por absoluto descaso e ou incompetência do administrador estatal.

A pandemia afetou os negócios da aviação? Se afetou, até que ponto? Há algum exemplo?

Afetou sim e a queda no movimento do aeroporto, bem como dos negócios das empresas instaladas, foi muito afetado. O exemplo fica claro levantando-se o número de operações de pouso e decolagem no período se comparado com outros períodos.

Qual o número aproximado de horas voadas antes da pandemia? E agora?

Cada operador tem sua operação dosada pelo seu tipo de negócio. Difícil responder objetivamente esta questão. Com certeza houve uma queda muito grande no número de horas voadas.

No seu entender, qual o principal problema da aviação? Os taxis clandestinos, o preço do combustível, ou a falta de mão de obra especializada?

O custo com o cumprimento da extensa regulamentação imposta pela Anac e Decea é um dos grandes problemas que se aliam ao custo do combustível, e neste momento até mesmo ao câmbio do dolar, moeda que rege toda a operação da aviação. No dia 10 de agosto deste ano, por exemplo, um litro de gasolina de aviação estava custando R$ 8,80 e o litro do querosene (usado em jatos) R$ 4,40.

Quanto de combustível um avião do porte de um Lear Jet ou Cessna carrega para poder fazer uma viagem segura?

O combustível que qualquer aeronave carrega é sempre o volume necessário ao cumprimento do vôo com toda segurança. Esse volume varia muito de uma aeronave para outra, mas o fator segurança é o que se leva em conta.

A maioria das aeronaves atuais é a jato ou turbofan. Os aviões com motores de pistão têm futuro?

Existe um grande número de aeronaves a reação (jato/turbofan) operando no Brasil e Jundiai se inclui nisso. Por muitas décadas, ainda se verá aeronaves a pistão operando mundo afora. Não há dúvida que a tecnologia tem mostrado evolução constante na aviação de forma geral, e que a eletricidade deverá começar a aparecer como fonte de energia nesse nosso ramo de transporte.

Na sua opinião, Jundiaí pode ser uma alternativa à aviação comercial, com linhas regulares?

Na minha opinião a vocação do aeroporto é para atendimento da aviação geral, entretanto tem sido discutido pelo atual administrador Voa-SP, em trazer a aviação comercial regional para nosso aeroporto.

O que é mais transportado? Cargas ou passageiros?

Com certeza passageiros. O segmento de cargas é grande, e a atividade cresce muito nesse momento.

Você pilota? Se não, como faz para se entender com pilotos, copilotos e mecânicos?

Já pilotei, hoje não mais. Tenho um relacionamento muito bom profissional e de respeito, com todos eles, seja na área de manutenção ou tripulação. Respeito é fundamental, então tudo flui com naturalidade, assim como eles, amo o que faço.

Fora do hangar (trabalho), o que faz em seu tempo livre?

Adoro viajar, ler e assistir um filme. Amo estar com meus amigos. Tenho um trabalho voluntario, do qual me orgulho muitíssimo, e que me faz feliz.

Qual o segredo para estar sempre sorridente e otimista?

Como disse certa vez Oscar Wild Estamos todos na sarjeta, mas alguns de nós estão olhando as estrelas. O segredo da atitude positiva é começar com uma postura positiva. Sou feliz e vivo o presente. Sou grata por tudo o que tenho. Concentro minha vida no que realmente é importante e essencial. Ser de bem com a vida, e não ter medo de ser feliz.

Urbem
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A Editora Urbem faz parte do Grupo Novo Dia e edita livros de diversos assuntos e também a Urbem Magazine, uma revista periódica 100% digital.
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