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sexta-feira, 22 novembro, 2024

Pouca gente está sorrindo em obras de arte

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Para a humanidade, sorriso é sinônimo de naturalidade e simpatia. Mas na história da arte, a coisa é diferente. Basta olhar os museus e exposições – raramente os personagens retratados estão sorrindo. A maioria está sisuda, não importa a época em que os quadros foram pintados. E aí vem a pergunta: por que não há sorrisos nos museus? Críticos analisaram tudo isso e tiveram explicações que não explicam nada. Uma das hipóteses é que alguém posando para uma pintura precisava ficar horas imóvel. Ou até mesmo dias., O que torna impossível manter um sorriso durante tanto tempo. O artista e escritor Nicholas Jeeves em um artigo sobre o assunto, afirma que um sorriso se parece bastante com um rubor, na medida em que é uma reação impossível de manter no tempo.

Outra explicação é a variação das poses durante o tempo. No século 17, aristocratas, que normalmente financiavam os pintores, associavam o sorriso amplo às classes sociais inferiores, como atores ou bêbados. Velasquez deixou para a história essa situação com seu quadro O Triunfo de Baco. Aristocratas preferiam poses solenes, sérias e impositivas. Pintores holandeses preferiam retratar as camadas mais baixas da sociedade, e lá colocavam sorrisos. O próprio Rembrandt se retratou sorrindo – seria ele o precursos de nossas selfies?

Há outra questão, abordada pelo historiador Colin Jones – a falta de higiene bucal no século 17. Nesse caso, era melhor não mostrar os dentes mesmo. O Autorretrato de Marie Louise Élisabeth Vigée-Lebrun com sua filha, de 1786, é revolucionário porque é um dos primeiros que deixam escapar um leve sorriso. Há outras exceções – Antonello di Messina, um pintor italiano da época do Renascimento, deixou seus retratados commeios sorrisos. Uma de suas pinturas, Retrato de Marinheiro Desconhecido, foi durante muito tempo o sorriso mais enigmático, até ser desbancado por Mona Lisa.

Mona Lisa foi pintada por Leonardo Da Vinci no início do século 15, mas começou a chamar atenção pra valer no século 19. Hoje é o sorriso mais conhecido na história da arte, que também tem explicações que não convencem – em 2018, um cientista afirmou que a expressão de Mona Lisa era resultado de uma doença na tireóide, que a obrigava a se manter daquele jeito. Por sinal, em quem Da Vinci se inspirou para pintar Mona Lisa? Outras explicações. A mais aceita é que um rico cidadão de Florença, Francesco Del Giocondo, teria encomandado o retrato de sua esposa, Lisa, a Leonardo Da Vinci. Daí teria vindo seu primeiro nome, La Gioconda.

No século 20, os pintores começaram a dar mais valor ao sorriso em suas obras. Mas alguns com más intenções, como o expressionista abstrato Willem de Kooning – ele usou o sorriso em pinturas de mulheres fugindo ao tradicional tipo de Vênus. O sorriso era só para expressar sua ferocidade. A fotografia mudou tudo isso, embora as mais antigas ainda tenham gente de cara fechada – basta ver álbuns de família. A popularização dos celulares – e consequentemente das selfies – devolveu o sorriso. Dificilmente alguém encontrará uma foto de pessoa em sua seriedade nas redes sociais. Em redes sociais, Facebook, por exemplo, todo mundo está sorrindo e o mundo é cor de rosa.

Uma confirmação histórica

Em 2005, um pesquisador e especialista da biblioteca da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, descobriu uma anotação num canto de margem de um livro sobre Cícero, na coleção da livraria, que confirmava a visão tradicional de que Lisa era a retratada no quadro. Na anotação, datada de 1503, um oficial da chancelaria florentina, Agostino Vespucci, comparava Da Vinci ao pintor clássico Apeles e comentava que ele no momento pintava o retrato de Lisa del Giocondo, permitindo ligar a data à obra de arte com exatidão.

A pintura, oficialmente catalogada e anunciada pelo Museu do Louvre como Lisa Gherardini, mulher de Francesco del Giocondo, está em custódia da França desde o século 16, quando foi comprada pelo rei Francisco Iº, um patrono das artes; após a Revolução Francesa em 1789, a obra se tornou patrimônio do povo francês.

Em fevereiro de 2014, investigadores italianos começaram a efetuar testes de DNA a ossos que se pensa serem de Lisa Gherardini. O esqueleto analisado foi encontrado em 2013 no convento de Sant’Orsola, onde se supõe  que Lisa Gherardini teria morrido no ano de 1551. Atualmente, seis milhões de pessoas visitam por ano a pintura no Louvre, onde ela faz parte da coleção nacional francesa. Antes da pandemia, bem entendido.

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