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quinta-feira, 21 novembro, 2024

Hormônio do amor pode prevenir surgimento de osteoporose

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Estudo da Unesp em Araçatuba indica que ocitocina (também conhecida como hormônio do amor) pode ser aliada na prevenção da doença

A ocitocina, produzida pelo hipotálamo – também conhecida como hormônio do amor porque liberada em presença de parceiros – pode ser também forte aliada no controle e na prevenção da osteoporose. Estudo feito em ratas no fim do período fértil, na Universidade Estadual Paulista (Unesp), mostrou que o hormônio reverteu fatores que antecedem a osteoporose, como a diminuição da densidade e da resistência óssea e também de substâncias que favorecem a formação do osso.

“Nosso estudo tem como enfoque a prevenção da osteoporose primária; por isso investigamos mecanismos fisiológicos que ocorrem no período pré-menopausa. Nessa etapa da vida da mulher, medidas de prevenção podem evitar que os ossos se tornem frágeis e que ocorram fraturas, o que poderia reduzir a qualidade e a expectativa de vida”, explica Rita Menegati Dornelles, coordenadora do Laboratório de Fisiologia Endócrina e Envelhecimento do Departamento de Ciências Básicas da Unesp em Araçatuba. O estudo, publicado na Scientific Reports, foi apoiado pela Fapesp.

Rita ressalta que existem dois marcos hormonais importantes na vida da mulher: a puberdade e a perimenopausa (transição para a menopausa, que pode durar vários anos). Esses eventos marcam respectivamente o início e o término do período de fertilidade. “Estuda-se muito a pós-menopausa, quando a mulher deixa de menstruar. No entanto, as oscilações hormonais que ocorrem antes, na perimenopausa, já são bastante fortes e estão relacionadas com a diminuição gradual da densidade óssea. É preciso haver estudos visando a prevenção da osteoporose nessa fase, pois o período após a menopausa representa um terço da vida e deve ser vivido com qualidade” diz ela.

No estudo, os pesquisadores aplicaram apenas duas doses do hormônio ocitocina – com 12 horas de diferença entre uma injeção e outra – em um grupo de 10 ratas Wistar. Os animais tinham 18 meses de vida, algo incomum para estudos de laboratório, pois as pesquisas geralmente são realizadas com animais jovens submetidas a ovariectomia. Em média, ratos de laboratório vivem três anos. As fêmeas do estudo estavam no período da periestropausa, equivalente à perimenopausa humana, e em processo natural do envelhecimento. Após 35 dias de tratamento com ocitocina, foram analisadas amostras de sangue e do colo do fêmur dos animais. Houve também comparação desses dados com os de outras 10 ratas, também com 18 meses de vida, que não receberam o hormônio.

Na comparação, os animais que receberam as doses de ocitocina apresentaram estrutura óssea sem sinais de osteopenia (perda de densidade óssea). O quadro foi diferente no grupo controle. “A ocitocina ajuda a modular o ciclo de remodelação óssea das ratas senescentes. Os animais que receberam o hormônio tiveram aumento dos marcadores bioquímicos associados à renovação do osso, como a expressão de proteínas que favorecem a formação e a mineralização óssea”, afirma Rita Dornelles.

Na análise das amostras de sangue, foi possível observar maior presença de biomarcadores ósseos sistêmicos importantes, como a atividade da fosfatase alcalina. “Produzida por células osteogênicas, a substância está associada ao processo de mineralização. Observamos também redução de outra enzima (TRAP) associada à reabsorção óssea”, explica ela. As ratas que receberam ocitocina apresentaram ossos mais densos. “Verificamos que a região do colo do fêmur estava mais resistente, com menor porosidade, melhor resposta biomecânica de compressão, além de apresentar propriedades físico-químicas que garantiam maior densidade”.

A ocitocina é um hormônio produzido no hipotálamo e foi caracterizada no início do século passado tendo sua liberação associada sobretudo, ao parto e à amamentação. Estudos mais recentes mostraram que um número grande de células (além das hipotalâmicas) também secretam o hormônio. “A ocitocina é secretada por células ósseas e nossos estudos estão evidenciando sua associação com o metabolismo ósseo de fêmeas durante o processo de envelhecimento. Geralmente, mulheres no período pós-menopausa, com maior índice de osteoporose, apresentam concentrações mais baixas de ocitocina no plasma sanguíneo”, diz Dornelles. O grupo de pesquisadores da Unesp trabalha há 10 anos em estudos sobre o envolvimento da ocitocina no metabolismo ósseo.

De acordo com projeções da Organização Mundial de Saúde, haverá aumento de 630% das fraturas de quadril (associadas à osteoporose) no Brasil, enquanto nos países desenvolvidos o aumento esperado será de 50%. No estudo, os pesquisadores analisaram especificamente a região do colo do fêmur, pois as fraturas de quadril têm ocorrência três vezes maior no organismo feminino. Rita ressalta que fraturas de quadril estão associadas a altas taxas de mortalidade relatadas. Até 24% das pacientes morrem no primeiro ano após a fratura de quadril e o risco aumentado de morte pode persistir por pelo menos cinco anos. “A perda de função e de independência entre os sobreviventes é profunda.

Em torno de 40% ficam incapazes de andar de forma independente, deste total, 60% necessitam de assistência um ano depois. Menos da metade daqueles que sobrevivem à fratura de quadril recupera seu nível anterior de função”, afirma a pesquisadora.

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