Segundo o levantamento, mais de 60% das favelas ficam a menos de dois quilômetros de hospitais; ao contrário do que se pensava, maioria está na região Sudeste
Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) mostra uma situação alarmante nos lares brasileiros: mais de 5 milhões de casas estão localizadas nos chamados aglomerados subnormais — caracterizados por um padrão urbanístico irregular, falta de serviços públicos essenciais e em áreas com ocupação irregular. Os dados apontam também que,de um total de 13.151 desses aglomerados, apenas 827 estariam a mais de 5 quilômetros de hospitais.
Agravados pela realidade atual, esses dados apontam grande vulnerabilidade de parcela significativa da população a sofrer mais com o novo coronavírus. A falta de infraestrutura dentro das favelas, por exemplo, torna mais difícil a higiene e o isolamento social.
Cayo Franco, gerente geral de Geografia do IBGE observa: “Há bairros pobres que não foram classificados como aglomerados subnormais, seja porque os moradores têm a posse da terra ou alguns serviços de saúde e saneamento. O que apresentamos no levantamento é a dimensão da vulnerabilidade, no caso, os mais vulneráveis dos vulneráveis”.
Apesar de o estudo mostrar que boa parte da população vive em condições precárias do ponto de vista socioeconômico e de saneamento e moradia, os dados também apontam que quase 65% dos aglomerados subnormais estão localizados a menos de 2 quilômetros de distância de hospitais. A informação não chega a ser um alívio frente à pandemia que o mundo enfrenta, uma vez que os dados não analisam se esses hospitais estão aptos ao atendimento de pacientes com a covid-19.
“A grande maioria dos aglomerados subnormais está próxima de unidades de saúde. Ou seja, o problema não é distância das unidades de saúde, mas, talvez a falta de estrutura nessas unidades. Não sabemos detalhes dessas estruturas”, explica o coordenador de Geografia e Meio Ambiente do IBGE, Cláudio Stenner.
Entre os estados com maior proporção de casas nesses aglomerados está o Amazonas, com 34,59%. Também no Norte, Belém, capital do Pará, tem mais da metade das habitações nesses locais precários, representando 55,5%. Ainda na região, Vitória do Jari, no Amapá, tem quase três quartos da população vivendo nessa realidade.
Apesar dos números altos que o norte apresenta, é no Sudeste que o número total de casas nessas condições cresce. No Rio de Janeiro são 453.571 domicílios em áreas precárias. Só para se ter uma idéia, a Rocinha, maior favela do país, tem sozinha 25,7 mil casas. Em São paulo o número é ainda maior – são 529.921. Rio das Pedras, no Rio, com 22.509, e Paraisópolis, em São Paulo, com 19.262 domicílios em aglomerados subnormais, também apresentam números altos. No centro-oeste, próximo a Brasília, também chama a atenção a comunidade do Sol Nascente, no Distrito Federal, que tem 25.441 casas.