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segunda-feira, 29 abril, 2024

Borboletas indicam nível de conservação da Mata Atlântica

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Pesquisa mostra locais que têm prioridade para conservação. Borboletas são consideradas indicador biológico

Ao mapear a distribuição de espécies de borboletas na Mata Atlântica, pesquisadores constataram que as regiões do bioma com maior diversidade são a Serra do Mar, a Serra da Mantiqueira, a Mata de Araucárias e algumas áreas específicas situadas no Espírito Santo, em Minas Gerais, na Bahia e em Pernambuco. De acordo com a pesquisa, esses seriam lugares prioritários para políticas de conservação.

A pesquisa também mapeou as regiões com menor número de espécies, como a bacia do Rio São Francisco. Para esses casos, foram propostas pelos cientistas medidas voltadas à restauração de serviços ecossistêmicos, ou seja, à recuperação de ao menos parte dos benefícios propiciados pelo ecossistema, como ciclagem de nutrientes, regulação do clima e da qualidade do ar, controle da erosão do solo e polinização, entre outros.

O mapeamento comprova que determinadas características da paisagem, como o percentual de cobertura florestal e a inclinação do relevo, são fatores tão importantes quanto o clima para explicar a atual distribuição das espécies de modo geral. Essa influência é bastante conhecida em estudos de microescala e para pequenos grupos de animais e vegetais, mas uma novidade em pesquisas que abrangem grandes áreas geográficas e espécies.

Ao mostrar em quais regiões do bioma o contexto paisagístico é mais relevante do que o climático, a pesquisa das universidades Estadual de Campinas (Unicamp), Estadual Paulista (Unesp) e Federal do Mato Grosso (UFMT) ressalta também o impacto da atividade humana e a importância dos remanescentes florestais para a manutenção da riqueza de espécies.

“Como muitas paisagens na Mata Atlântica já foram alteradas e os grandes centros estão próximos às regiões mais ricas em espécies, o avanço da ação humana sobre as paisagens naturais é hoje a principal ameaça à diversidade de borboletas no bioma”, afirma Jessie Pereira dos Santos, professor do Departamento de Biologia Animal do Instituto de Biologia da Unicamp.

Segundo o pesquisador, as borboletas são indicadores biológicos importantes para o diagnóstico ambiental e o monitoramento da biodiversidade. “Entender o que ocorre com elas ajuda na compreensão do que acontece no bioma como um todo e no desenho de políticas de conservação.”

O estudo mostra que os padrões de distribuição encontrados para as borboletas são parecidos com os observados em outros grupos de organismos. Esse dado reforça a existência dos centros de endemismo, que são regiões com alta diversidade e maior número de espécies exclusivas, ou seja, que não ocorrem em outros locais. A existência desses hotspots constitui uma das hipóteses da ciência para explicar a grande diversidade do bioma.

Com o mapeamento, os pesquisadores quantificaram a contribuição da paisagem e do clima na distribuição de borboletas, confirmando que a perda do hábitat natural é a principal ameaça à diversidade de espécies. O mapa principal mostra os locais em que os fatores ligados à paisagem são mais preponderantes do que o clima na perda de espécies. “Pudemos traçar um panorama sobre a distribuição da riqueza de um grupo grande de borboletas para toda a extensão da Mata Atlântica, informação até então restrita para grupos menores”, diz Santos.

Segundo André Victor Lucci Freitas, professor do Departamento de Biologia Animal da Unicamp e coautor do texto, uma das principais contribuições da pesquisa está na incorporação de métricas de paisagem, como uso da terra, a fragmentação florestal e outros processos causados pelo homem, em uma perspectiva macroecológica (a das relações entre os organismos e seu ambiente em grandes escalas espaciais). Em geral, essas métricas são usadas em estudos de menor escala. Os efeitos da modificação das paisagens, em especial, ainda careciam de estudos mais aprofundados nesse contexto. “A pesquisa mostra que a influência da paisagem é tão importante quanto a do clima para determinar a distribuição de espécies em maior escala”, afirma.

Entre borboletas presentes no bioma, as mais comuns são as Hermeuptychia, pequenas borboletas marrons comuns na cidade, em terrenos abandonados e parques. Há ainda as borboletas estaladeiras (gênero Hamadryas), observadas em parques urbanos e que são reconhecidas pelo barulho de cliques quando voam, as “borboletas azuis” (gênero Morpho) e as “borboletas coruja” (gênero Caligo e aparentadas), que possuem marcas em forma de olhos de coruja nas asas. As borboletas do coqueiro (gênero Brassolis) também são conhecidas por suas lagartas, que se alimentam de palmeiras e bananeiras. Há também espécies mais raras ou peculiares, como as do gênero Pampasatyrus.

A lista de espécies de borboletas usada no estudo é resultado do esforço de diversos pesquisadores brasileiros, com destaque para o levantamento feito por Keith S. Brown Jr., que coordenou um Projeto Temático ao Programa Biota-Fapesp relacionado ao tema. Das 279 espécies identificadas na literatura científica, 146 serviram de parâmetro para o cálculo dos modelos computacionais usados para gerar os mapas de distribuição das borboletas. Esse número se refere às espécies que tinham, pelo menos, 10 pontos de ocorrência nos remanescentes atuais da Mata Atlântica, levantados na bibliografia e também em trabalho de campo. As outras 133 espécies foram consideradas endêmicas ou raras, contadas apenas nos locais de ocorrência e depois somadas aos mapas finais de riqueza. Os resultados completos do trabalho, que contou com apoio da Fapesp, foram divulgados na revista Diversity and Distributions.

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