O assunto é chato mas necessário. Se depender do comportamento de boa parte da população, essa pandemia ainda vai durar muito tempo. Não são poucos os que não levam a sério recomendações básicas e cuidados maius que evidentes. Para muitas pessoas, a pandemia não é problema nosso, cientistas e médicos não sabem o que dizem e basta confiar em Deus que não acontece nada.
Não é bem assim. Está mais que provado que o coronavírus está se espalhando mais depressa que o esperado. E isso por que? Porque parece que boa parte da população tem necessidade de passear. Bastou o comércio ser reaberto com restrições para as ruas ficarem lotadas, como na semana que antecede o Natal. Havia necessidade imediata de compras? Certamente não.
Não faltam recomendações para quem precisa ir ao supermercado. Ir sozinho, ou sozinha, evitar levar crianças e idosos. E o que vemos nos supermercados? Famílias inteiras passeando. Ir ao supermercado virou programa. Nas ruas, a maioria das pessoas está com máscara. Mas essa maioria também faz coisas absurdas, como o encontro de duas conhecidas, com máscaras, tiradas para o abraço e o beijo no rosto. Ou gente que finge limpar as mãos com álcool em gel na entrada de supermercados.
O desrespeito é maior em bairros mais afastados. Bares funcionam disfarçadamente, com seus balcões lotados de cervejeiros e cachaceiros. São Paulo reabriu bares, restaurantes e salões de beleza. Em Brasília, um grupo de jovens foi flagrado num parque fazendo sexo grupal. Praias voltaram a ficar lotadas em finais de semana de sol.
Os hospitais continuam cheios de doentes. A imprensa toda noticia novos casos, novos problemas. Mas não adianta. Para muita gente, pandemia é coisa de americano o chinês. Que mal há em levar as crianças passearem no supermercado? Que mal há em andar sem máscara? Que mal há em frequentar o boteco entrando pela porta dos fundos?
O governo tem sua parte de responsabilidade nesse caos em que estamos vivendo. Se o vírus circulava desde novembro, melhor seria não ter havido carnaval. Mas a maior responsabilidade, agora, é da população. Se o perigo está aí, não adianta procurar culpados. Do jeito que a população está se comportando, provavelmente não teremos Natal, carnaval, futebol, bailes e jantares pelos próximos dez anos. Se até lá todos estiverem vivos. O que é improvável.